Com efeito, reparando, pela manhã, na vitrina posta à porta do CAFÉ CENTRAL, em Castro Daire, onde as AGÊNCIAS FUNERÁRIAS expõem o NOME e o ROSTO das pessoas falecidas, confirmo que, salvo algumas exceções, as “CARAS”, que ali vou vendo, pertencem à minha geração, entre os OITENTA e NOVENTA, a geração do pós GUERRA. Não bastavam as carências da época a que resistiram como heróis/heroinas - consequência das desavenças entre homens - ver-se-iam impotentes face pestilência trazida, agora, por um “bichinho” microscópico e suas variantes. Coisas essas que algumas «alimárias» lusas, na campanha eleitoral que decorre para as LEGISLATICAS DE 2022, negam e que se fossem poder «decretavam» o fim das VACINAS e medidas sanitárias que já evitaram milhares de mortos pelo mundo inteiro.
Ao ver isso, com muita coisa feita e tanta por fazer, sempre disposto a aprender e a ensinar, tenho aproveitado o meu tempo a dar VIDA ÀS COISAS MORTAS, antes que perca o pio, isto é, tenho-me dado à RECUPERAÇÃO E RESTAURO de VELHARIAS que aguardavam por isso nos fundos da minha moradia. Coisas mortas ou somente “ARRUMADAS” por falta de uso e/ou de espaço na parte quotidianamenre habitável.
Já dei conta, em vídeo e texto, que o “CORONAVIRUS” não me tolheu a mente, nem pernas, nem braços. Por enquanto. Mas, mal entrei em confinamento, botei nãos ao restauro da CHAARUA DE AIVECA MÓVEL, essa ferramenta que veio revolucinar a agricultura, havia séculos dependente da enxada e do arado de pau radial celta, impróprio para terras fortes e pesadas.
Nos últimos dias, enquanto espero que me cheguem às mãos as provas tipográficas dos dois livros que estão no prelo, (compilação de crónicas já publicadas (sugestão do meu filho mais velho NURO, e concordância tácita do mais novo VALTER) v.g. “PEGADAS MINHAS” e “RODA ENJEITADA”, procedi ao restauro e arrumação das CHAVES ANTIGAS, cá da casa (selos de segurança nos tempos que lá vão, fora de moda, agora, penso que só nas cadeias não) restaurei o LAVATÓRIO DOMÉSTICO que trouxe da casa dos meus pais, em Cujó (lavatório com bacia esmaltada, espelho e toalheiro, peça rara nos meios componeses) e, logo a seguir, botei mão à ANCORETA, aquele barril de tampos ovoides, muito usado para transporte de vinho, fosse para a lavoura, fosse para as obras, e bem assim a BORRACHA, sempre pronta a seguir viagem pendurada a tiracolo ou metida nos alforges de almocreve ou caminheiro. Disso tudo dei conhecimento.
Desta vez, e porque não sei estar parado (pelos vistos, nem calado) feita a minha rotina de leitura, de sesta e de escrita, fui vasculhar gavetas e caixotes cheios de pó, lá nos fundos. E esta minha animada atitude arqueológica levou-me a algo que foi pertença dos meus filhos, ainda crianças. Tal achado trouxe até mim a idade em que eles corriam para o colo da mãe e do pai, intervalando com o tempo que ocupavam a manipular os brinquedos que possuíam, aqueles que ali estavam. Eram carrinhos, animais, soldados, aviões e por aí arriba.
Separei os mais pequenos, e todos os qre eram de plástico ou de baquelite, meti-os na pia de pedra redonda que ornamenta o meu pátio de entrada, com água e detergente bastante, onde ficaram a amornar o tempo suficiente. Depois foi trabalho de mão e escova. Ficaram novinhos que nem saídos de fábrica.
Lavados, desinfetados e secos seguiu-se a fase de acondicionamento em recipientes transparentes e devidamente protegidos de pó e teias de aranha. E, num tempo , que se apela à reciclagem, as duas caixinhas de “FERRERO ROCHER” vazias, vinham mesmo a calhar. Ao agradável, (apetecia-me algo de bom, Ambrósio) juntava-se o útil. E ali estavam elas prontas a servir perfeitamente para o ARQUIVO de tempos idos, tempos bons e de família, representados em todos aqueles BRINQUEDOS que deram felicidade aos meus filhos e foram peças com as quais eles aprenderam algo deste mundo em que vivemos e convivemos: animais, humanos, árvores, plantas e meios de transporte, sempre em frente, «rompe e rasga e siga a rusga»
Entre tantos, oriundos do mercado, um deles me surpreendeu por ser obra da imaginação sua. Do NURO ou do VALTER. Não sei qual deles. Aconteceu, como dizia, entre tantos aparecer-me uma BESTA em miniatura, feita com um palmo de madeira e, à frente e de través, com um palmo de vareta de guarda-chuva com um fio torcido preso nos dois extremos e uma mola de roupa de orelhas cortadas a servir de garilho na parte posterior. A funcionar.
Bem imaginado e executado. Acreditem que fiquei radiante. Jamais me passaria pela cabeça fazer algo semelhante e quando fiz uma FISGA para o meu neto GUILHERME, a seu pedido, bem podia ter-lhe feito uma BESTA, copiando aquela peça que jazia morta e esquecida dentro de um caixote, entre os demais brinquedos, feita pelo pai, VALTER ou pelo tio NURO.
Finalmente, acabada a operação, devidamente acondicionados, resolvi colocá-los sob a ÁRVORE DA VIDA, que está dentro daquele recipiente de vidro a ornamentar o LAVATÓRIO que trouxe da casa dos meus pais, encostado à PINTURA encaixilhada, v.g. aquela MESA DE CAMPISMO pintada pela sua mãe MAFALDA que eu já tinha recuperado, há tempos.
Com tudo arrumadino, dei esta tarefa por terminada. Enfim, são as coisas, a sua substância e semântica humanas. São as COISAS. É a VIDA. É a HISTÓRIA com gente dentro.