Trilhos Serranos

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A SUA VIA SACRA

Saído das berças sitas nas «terras quentes» de Mirandela, gerado no útero de onde saíram, espaçados a compasso das estações do ano,  mais sete irmãos, entenderam os pais que o caminho daquele rebento, escola primária feita, seria o Seminário de Vila Real (somente Seminário, sem distinção de Menor ou Maior) onde, no dizer do actual homem adulto inconformado por ter sido expulso, se «entrava porco e saía salsicha», pronta para entrar no mercado.

HORIZONTES DA MEMÓRIA
 
Num dos programas que vi  "Horizontes da Memória" do professor Hermano José  Saraiva,  ele tratou da figura de Alfredo Keil. O homem e o seu tempo. Aproveitando uma exposição que teve lugar no Palácio da Ajuda,  relativa à sua vida e arte dessa figura histórica, destacou as sua volumosa e diversificada obra de pintura, as óperas que escreveu e levou a palco em Portugal e no estrangeiro, e, sobretudo a importância de «A Portuguesa», nascida de um entusiasmado e fulgurante fôlego contra o Ultimatum inglês, de 1890, letra e música numa  correspondência harmónica e calorosa com os ânimos nacionais que, contra tal política de Sua Majestade, se levantaram no país inteiro.
 
Aconteceu que, estando a Monarquia Portuguesa no seu estertor, "A Portuguesa" (que viria a ser o Hino Nacional) foi imediatamente aproveitada pelos Republicanos, cantado em tudo quanto era reunião, comício, ajuntamento, taverna e colectividade, a pontos do autor desse, então,  Hino Subversivo, que tinha sido acarinhado pela Coroa e vendido, até, alguns dos seus quadros aos membros da família real, de protegido passou a perseguido e, no dizer do professor, cito de memória, Alfredo Keil, por «não ser aderente» deixou de  «passar na via verde da auto-estada do poder», sendo obrigado a «pagar portagem» e sujeito às consequências que sofrem os perseguidos.
 
Pois bem, caiu a Monarquia, veio a República, chegou a Democracia, passou muito tempo,  e esse exemplo dos «não aderentes à via do poder», isto é, os que se excluem intencionalmente do grupo dos «compadres e amigos» são obrigados a pagarem a «portagem», tudo  por não alinharem com as asneiras do PODER, serem críticos do PODER, avessos que são a fazer vénias, ajoelharem, pôr as mãos, gestos tão próprios dos crentes, e, ipso facto, se recusam a dizer «que sim, que sim», a imitar aquela imagem de Santo Hilário que, numa igreja  ali para os lados do Minho, abana afirmativamente a cabeça, respondendo convenientemente à pergunta do pregador mancomunado com o sacristão que puxa uma corda corrediça  sob manto do Santo, para surtir os efeitos desejados e deixar embasbacados e convencidos os crentes, ignorantes de toda a marosca.
Vejam só o tempo que passou! E vejam como tão pouco se mudou!
Castro Daire, tá bonito, tá!
 

Dos muitos quilómetros de linhas escritas que, durante anos, deixei impressas nos jornais e nos livros sobre a história local,  cultura, usos, costumes e  gentes montemuranas, são poucas aquelas que envolvem a minha pessoa, ainda que, por vezes, tenha ilustrado o tema sobre que discorri com a minha experiência pessoal e os conhecimentos que advêm da universidade da vida, tal como fiz nos meus últimos "estados", respondendo à bisbilhoteira pergunta da máquina: "que estás a pensar?"

Neste  meu afã de lidar com letras e com pessoas de letras (tão raras por estas bandas), as letras que mais gostei de escrever, envolvendo a minha pessoa, foram aquelas que, há bem pouco tempo, "postei" no mural de um amigo, aqui, no Facebook com o título GRATIDÃO, um sentimento que muito prezo, pois acho a INGRATIDÃO uma atitude humana execrável. Eu, aos 74 anos de idade, senti-me muito feliz a escrever esse texto, pois eram palavras há muito sentias e devidas publicamente a esse amigo, PROFESSOR da Universidade de Coimbra, que, há muitos anos, não nos conhecendo nós pessoalmente de lado nenhum, ele, sem me perguntar quem eu era, donde vinha e para onde ia, produziu publicamente  "juízos académicos" sobre alguns livros meus, valorizando-os,  o que muito me sensibilizou e honrou.

Julgo até ser essa a dimensão humana que dá distinção e gabarito a uma pessoa de "pensamento", uma pessoa que não banca a intelectual e que, servindo-se das LETRAS, reconhece o mérito onde o há, incapaz de  cometer a INGRATIDÃO de ignorar, ou fingir ignorar, os créditos e os méritos que encaixam na bitola de valores pela qual afere o trabalho alheio e o seu próprio.

Semelhantemente, nessa linha de pensamento e acção, atento ao meio que me rodeia, senti-me igualmente feliz e humano, quando, há muitos, muitos anos, deixei em letra redonda, o mérito que vi nalguns trabalhos publicados, a falarem do Montemuro e suas gentes,  sem olhar ao nome e assinaturas dos seus autores. Aconteceu ter escrito até algumas dessas minhas apreciações valorativas, antes de conhecer pessoalmente alguns deles, o que,aliás, releva a objectividade da minha análise. Valorizei o trabalho pelo seu valor intrínseco e não empurrado pela subjectividade da amizade, esse sentimento humano sempre traiçoeiro,  capaz de empurrar para o elogio fácil e enganador,  que bem pode surtir efeito contrário ao "reforço positivo" de Skiner, no sentido de ajudar as pessoas a ganharem confiança em si próprias e aperfeiçoarem os trabalhos que produzem.

