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sábado, 31 agosto 2013 16:20

AUTÁRQUICAS 2013 (3)

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DEBATE NA RÁDIO LIMITE

1 - CULTURA

Estive a ouvir com atenção o debate entre o candidato do CDS-PP e do PSD que teve lugar na Rádio Limite, hoje, com início às 19 horas. Felicito o moderador e os candidatos pela forma cordata e civilizada como eles apresentaram as suas ideias para o concelho. Prestei especial atenção ao capítulo da CULTURA e ambos falaram do Grupo de teatro do Montemuro e, quanto baste, dos grupos folclóricos, das bandas filarmónicas que existem no Município. E por se ficarem por aí lembrei-me de transcrever algumas palavras que o Presidente da Câmara de Castro Verde (Alentejo) escreveu no editorial de «O Campaniço», o Boletim Municipal daquele concelho, que me é remetido sempre que sai. Assim diz ele: «temos um município que não confunde formação, cultura e educação com foguetório, apitos e flautas».

Claro, que eu penso como ele. A formação, a CULTURA e a educação, não se pode confundir com «FOGUETÓRIO, APITOS E FLAUTAS». Transcrevo estas palavras pois elas vêm mesmo a calhar para mostrar o conceito de CULTURA que os dois candidatos apresentaram. Só para reflectirem.

 2 - CULTURA  

Depois da minha primeira apreciação sobre o debate autárquico na Rádio Limite, ontem, dia 26, onde os candidatos a presidente da Câmara do CDS-PP e o do PSD expuseram cordatamente as suas opiniões sobre o concelho, deixando claro o conceito que têm de CULTURA ao falarem somente sobre o Grupo de Teatro do Montemuro, das Bandas Filarmónicas e dos Grupos Folclóricos, o que me levou a citar as palavras do Presidente da Câmara de Castro Verde dizendo que naquele município se não confunde CULTURA com "foguetório, apitos e flautas", volto ao assunto para transcrever os versos de um poeta popular, que à semelhança do Mestre Zé de Cetos, dizia oralmente ou punha no papel algo mais profundo do que o simples folclore da vida. Era Francisco Augusto Galrito que, nos seus três livros publicados com o título «Verdade da Poesia», mostrava estar bem atento ao meio em que vivia, e não esquecia as pessoas que à cultura e defesa do património dedicavam a sua vida. Vou omitir o nome da pessoa visada, já que, aqui e agora, o que interessa é o assunto e o conceito abrangente de CULTURA, que inclui a investigação, divulgação e conhecimento do nosso património histórico material e imaterial.

MOTE
«O zeloso Doutor .... /Pode abalar descansado/Quando a Castro regressar/Verá o moinho restaurado»

«Sendo um homem de cultura/Anda sempre no respigo/Procurando o que é antigo/Muitas vezes na leitura/De outras formas ele procura/Pedindo a outros auxílio/Para lá no seu domicílio/Estudar nosso património/Porque é homem idóneo/O zeloso doutor ...».

«Ele em Castro se interessava/Por tantas coisas antigas/Não se poupando a fadigas/Quando na vila morava/Pró Largo da Feira olhava/Ficando muito desolado/Ao ver o moinho degradado/Mas alguém lhe disse então:/Está breve a restauração/Pode abalar descansado».

«E o Doutor muito animado/Abalou para sua terra/Ficando assim à espera/Do que ficou acordado/E lá foi entusiasmado/Com o que fez despertar/E no moinho sempre a falar/Quando saiu deste povo/Na esperança de o ver novo/Quando a Castro regressar».

 «E abalou com saudade/Desta vila alentejana/Lá para terra transmontana/Onde passou a mocidade/E lá nessa localidade/Estará sempre lembrado/Do que lhe foi afirmado/De maneira tranquila/Quando voltar a esta vila/Verá o moinho restaurado».

(in «A Verdade da Poesia» (Vol. III), Castro Verde, 1995) 27/8 às 9:15 

A esta minha tomada de posição respondeu o meu amigo Jorge Soares muito desgostoso com as minhas palavras nos termos que se seguem:

Jorge Soares Comparar Bandas Filarmónicas Amadoras de alto nível, Grupo de Teatro Amador dos melhores do País e grupos de Folclore que levam o nome das nossas terras até para fora do nosso País, com algo de "foguetório, apitos e flautas", demonstra uma total falta de respeito pelas gentes das nossas terras. Já agora, se não forem as actividades deste grupos, o que é que sobra de cultura para se escrever nos livros da História de Castro Daire?... Se isto é verdade, também não é menos verdade que tal como um analfabeto, por si só, não consegue apreciar um poema de Camões, pessoas que não percebem nada de Arte têm dificuldade em compreende-la. Ou será que arte é muito mais do que cultura?... se assim for retiro o que escrevi. 29/8 às 13:34 · 

Abílio Pereira de Carvalho O mínimo que se pode exigir a quem comenta, seja o que for, nos meios de comunicação social, é que saiba ler aquilo que comenta. E quando se arroga a fazer comparações que não decorrem do texto comentado, o mais que mostra é que, com efeito, a arte de ler, de escrever e de comentar exige muito mais que soprar num qualquer instrumento de banda ou de orquestra, por mais requintadas que elas sejam.
Sobre o valor das bandas e quejandas, bem como a dedicação dos seus membros, aconselhava este meu amigo Jorge a ler, entender e perceber o que escrevi há anos sobre elas e eles, mais especificamente sobre a Banda dos B.V. C. Daire, em livro cujo conteúdo histórico é muito mais que música.

