REQUALIFICAÇÃO URBANA
Um amigo meu facebookiano - o espanhol Juan José Garrido Adan - que, há meia dúzia de meses, conheci ocasionalmente a visitar o Museu Municipal de Castro Daire, fez o seguinte comentário à última foto que postei, em 18 de março de 2012 (vinda agora à superfície das MEMÓRIAS), sobre o Jardim Público de CASTRO DAIRE, em dois tempos: o «passado» e o «presente». Escreveu ele:
«Estou a ver que tinha mais árvores no passado. Não comparto (não partilho) a teimosia em criar descampados onde antes tínhamos fontes, árvores e passeios. Ate irrita-me e acho-o parvo de mais. (Com perdão:)»
A tal desabafo e desconsolo, desse cidadão espanhol, respondi, prontamente, com o seguinte esclarecimento:
«Em Castro Daire a REQUALIFICAÇÃO URBANA sofre de uma DOENÇA CONGÉNITA. Tudo o que se tem feito e visto em MORADIAS, LARGOS e RUAS é o testemunho material da IMPREPARAÇÃO e FALTA DE SENSSIBILIDADE HUMANA na relação do HOMEM com o MEIO. Com o património histórico natural ou edificado. E não faltam "estudos" académicos sobre a matéria. É só ir à Internet».
Ora, como há dias, a propósito da projetada conversão da antiga escola primária «CONDE FERREIRA, 1866» em CASA MORTUÁRIA sita em pleno núcleo histórico da vila, por decisão do atual EXECUTIVO MUNICIPAL, aludi aos atropelos urbanísticos que, sistematicamente, se têm feito na vila e no concelho (habitações, largos e ruas) lembrei dois casos flagrantes sobre os quais os vindouros virão sempre a culpar quem tal fez ou tal deixou fazer (por ação ou omissão) nomeadamente, a conversão do Escola António Serrado em Mercado Municipal e a inviabilização de um ESCADÓRIO que, partindo do Jardim Público, se estenderia até ao CALVÁRIO, dignificando não apenas aquele templo, mas toda a parte poente da vila. Choramos sobre leite derramado.
Em vez disso, inviabilizado que foi tal projeto por decisão municipal, vieram a fazer-se posteriormente, também por decisão municipal, as escadas que hoje sobem e descem nas traseiras dos edifícios construídos onde devia ser feito o ESCADÓRIO a que aludo. Quanto se gastou nessa obra? Que função e efeito estético urbanístico desempenha ela no tecido urbano da vila?
Escadas escondidas nas traseiras dos edifícios, já por mim subidas e descidas muitas vezes, mas ignoradas, seguramente, por muita gente, eis um bom exemplo de uma má decisão municipal. Para melhor acinte aqui deixo hoje, em fotografia dupla, uma pintura «naíf» do Jardim Público antigo e da vertente POENTE da encosta, cujo autor foi o antigo fotógrafo Delfim, natural do Porto, mas qui exilado, aquele que, em dias de festas e romarias, corria as aldeias a tirar «fotos à la minute» . Nela (foto da direita), sem ser arquiteto nem pretensões de usurpar funções alheias, acrescentei o inviabilizado e desejado ESCADÓRIO, a fim de colocar à frente dos olhos de todos os cidadãos, daqueles que vivem e daqueles que hão de nascer, o clamoroso erro de uma decisão executiva.
Voltando à vaca fria, tenho, pois, fortes razões para dizer e repetir que a «REQUALIFICAÇÃO URBANA, em Castro Daire, sofre de uma DOENÇA CONGÉNITA. Tudo o que se tem visto em HABITAÇÕES, LARGOS e RUAS é o testemunho material da IMPREPARAÇÃO e FALTA DE SENSSIBILIDADE HUMANA na relação do HOMEM com o MEIO. Com o património HISTÓRICO NATURAL ou EDIFICADO. E não faltam "estudos" académicos sobre a matéria. O caso vertente da conversão da escola primária «CONDE FERREIRA, 1866» em «CASA MORTUÁRIA» é mais um. Urge evitar que tal suceda. A requalificação/reabilitação do núcleo histórico do velho «crasto» quer VIDA, em vez de MORTE. Para moribundo já basta assim.
Abílio/março/2017