Cedo aprendi, com os mais velhos, a descodificar o amarelo tiro-liro dos «gaibões» (papa-figos) que, numa semântica sexual, escondidos na copa das árvores, em trio, começava o primeiro: «tira-lhe o virgo», ao que respondia o segundo: «eu já lho tirei», e logo rematava o terceiro: «senão tirava-lho eu». Virgem é que ela, a «gaiboa», não podia ficar.
Cedo aprendi, com os mais velhos, a descodificar os sofredores e doridos berros das cabras, quando estavam a parir: «nunca méés, nunca mais, nunca méés, nunca mais», mas depois de parirem, passadas as dores do parto, virarem-se e, enquanto comiam a placenta e lambiam as crias, dizerem baixinho: «mé...mé...mé, veremos, mé...mé...mé..veremos, veremos mééé». Afinal, o prazer de fazer a cria, breve fazia esquecer as dores da mãe que a fez e a paria.
E vem tudo isto a propósito de duas das fotografias que, recentemente, tirei na serra da Nave, terra que foi de pastores, de agricultores, de caça e caçadores. Paisagem e linguagem campestre, rústica, serrana, rude. Por aqui andou Aquilino Ribeiro à caça de perdizes, lebres e de protagonistas, imagens, metáforas, cores, aromas e sons para as suas narrativas. À caça da inspiração para os títulos de alguns dos seus livros, antes e depois de cair em Lisboa e, ali, ser ridicularizado por três galfarros, mal viram que ele ia das berças e não sabia abrir uma romã: «pois não sei, não, e vocês sabem o que são mostajos, o que são pútegas e o que é um alho porro por esse cu acima?».
A pergunta do nosso Mestre prosador, feita na hora certa a tais sabichões, lá na capital, fez-me lembrar «O Homem da Nave», «Quando os Lobos Uivam» «Andam Faunos Pelos Bosques», e mais uma certa fauna que habita lá por Lisboa e cá pela Província, a qual vem sendo designada, muito apropriadamente, por um neologismo criado e usado frequentemente, por um amigo meu que foi PROFESSOR CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (já jubilado), cujo nome omito, para não ser acusado de me escorar na sua pessoa, no seu saber e na sua modéstia. Nem é preciso identificá-lo. Quem navegar, voar ou simplesmente se passear por estas bandas e fizer do «facebook uma lição» sabe bem a quem me refiro. E que neologismo é esse? Muito academicamente ele juntou os termos «pulha» e «político» resultando da aglutinação «pulhíticos». Pois é. É isso mesmo. E andando eu na serra, a pisar sargaços, carquejas e tojos, a perder-me nestas cogitações, lembrando-me de Aquilino (escritor) e desse meu amigo (professor), ao deparar com estes penedos, um em forma de cogumelo gigante, «frade» que ainda não se abriu em chapéu, publicado há dias, e este, publicado hoje, em forma de supositório, também gigante, logo senti a gana de substituir o alho porro, do escritor, e meté-los, a ambos, um de cada vez, pelo cu arriba de todos os «pulhíticos» até eles berram como as cabras, quando estão a parir. Um consolo!
Estivesse o país noutra situação e, para mim, o primeiro penedo não passaria de uma obra granítica esculpida pela chuva e pelo vento e este penedo, saído das mãos dos mesmos escultores, far-me-ia lembrar somente um dirigível petrificado, ambos monumentos naturais dignos de uma visita turística. Mas assim, não. O primeiro, tornou-se o deus Príapo pronto para aquilo que eu disse e para fertilizar e povoar a terra, ao contrário do segundo que me parece um dirigível prestes a despovoá-la. Levantar voo e levar consigo, para destino incerto, as poucas pessoas que restam neste interior quase desertificado, sem gente, exactamente por termos andado a ser governados, ao longo de séculos, por estes e outros «pulhíticos» que, seguramente, desconhecem Portugal, a sua História e a sua Cultura.
Não é assim, ó PROFESSOR? A pergunta é retórica, pois não sei se vai ler este meu texto. Mas, se o ler, fique sabendo que, usando eu o seu neologismo, não lhe surripiei os direitos de autor. Faço é gosto em que saiba que o acompanho na aprendizagem e usança desta novilíngua, saiba que sou seu aluno atento e que ambos detestamos a PULHICE e temos a coragem de o dizer. Aliás, como outros que, justamente, não esqueço.
Abílio/2013