(REGISTO DO DIA)
É caso sabido. Se em tempos idos eram mais do que muitos os mendigos, actualmente há consciência pública da subsídiodependência e, se não me baralho, ser mais que muita a gente que se apega ao rendimento mínimo, mandando à fava o trabalho.
Ontem, enquanto me entretinha a navegar na Net e a ver como vai o mundo distante e o que esse mundo promete, no Café, ouvia, assim, como ia o mundo em redor de mim e como ele é.
Um lavrador, de expressivo semblante, por mais voltas que desse à mona, dizia, lamentava-se da dificuldade que tinha em arranjar mão-de-obra para apanhar azeitona. Mas sabia e presenciava que, numa pastelaria da terra, abancava cedo um número de pessoas que nada fazia, a não ser receber o subsídio mensal de que se vestia e comia. Vai mal Portugal, repetia.
Eu não o conhecia, mas ele avançava sem medo. Não está bem assim. Em nome do emprego, e da pobreza (não me enganam a mim, não) com subtileza, os governos criam cursos de actualização disto e daquilo, cursos de entretenimento, porém, a formação, que é dela? Pagam-lhes para frequentar esses cursos, mas, quem precisa, não encontra um eletricista, um canalizador, um bate-chapas e os caminhos públicos atravamcam-se de silvedos, arbustos, matas, prenúncio de fogos e lágrimas.
Estamos num país de desmandos e de balela. E, senhores, são os próprios formandos a dizerem que tais cursos beneficiam mais os formadores do que as carências locais de emprego e de trabalho. Trabalho? Qual quê? Era o que faltava? Isso faz curvar a espinha, levantar cedo, cumprir obrigações e para quê fazer calos nas mãos se, como se vê, certinho se tem, sem mexer uma palha, o ordenado mínimo mensal? Só quem fosse tolo. E assim vai Portugal. Um consolo.
Numa só mesa de Café estavam dois. Calou-se um por instantes e outro rematou irritado, pouco tempo depois. É o Estado que temos, são os nossos governantes e o estado a que chegamos. A chuva e o vento, levaram-me metade da colheita. E, com tanta gente assim presa à mesa do orçamento, ninguém deita mão isto. É assim em todo o lado. Dou voltas e voltas à mona e não encontro quem aceite colher a azeitona, ganhar o dia, fazer azeite melhorar a economia. Estou danado. A esmola de outrora é o subsídio de agora. O mendigo de antigamente deu lugar ai subsídiodependente.
Mais. Ironia das ironias, acrescentou: no verão passado, enquanto eu me preocupava em gerir as tarefas do dia, ouvia, vindo da moradia de um casal que vive do rendimento mínimo o diálogo entre homem e mulher:
- Para que piscina vamos hoje, já escolheste?
- Não, escolhe tu onde queres refrescar a piolha.
E como quem está num Café, tudo ouve e tudo olha, sem aos políticos fazer fretes, sob o meu ouvido e olho, ficou o feminino de piolho prestes a refrescar-se em banho. E, denunciando falsa lazeira, ficou rambém o tamanho desalento do lavrador que não encontra gente que aceite trabalhar no campo para colher o azeite pendurado nas oliveiras.