Letras? Que longo caminho, o delas. Ora galopando, ora trotando, ora a sós ou a granel, atravessaram espaço e tempo, até chegarem a nós, silenciosas ou em tropel. Caminhada longa e séria. A arqueologia, que acorda o que enterrado dorme, trouxe-nos da Antiguidade a escrita cuneiforme da Suméria e territórios do Crescente, a deslocação de animais e gente, as Tábuas da Lei, a Pedra de Roseta, cunhadas ou manuscritas, visíveis ou apagadas, chegaram-nos em papiros, em pergaminho e papel, sempre cuspidas por cunhas, espátulas, estilos, bicos das penas de pato ou aparo de canetas, com recurso a tintas e a cera. Falo de história. As letras nunca foram tretas. Gravadas, desenhadas, hieroglíficas demóticas ou cursivas, a par de factos autênticos passados, carregados de glória, elas registaram vidas, sentimentos, afectos, amores, sofrimentos, paixões, declarações de guerra, tratados de paz, formação e queda de impérios, muitas fintas, muitas lendas e muitas petas, ditas e inauditas.