Sobre analfabetos que não entendem Camões e pessoas que não sabem de ARTE, afirmações vindas de um músico, não passam de MÚSICA. 29/8 às 19:30 

3 -  O CORETO E AS BANDAS

Defender publicamente e nas redes sociais equipamentos históricos e espaços condignos congeminados para a actuação das Bandas Filarmónicas, é não apenas o dever de um historiador, mas e sobretudo uma atitude CULTURAL. Vídeo/comentário feito por mim e alojado no Youtube em 31-10-2011, com 2.015 visualizações até hoje, dia 30 de Agosto de 2013, parece que nenhum dos candidatos a presidente da Câmara de Castro Daire o viu, pois nenhum deles, no debate que tiveram na Rádio Limite, aludiu a tão gritante agravo à HISTÓRIA e à CULTURA concelhias. E, pelos vistos, pelo texto que produziu, comentando o meu, também não o viu o meu amigo Jorge Soares. Mas o trabalho artesanal e amador aqui fica para ser visto, pensado e comentado, mesmo que seja para me dizerem que eu estou ERRADO e que isto não passa de folclore técnico.

Face ao conceito de CULTURA abordado no primeiro debate entre os dois candidatos a presidente da Câmara, conceito por mim comentado posteriormente num pequeno registo, tive como resposta um reparo feito pelo meu amigo Jorge, muito desgostoso com as minhas palavras, quase me acusando e ignorar e de excluir de tal conceito o trabalho do Grupo do Teatro do Montemuro, dos Grupos Folclóricos e das Bandas Filarmónicas. Sobre as Bandas remeti-o para o meu livro "Castro Daire, os Nossos Bombeiro/, A Nossa Música" e sobre o "Teatro Montemuro", para ficarmos todos devidamente esclarecidos, os que querem ser eleitos e os eleitores, transcrevo para aqui, para as páginas do facebook de todos os partidos políticos concorrentes às cadeiras municipais, um dos textos que publiquei em 2007 no meu site «www.trilhos-serranos.com», no botão CRÓNICAS. Aí escrevi esta frase lapidar que parece responder ao conceito de CULTURA de muita gente, conceito que eu combato há muito tempo em favor do desenvolvimento do concelho. Que frase é essa? A seguinte: «QUEM CULTIVA O BÁSICO NUNCA CHEGARÁ AO EXCELENTE». Ora vejam:

4 - GRUPO DE TEATRO MONTEMURO "FESTIVAL ALTITUDES -2007

O grupo de Teatro Montemuro, sedeado em Campo Benfeito, continua a saga do "Festival Altitudes" iniciada, com entusiasmo em 1998. Este ano de 2007 é a décima edição e o seu programa está recheado de grupos e de espectáculos que não destoam do nível e da qualidade que tem caracterizado o "Festival" nas edições anteriores.
Com início no dia 11 do corrente, às 22 horas, a «festa» começa com o «Splash» pelo Teatro do Montemuro, onde, numa «lameira à entrada da aldeia», a «companhia anfitreã apresenta a sua nova produção de teatro ao ar livre».

Ora, mais do que escalpelizar aqui todo o programa desta 10ª edição, que se estende até ao dia 19 do corrente, cabe-me felicitar o Grupo e partilhar com ele os objectivos que persegue desde que se criou, nomeadamente, tentar alterar, senão mesmo inverter, o paradigma cultural que durante décadas moldou formas de pensar e agir das populações serranas. Aqui também é Portugal, também há gente, também há criadores e artistas, amantes da cultura, da sua terra, da sua identidade e bom seria que, a par da tão falada descentralização político-administrativa (que é dela?), se fosse falando, também, da descentralização cultural.

É bem certo que quem somente cultiva o básico, nunca chega ao excelente. E bem andariam, ou andam os poderes públicos que, não se limitando a cultivar o folclore, a patrocinar o gosto pelo jogo da sueca ou do dominó, a promover e a patrocinar obras sem qualidade, acarinham este Grupo que, com as dificuldades inerentes à vida periférica, vai produzindo e pondo em cena obras de reconhecido mérito. Grupo que levanta bem alto a bandeira da cultura e, sem perder a sua identidade sociológica, histórica e geográfica, mostra que está vivinho da silva, alegre e empenhado em continuar a saga que iniciou há anos, neste rincão serrano, onde, no Inverno, o uivo do vento, em tempos idos, se confundia com o uivo dos lobos.

 Chamar à serra do Montemuro, grupos e artistas dos mais diversos sítios, chamar ao Espaço Montemuro, na aldeia de Campo Benfeito, gentes de cidades e vilas do país, é torná-los a todos embaixadores da beleza e da riqueza da nossa região, da hospitalidade das nossas gentes, do humor, da ironia, da alegria e da tristeza com que a serra se veste, durante as quatro estações do ano e não apenas em Agosto. E, também, trazer à serra a produção de outros estilistas, outra roupagem cultural ? Teatro, música, entretenimento, é proceder a um intercâmbio cultural sempre enriquecedor para quem, em tempos de globalização, se não contenta já com a cultura de sacristia ou de paróquia.
E, repito, quem o básico cultiva, jamais chega ao excelente, seja na cultura, nas artes, no ensino, na comunicação social, ou na política.

O futuro hipoteca-se ou liberta-se no presente.


Abílio/2007 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.