Trilhos Serranos

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terça, 09 julho 2013 20:05

HORIZONTES DA MEMÓRIA

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HORIZONTES DA MEMÓRIA
 
Num dos programas que vi  "Horizontes da Memória" do professor Hermano José  Saraiva,  ele tratou da figura de Alfredo Keil. O homem e o seu tempo. Aproveitando uma exposição que teve lugar no Palácio da Ajuda,  relativa à sua vida e arte dessa figura histórica, destacou as sua volumosa e diversificada obra de pintura, as óperas que escreveu e levou a palco em Portugal e no estrangeiro, e, sobretudo a importância de «A Portuguesa», nascida de um entusiasmado e fulgurante fôlego contra o Ultimatum inglês, de 1890, letra e música numa  correspondência harmónica e calorosa com os ânimos nacionais que, contra tal política de Sua Majestade, se levantaram no país inteiro.
 
Aconteceu que, estando a Monarquia Portuguesa no seu estertor, "A Portuguesa" (que viria a ser o Hino Nacional) foi imediatamente aproveitada pelos Republicanos, cantado em tudo quanto era reunião, comício, ajuntamento, taverna e colectividade, a pontos do autor desse, então,  Hino Subversivo, que tinha sido acarinhado pela Coroa e vendido, até, alguns dos seus quadros aos membros da família real, de protegido passou a perseguido e, no dizer do professor, cito de memória, Alfredo Keil, por «não ser aderente» deixou de  «passar na via verde da auto-estada do poder», sendo obrigado a «pagar portagem» e sujeito às consequências que sofrem os perseguidos.
 
Pois bem, caiu a Monarquia, veio a República, chegou a Democracia, passou muito tempo,  e esse exemplo dos «não aderentes à via do poder», isto é, os que se excluem intencionalmente do grupo dos «compadres e amigos» são obrigados a pagarem a «portagem», tudo  por não alinharem com as asneiras do PODER, serem críticos do PODER, avessos que são a fazer vénias, ajoelharem, pôr as mãos, gestos tão próprios dos crentes, e, ipso facto, se recusam a dizer «que sim, que sim», a imitar aquela imagem de Santo Hilário que, numa igreja  ali para os lados do Minho, abana afirmativamente a cabeça, respondendo convenientemente à pergunta do pregador mancomunado com o sacristão que puxa uma corda corrediça  sob manto do Santo, para surtir os efeitos desejados e deixar embasbacados e convencidos os crentes, ignorantes de toda a marosca.
Vejam só o tempo que passou! E vejam como tão pouco se mudou!
Castro Daire, tá bonito, tá!
 
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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.