Trilhos Serranos

ANTÓNIO JOSÉ LOUREIRO DE ALMEIDA

Na crónica anterior sobre o "PELOURINHO DE CASTRO DAIRE" aludi ao tabelião Inocêncio Teixeira do Amaral, em cujo escritório, em 1863, foi feita a escritura de compra das três casas contíguas ao adro da Igreja pertencentes a António José Monteiro Lemos,  José o Ferreira Simões e João da Cunha,  para se arranjar espaço suficiente com vista à construção do Hospital da Misericórdia. O negócio, devidamente autorizado pelo Rei, foi feito tendo  o primeiro morador recebido 72$00, o segundo 60$000 e o terceiro 55$000. Refiro isto tudo, circunstanciadamente, no meu livro «Misericórdia de Castro Daire» , editado em 2000, nas páginas 38-39.


PRIMEIRO

Tal como se vê em livros, roteiros e folhetos turísticos sobre a história de Castro Daire tem-se considerado pelourinho municipal  o  cruzeiro de calvário que se encontra no Bairro do Castelo, aquele que, em data não apurada rigorosamente por mim (mas que presumo ter sido na década 50 do século XX, baseado em informações idóneas e na minha própria memória que me lembro tê-lo visto lá, numa das minhas deslocações à vila, com os meus 12 ou 13 anos de idade) foi deslocado para ali do sítio onde originariamente se encontrava, que era no «cimo de vila» entre as capelas de São Sebastião e da Senhora da Lapa, ambas vizinhas do solar brasonado dos Mendonças. 

TUDO O QUE VEM À REDE É PEIXE

Há anos que cirando por trilhos e veredas serranas, que visito aldeias e povoados, falando com toda a gente à procura de documentos orais  e escritos, papéis velhos, manuscritos ou impressos. E foi nessa minha romagem pelo concelho que, em 1995, me chegou às mãos um maço de folhas, formato 34x22,5 cm, nas quais, de alto a baixo, estão manuscritas, em duas colunas, umas tantas décimas populares, isto é, composições poéticas constituídas por um mote (quatro versos) glosado em estâncias de dez versos, rematando cada uma delas com um verso do mote. Composições ainda muito em uso nos meios populares alentejanos (procedi a alguma recolha delas quando estive em Castro Verde) mas não tanto por estas bandas do Montemuro. As últimas que conheci por cá, e delas já fiz uso algures nos meus escritos, são atribuídas ao Mestre Zé Aveleira, (de Cetos) já falecido há muito.

O QUE SOMOS

Ainda pequenino -  quanto tempo já la vai? - agarrado à mão do meu pai, com toda a vida pela frente (que longe estava a velhice! )  era isto que eu ouvia - que chatice, que ameaça feia - na proclamada homilia do cura da minha aldeia, ou na boca do pregador encomendado em dia de sermão e missa cantada, num domingo ou num feriado.


 PELA RUA ABAIXO, 2

Junto ao quelho e estrada, a casa de duas irmãs padeiras. Uma ficou para tia solteira e outra foi a mãe do Padre António Silva, que, inteligente, a deixou, depois, às suas criadas.