Atendi o seu pedido e daí resultou a PORTA DO TEMPO, onde figura o texto, lavrado a laser, na Ourivesaria Almeida, em Castro Daire, extraído das INQUIRIÇÕES DE D. AFONSO III, (1258), onde se pode ler que Pedro Pelágio, de Folgosa, sendo ainda vivo, doou à igreja de Castro Daire uma «herdade foreira do rei, na proximidade do Paivó, no lugar chamado Relva».
É o documento mais antigo que encontrei ligado a esse «lugar», sito “no termino de PAIVÓ”.
Fiz a transcrição desse “documento” e, para melhor localização, recorri a um extenso texto ilustrado que, sobre o assunto, já tinha escrito em tempos idos, no meu site “TRILHOS SERRANOS”, espaço de comunicação onde, desde 2004, tenho divulgado muito produto das minhas investigações e reflexões sobre o passado próximo ou distante.
Hoje, e na sequência de um vídeo que alojei no Youtube a propósito da RODA DO CARRO DE VACAS, num tempo em que tais veículos vão desaparecendo da circulação (por desnecessários) e a TOPONÍMIA local é uma espécime em vias de extinção, quero deixar aqui, para a posteridade, alguns termos usadas na linguagem oral pelas gentes de Cujó, termos esses que as gerações escolarizadas, por força disso mesmo, por força da aprendizagem e uso das leis gramaticais, remeteram para a memória dos mais velhos.
Só estes, por enquanto, se lembram bem de tais termos. E se o HISTORIADOR tem o dever de alertar para a preservação do nosso património material, por exemplo templos, carreiros e caminhos, autênticos pergaminhos lavrados na pedra da calçada, todos eles cheios de história e de vida, os quais seria um crime, um atentado destruí-los em nome da modernidade e progresso (oxalá tenhamos autarcas esclarecidos para não cometerem tal atentado) o HISTORIADOR, dizia, não pode escusar-se a deixar escrito as formas abreviadas e/ou sincopadas da “fala”, dando substância à tão conhecida e divulgada expressão: “a falar nos entendemos”.
Com efeito, as gentes de Cujó, tinham por hábito, não sei por que motivo (mas julgo ser por precaução e prevenção em caso de desaparecimento imprevisto, resultante de uma queda ou qualquer acidente fortuito) dizerem aos vizinhos ou pessoas que encontravam nos caminhos, o lugar para onde se deslocavam, saindo da povoação. Sem precisar rigorosamente o sítio, usavam as expressões genéricas de grande amplitude geográfica, ligadas aproximadamente aos PONTOS CARDEAIS da aldeia: norte, nascente, este e poente.
Se iam para o lado de Várzea da Serra ou Almofala, iam “LA PIARRIBA”. Se iam para os lados de Pendilhe ou rio Mau, iam “LÁ PIALÉM”. Se iam para os lados de São Joaninho, ou Chandirão, iam “LA PIABAXO. Se iam para trás do Mancão ou da Santa Bárbara, para ao lados das Monteiras e da Relva, iam “PRA PAIVÓ”.
Eram expressões que abrangiam as terras limítrofes da povoação e por isso entendi ilustrar estas minhas palavras com um mapa do GOOGLE, por forma a deixar aqui um contributo escrito e visual da linguagem usada pelos naturais da Cujó, hábito que eu próprio mantive, mesmo depois de ter estado ausente muito tempo.
Só me dei conta disso, quando um dia, indo a sair da aldeia na companhia da minha esposa, que era alentejana, disse à primeira pessoa que encontrei, para onde ia. E fiz isso com a maior naturalidade do mundo, a ponto da minha esposa me perguntar: “tens alguma obrigação de dizeres para onde vais”.
Parei, refleti e concordei. “Não tinha”. Mas a interrogação ficou. E ainda hoje me pergunto: o que levaria os naturais de Cujó, a dizerem: vou “lá piarriba”, vou “lá pialém”, vou “lá piabaixo, vou “pra Paivó”?
Deixo as respostas para os meus amigos e conterrâneos, curiosos, estudiosos, engenheiros e doutores, pois se CUJÓ era uma aldeia conhecida antigamente por ser terra de “pedreiros”, hoje vai tendo a fama de ser terra de “doutores”.
LINK DO VÍDEO «PORTA DO TEMPO»
https://youtu.be/6vQWlaHm8rM