Trilhos Serranos

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Persistindo na divulgação dos cidadãos empresários que levaram longe, por bons motivos, o nome do concelho de Castro Daire e dos produtos que cá que fabricavam, é hoje a vez do senhor Valentim Monteiro. Para isso, como venho fazendo, socorro-me do meu livro «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura», editado pela Câmara Municipal, em 1995, produto da «investigação aplicada» que fiz no uso da «licença sabática», quando era professor na Escola Preparatória de Castro Daire, direito/regalia que criou engulhos a alguns colegas que jamais se abalançaram a tal empreendimento e que, hoje, a troco de uma «planificação de aula» exigem o grau de «excelência». Aí vai:

«Tendo por logótipo uma «águia a sobrevoar as cinco tetas da serra do Montemuro» existiu em Castro Daire uma fábrica de refrigerantes da qual saia o famoso e acessível pirolito, garrafinha de pescoço apertado, onde se baloiçava berlinde de vidro a servir-lhe de rolha, depois de pressionado pelo dedo.
A iniciativa pertenceu a Valentim Monteiro, nascido em 1907 e falecido em 1983. Natural de Picão, manteve-se na aldeia até aos dezoito anos de idade, ajudando os pais nos serviços da lavoura e da pastorícia. Gabava-se de ter «aprendido a ler e a escrever enquanto guardava as ovelhas».

Nesta minha saga de não deixar no esquecimento as pessoas que, fazendo pela sua vida, como é legítimo, levaram longe o nome do nosso concelho, sempre por boas razões, transcrevo do meu livro «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura», editado em 1995 as palavras que ali deixei sobre o cidadão empresário, senhor Alfredo Ferreira Morgado. Ora veja-se:

Na ordem cronológica da «Imprensa Local» de Castro Daire, entrou um jornal que tinha por título «Castro Daire». Nasceu em 30 de Novembro de 1917 e era seu Director e Editor Alfredo Semedo. Dizia-se «Órgão mensal, independente, defensor dos interesses locais».

Não. Não é o título do belo poema de Pedro Homem de Melo, cantado e recantado pelas grandes vozes portuguesas, que soa bem no ouvido de todas as pessoas da minha geração. Não. Este povo são as mulheres de Cujó que, nos meus tempos de criança, iam lavar a roupa para aquela poça do rio Calvo, a jusante da ponte que existia e existe no caminho que levava e leva aos terrenos de Vale de Carvalho, Touça, Rio Mau, Moirisca, e todos os montes que estavam para lá do Santo António e do Senhor da Livração. Sítio conhecido, agora, como então, por PONTE, aquela passagem que deu o nome ao moinho hidráulico que existe perto dela e, recentemente, ao templete que abriga uma imagem da Nossa Senhora, a SENHORA DA PONTE.
Perguntar-me-ão a razão por que, aos 74 anos de idade, faço esta incursão na memória. Eu dir-vos-ei que é a sina de quem, mergulhado no estudo do passado, esbarra não só com os documentos escritos, com edifícios, solares, castelos e igrejas, casas cobertas de colmo, choupanas espalhadas por lameiros e tapadas, património material construído, mas também com os documentos orais, artefactos arqueológicos de comunicação, tão frequentes nessa «ágora» feminina, onde as mãos das mulheres «bate-que-bate, esfrega-que-esfrega», lavando a roupas suadas do esforçado trabalho do campo, também «bate-que-bate» com a língua, lavavam a vida e os pecados da aldeia.

 JANELA DE GUILHOTINA

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Semelhantemente

À lâmina que caía

Solta e decapitava gente

Em França

De guilhotina se dizia

Esta janela

Pela forma como ela

Se fechava e abria.

Assim o aprendi em criança.