No que respeita a cada pessoa, o NOME, desde que lhe é posto, passa a fazer parte de si própria. É o sinal primeiro da sua identidade, expressão da sua existência, marca própria que a distingue de outras pessoas, mesmo entre a multidão dos seus homónimos.
Assim sendo, quando esquecemos ou desconhecemos o nome de uma pessoa, usamos frequentemente, os termos "fulano", "cicrano" e "beltrano". E, para os objectos sem nome, usamos, da mesma maneira, os termos a "coisa", ou o "coiso".
Vem isto a propósito de, neste princípio do século XXI, tempo de saber e de conhecimento, constatarmos a existência de muitos "fulanos", "cicranos", "beltranos", "coisas" ou "coisos" que, à boa maneira do antigo soalheiro aldeão, onde se passavam a pente de piolho as virtudes e mazelas da comunidade, se entretêm a fazer o mesmo na internet, em blogues e comentários ANÓNIMOS. Ou mesmo o infantário onde cada criança, na sua justificada atitude infantil, recusa assumir a traquinice, levantando o braço para dizer: "não fui eu".
Fazem lembrar ainda a não muito antiga e carnavalesca "Funiladela dos Cabaços" que se fazia noite dentro, nas encostas fronteiriças de qualquer aldeia, ocasião em que se punham a nu, as virtudes e os podres pessoais dos habitantes, sem que fossem identificados os delatores. Era a voz da noite. E por ela ficava-se a saber a vida da aldeia, semelhantemente, ao soalheiro, com uma diferença: no soalheiro as pessoas, ainda que criticassem A ou B na ausência dos visados, todos sabiam quem era quem. De contrário , na "funiladela dos cabaços" tudo era dito sob o manto escuro da noite, sob o ANONIMATO e, sendo a voz distorcida pelo funil, os delatores sentiam-se seguros e livres de serem chamados à responsabilidade sobre o que diziam com verdade ou inventado.
É que, usando deste procedimento, estas pessoas sem nome, com clara vontade de serem protagonistas no domínio da política, da economia e da cultura locais, não passam de "fulanos", "cicranos, "beltranos", "coisas" ou "coisos" que mais não fazem do que mostrarem a incapacidade de assumirem responsabilidades e, consequentemente, incapazes e indignos de lhes ser confiado o destino do concelho.
E é pena, pois vislumbro, em alguns deles, críticas assertivas, ideias, projectos e opiniões que, tivessem elas NOME, os seus autores bem mereciam ser ouvidos, seguidos e, se calhar, escolhidos. Assim não, pois não creio que ALGUÉM, no seu perfeito juízo, aceite e siga o que diz NINGUÉM.
Estranha forma essa de exercer a cidadania. Estranha forma "cívica" e "política" de intervir na "res publica". Estranha forma essa de se dar o contributo ao BEM COMUM, por mais bem intencionado que seja quem assim procede.