A FORÇA DE UM LIVRO
Aos 18 anos, cansado de escrever em bustrofédon - «arado vai, ardo vem» - a história camponesa, lavrada nos campos e leiras da família, algumas delas com a largura que não ia além dos braços abertos de um homem plantado no centro, resolvi deixar a enxada, a aguilhada e a charrua, a fim de poder granjear a vida de outra forma. Troquei a aguilhada pela caneta, as leiras de terra chã ou pedregosa pelas lisas e planas folhas de escrever, e, com trabalho, vontade e sacrifício, obstinado em ganhar o tempo perdido, entrei no Campo das Letras. E nele,de podão em punho, tenho passado anos entretido a abrir trilhos e clareiras, por forma a ganhar o pão, sem envergonhar os meus pais, os amigos e as instituições que me diplomaram nesse ramo de saber e de cultivo.