Trilhos Serranos

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sexta, 04 outubro 2013 16:17

IGREJA MATRIZ

Escrito por 

CASTRO DAIRE

Monumento imponente, de frontispício neoclássico, ele impressiona pelo seu volume. Este templo resultou de várias fases de construção ao longo da história. O frontispício actual, de uma só torre, foi conjecturado, nos princípios do século XIX, para ter duas torres gémeas, mas uma só delas subiu ao céu, assumindo as funções de sineira. Alexandre Alves, no livro «Castro Daire» alude a um desenho datado de 1805, assinado por «Calhs. f.», letras que ele traduz por «Calheiros, fez», acrescentando que «o risco do frontispício foi alterado nalgunes pormenores , notadamente nos vãos laterais do primeiro piso, destinados, na origem, a nichos para imagens, talvez, dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo». As Invasões Francesas, primeiro, e a Revolução Liberal de 1820, depois, associadas seguramente à instabilidade política, social e económica desses tempos, fizeram com que a outra torre ficasse truncada, ao nível do entablamento geral, sempre à espera de um dia subir às alturas da irmã. Nunca subiu, até à data em que escrevo este texto, neste ano de 2013. 

Igreja-2 torres 1 igreja 1 torreNão vi o «risco» a que este autor se refere, mas vi, isso sim, uma tábua onde esse frontispício foi gravado com data de 1805. Tábua essa que ainda existia na Sacristia da Igreja em 1985, pois o então abade Adriano Monteiro, sabedor que era das minhas diligências em investigar e divulgar a história local, mostrou-me esse singular e invulgar documento. Não o tendo eu fotografado na altura e entrando posteriormente a Igreja em obras, foi durante elas que, essa «gravura» desapareceu, segundo a informação que me foi dada pelo actual abade, Carlos Caria. 

Face a esta realidade, ao desaparecimento de tão singular documento,  estando nós nos princípios do século XXI, tempo atafulhado de novas tecnologias, para que a memória desse registo se não perdesse, e os vindouros ignorassem que tal documento e projecto existiram, lembrei-me de, em colaboração com dois «arquitectos fotoschop», nomeadamente, Paulo Almeida e José Morgado, darmos fim ao projecto inacabado. Em fotografia. E fez-se o milagre. Eu munido de uma máquina fotográfica tirei as fotografias necessárias, e eles, à frente do computador, fizeram o resto. Em pouco tempo, sem o uso do moitão e das cordas, sem a cantilena dos pedreiros «oupa!, lá vai ela, oupa! pró lugar dela oupa!», como faziam os mestres de Cujó a subirem as pedras, a obra foi acabada. Aqui a temos. O frontispício, com a respectiva explicação sobreposta (não vá alguém pensar que se trata de outra igreja) apresenta as duas torres gémeas, à semelhança da gravura sobre madeira, com data de 1805, que eu vi em 1985. 

 

Graças a este meu trabalho e despesas pessoais, os actuais habitantes e visitantes da Igreja Matriz de Castro Daire, e bem assim todos os vindouros, ficarão a saber que o templo que vêem e sempre assim o conheceram, maneta e de uma só torre sineira, foi concebido para ter duas e só não ostenta ambas devido às convulsões ligadas à Guerra Peninsular, logo seguidas da Revolução de 1820 e todas as sequelas inerentes posteriores.(do meu livro inédito «Castro Daire, Clero, Nobreza e Povo».

 


Abílio/2013

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.