A primavera, cores aos molhos, no duelo eterno com o inverno, não tem escolha, manda-o bugiar, atira com ele à cova, e tudo o que é velho renova. Airosa, enterra a nudez esquelética e sofrida por cada árvore, por cada planta, vivida na estação fria. E tudo quanto brota da terra ela veste de cor e de alegria, ouvida no gorjeio dos passarinhos. Mas neste seu afã de renovar, de alindar, de remoçar, de manhã, de noite e de dia, neste seu afã a que sempre estou atento, pergunto-me, entre felicidade e desalento: se tudo ela renova, se tudo alinda e tudo remoça assim, porque me exclui ela a mim?
sábado, 25 maio 2013 13:57
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
A PRIMAVERA
Cores? Elas são tantas. Tantas quantas os amores e humores da gente que no mundo vive, que o mundo sente.
Das giestas, o amarelo e o branco aveludados. Do carvalho, dos sargaços e de mais arbustos rasteiros, por todos os lados dispersos, o verde nos tons diversos, de aromas, de odores impregnados, à mercê de quem quer que seja, de quem os olha, cheira e vê, pois certo é que há quem olhe e não veja.
Publicado em
Memórias
Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.