Trilhos Serranos

ANDANDO POR AÌ...

Quando em 1995, na sequência da minha licença sabática, publiquei o produto escrito dela, isto é, o resultado da “investigação aplicada” levada a efeito sobre a “arqueologia industrial” relativa a muitos moinhos e azenhas de azeite que laboraram no concelho, arrolei muitos desses equipamentos com o cubo na perpendicular e somente TRÊS com o cubo na vertical.

O MUNDO DE ONTEM

Lavrado numa pedra retangular, dois furos paralelos abertos interiormente na vertical, integrado num dos lados de uma poça, assente ao alto, vários nomes encontrei para designar a mesma coisa. E que coisa é essa? Nada menos do que uma peça utilizada no nosso sistema de rega tradicional, cuja cantaria incorpora, em si própria, muita imaginação, inteligência e arte humanas.

ARTES TRADICIONAIS

O fascínio da investigação feita fora da Torre do Tombo, das bibliotecas e espaços afins, chancelarias e cartórios notariais, longe dos manuscritos, escrituras e testamentos, peças recheados de mofo e ordens dadas pelo testador ao testamenteiro sobre a futura administração de heranças e legados pios, bens materiais terrenos testados em troca do bem-estar celeste, sobre muitos dos quais já queimei as pestanas em estudos anteriores. O fascínio desta investigação, dizia eu, está nas “estórias de vida” com hálito de gente viva, contadas pela boca das pessoas idosas, autênticas bibliotecas ambulantes abarrotadas de calor humano, formas de dizer, jeitos e trejeitos, recheadas de saberes, artes e técnicas com patine secular, transmitidas de geração em geração, por imperativo da polivalência laboral imposta pelas leis da sobrevivência e da governança.

UM FENÓMENO

Eis que eles, neste ano de 2019, eles, os nossos AUTARCAS, acordaram para o “25 DE ABRIL”. Acordaram tarde, muito tarde. E vou deixar aqui a prova pública disso. Desde que cheguei a CASTRO DAIRE (1983) sempre levantei essa bandeira, na ESCOLA, na imprensa e fora dela. Em meu redor, o SILÊNCIO TOTAL. Por isso desconfio da FESTA ANUNCIADA. Cheira-me mais a um EVENTO FOLCLÓRICO, do que à COMEMORAÇÃO FESTIVA de um EVENTO HISTÓRICO, tanto mais que conheço alguns dos intervenientes que sempre mostraram a sua ANIMOSIDADE à chegada da DEMOCRACIA e cantavam loas à DITADURA e ao Salazar.  Está-lhes no sangue. Não há rasto público de terem dado mostras do contrário. Eu me lembro. Ainda estou vivo. E ainda posso FALAR e ESCREVER, graças ao fim da CENSURA e ao privilégio do ao cidadão ser permitida a LIBERDADE DE OPINIÃO.

In “PICADAS DE TETE” em 13-04-2015

Que me lembre, todos os anos uma CANHONEIRA movida por uma máquina a vapor, força motriz transmitida à rodas munidas de palas a servir de hélices, metade dessas rodas mergulhada na água e outra metade fora dela (numas embarcações, colocadas lateralmente, noutras à ré) semelhantemente aquelas que se vêem nos filmes americanos a subir ou a descer o Mississipi, que me lembre, dizia eu, a cidade de TETE descia anualmente junto ao rio Zambeze a ver passar ou atracar a CANHONEIRA.