Trilhos Serranos

SAGA DE UM RELÓGIO

Um dia, testada que foi leveza do pêndulo naquele seu repetido vai-vem, pêndulo em forma de âncora de navio rematada em pião, qual arte dançante de gueixa, ele, originário do Japão, com essa sua arte, leveza e gesto, sem olhar ao longe e ao perto, a sua terra natal deixa, qual emigrante a fazer pela vida.

DESILUSÃO

Seria ela? Vi-a, pareceu-me ser, mas não perguntei. Duvidei. Passaram muitos anos sem a ver. Aquela senhora, à minha frente, “tente não caias”, com calças, (sempre e vi de saias) com visível dificuldade na mobilidade, desempenada e robusta que foi outrora, tinha agora andar de ganso, ancas a pedirem descanso, sinais evidentes fadiga, de estarem velhas. Uma velha. Vista de frente, de trás ou de lado, as pernas lembram-me aduelas arcadas e desconjuntadas de pipa rejeitada, aros lassos a esguicharem em todas as direções o vigor e a vida que tiveram a cada passo dado, em tempos idos.

ASSOCIAÇÃO RECRATIVA E CULTURAL DE FAREJA, EM FESTA

Fareja, ano de 1981. Tempo de em que cada aldeia tinha de ter um campo de futebol em terra batida. Alguns habitantes em conversa amiga, pensaram e disseram:. «que tal uma Associação Recreativa, aqui, na aldeia? Boa ideia!» E dito e feito. Das palavras passaram aos actos. Em 18 de Fevereiro de 1981, no Cartório Notarial de Castro Daire, nascia, por escritura pública, a «Associação Desportiva, Cultural e Recreativa de Fareja», logo depois oficializada no Diário da República, III Série, nº 61 de 14-03-1981.  A marca inicial «Desportiva» viria, mais tarde,  a ser abandonada, dando lugar à actual designação «Associação Recreativa e Cultural de Fareja». Os responsáveis pela fundação foram os senhores, Manuel Ferreira Soares, Porfírio Lourenço Romão, Celestino da Silva Monteiro, Dário de Almeida Ferreira, José Carlos Ferreira Lourenço,  Alfredo Jorge Ferreira Lourenço, Manuel José Pereira Pertancho, José Maria Carvalho Rodrigues,  Carlos Alberto Pereira Soares, António Monteiro Diogo, Daniel dos Santos Costa, Amadeu Ferreira, Joaquim Ferreira da Silva, nomes e rostos que, os dirigentes posteriores da Associação, já com sede própria, acharam por bem colocar numa moldura e fixarem-na no átrio de entrada, em homenagem aos fundadores. 

FISGADAS DA MEMÓRIA NO QUOTIDIANO

Qual criança que se diverte com uma fisga, estica o elástico e arremessa para longe a pedrinha entalada entre os dedos polegar e indicador, também a nossa MEMÓRIA, insperadamente,  nos leva a sítios distantes para avivar momentos de convívio e caminhos andados.

É isso. Fomos colegas da faculdade e de profissão. Ele, o Arménio, alentejano, colocado em Aljustrel e eu, beirão, colocado em Castro Verde.

Ambos tivemos de fazer «cursos de reciclagem pedagógica/científica» (hoje diz-se para aí, nos órgãos de comunicação social, que “ensinar tem ciência». Ah!, Pois, tem, tem...) cursos, dizia eu, que ora decorriam em Portimão, ora em Faro.

A RESISTÊNCIA DOS TOPÓNIMOS

Nos meus quilómetros de escrita e de vídeos averbo várias crónicas com o título “GENTE DA TERRA” e, ultimamente, sozinho ou acompanhado, tenho andado a calcorrear montes e vales, aqui pelas bandas do Montemuro, a falar com pessoas, esses livros andantes, a fazer registos fotográficos e em vídeo, caminhadas que têm dado conteúdo a textos, com visível marca GEOGRÁFICA,HIDROGRÁFICA, GENÉTICA  E EPIGENÉTICA, intitulados “HERÓIS DA SERRA” relativos a pessoas, com extensão aos TOPÓNIMOS, uma espécie em vias de extinção.

Retomo a caminhada, desta vez para associar o que ficou dito por José Ferreira Miguel, natural da Relva, freguesia de Monteiras, com ascendência de Cujó, já que o seu bisavô, FIRMINO PEREIRINHA E SILVA, era oriundo daquela aldeia, membro da conceituada família dos PEREIRINHAS que eu muito bem conheci e conheço, quer pessoalmente, quer através leitura de documentos históricos.