MÉDICO-sines0000Procedi assim impelido pela honestidade intelectual que, por caracter e formação, me impus a mim próprio. Não o fiz para ser agradável com os seus autores, pois não sou nada dado a palavras e discursos de conveniência, destituídos de verdade e autenticidade, tão ao gosto de pessoas que incham com elogios fáceis, hipócritas, sacristas, cruz alçada, desvanecidos com loas e ladainhas que anunciam à distância a procissão que passa.

Pois é, dos muitos quilómetros de linhas escritas que, durante anos, deixei impressas nos jornais e nos livros, falando da minha terra, da sua cultura e das suas gentes, diferentemente de outros que por aí se passeiam e perdem na flora montemurana, nunca confundi " toda a planta com orégãos"  para usar a ironia daquele médico de Sines, em 1850, Francisco Luiz Lopes, referindo-se aos clínicos da capital,  dizendo que eles ignoravam completamente as plantas medicinais que os rodeavam e com as quais se faziam os fármacos. (cf. «Breve Notícia de Sines», 1850, pp. 78)

É tudo uma questão objectividade, de estatura, moral, humana e ética  (não só poética) face ao nosso semelhante e à qualidade da produção intelectual publicada. As LETRAS não são TRETAS e o papel delas é estarem viradas para CULTURA dos povos, do crédito e mérito dos trabalhos produzidos e não apenas para o CULTO do umbigo daqueles ou daquelas que com letras lidam e, numa atitude narcísica, mais não vêem que a si próprias.

 

 

 

1 -AUTO DO VAQUEIRO

 Pavoneando-se no palco do país, os protagonistas que todos conhecemos, desunham-se para convenceram a plateia que são insubstituíveis e que a farsa  está para ficar e durar. Sem eles é o fim do mundo.

A plateia não acredita nisso, apupa-os, dá pateadas no soalho, exibe cartazes mandando-os para a rua. Face ao pateado,  um deles, muito a custo, bate em retirada, reconhecendo em testamento, feito no seu juízo perfeito e "atempadamente", que não podia continuar no auto, pois não acertava uma no papel que lhe foi distribuído. Com "gag" atrás de "gag"  deixou o lugar vago que foi imediatamente ocupado por alguém especialista em finanças, que não podia alegar virgindade nos contratos "swaps". Foi então que, num repente, outro dos protagonistas, sabido que se farta,  habituado a contorcionismos vários, bateu com a porta, recusando-se a representar ao lado de tal figura. A triste figura. Foi o aqui d'el Rei. Era o fim da farsa. 

No dia 16 do mês passado "postei" aqui, neste meu espaço, um texto sobre  a CENSURA, texto que tinha publicado no mensário "Lamego Hoje" do mês de Setembro de 1987. Fi-lo  por razões que respeitam ao que se vai por aí dizendo e praticando, nestes tempos,  relativamente à expressão livre e responsável do pensamento.

Também já deixei neste meu espaço uma referência à urticária que me causam aqueles que, nos blogs, se refugiam no ANONIMATO para exprimirem as suas opiniões, com o receio, diz-se por aí, se serem perseguidos, caso se identificassem com os nomes próprios.

Mas já mostrei, também aqui, que começava a compreender e a ter uma certa simpatia por esse seu resguardo, uma vez que, conhecendo eles a MENTALIDADE dos que detém o poder, das duas, uma: ou recorrem ao anonimato para poderem dizer o que pensam sem receio de serem perseguidos, ou ficam calados, surdos e mudos, para não serem incomodados.

1 - Já começaram a aparecer nos lugares estratégicos da vila, nos cruzamentos das estradas e aldeias, os CARTAZES com as palavras de ordem e as fotos dos candidatos autárquicos. E também já começaram a achegar às caixas dos correios dos munícipes alguns "desdobráveis" com as "promessas" que eles dizem cumprir, caso venham a ser eleitos.

2 - Como ainda não desisti do exercício da minha cidadania, que não apenas meter o voto na urna de 4 em 4 anos, quero deixar aqui matéria para reflexão de todos os candidatos, a fim de nenhum deles poder dizer que a ignoravam. É matéria que eu já trouxe a público, quer através de escritos, quer através de vídeos colocados no Youtube, mas nunca é demais "bater em ferro frio", tanto mais que se trata de matéria de relevante interesse para o concelho. Matéria de interesse público. De que se trata?Aí vai:

PRIMEIRO

P'ra que toda a gente veja
O pinheiro de S. João
Esta velha tradição
Que se mantém em Fareja

Esta quadra, que figura, anónima, no painel de azulejos colocado na sede da Associação Recreativa e Cultural de Fareja, é da minha lavra e sintetiza uma velha tradição desta aldeia.

Ontem, dia 23 de Junho, cumpriu-se, mais uma vez, parte dela. Foi a «erguedela do pinheiro». Essa tradição está dividida em três partes, que são a) corte, derrube e transporte do pinheiro; b) descida do pinheiro velho; c) erguedela do novo. Toda ela consta no Youtube, em três vídeos que lá coloquei. Neles poderá o leitor «admirar» o volume do pinheiro e as técnicas artesanais utilizadas na tarefa.

De currículo público lacrado, recostado nesta minha cadeira da terceira idade, eu mantenho-me sempre atento às gentes que me rodeiam e comigo falam. Esporadicamente leio os "textos" anónimos que falam tanto da política e políticos locais, que nem todos os galos do campo a anunciarem as manhãs. 

Leio e reflito sobre os NOMES e a razão da sua existência. Não é preciso fazer grande pesquisa para sabermos que os "nomes" servem para identificar as COISAS e as PESSOAS

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