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quinta, 20 janeiro 2022 16:15

ARCOS DE VALDEVEZ E FAIFA NO MONTEMURO

Escrito por 

INGRATIDÃO HUMANA

Quando se chega à minha idade e nos damos ao cuidado de desbobinar a fita cronológica onde está inscrita a nossa vida e a das pessoas que foram nossas amigas, surgem perguntas nunca feitas que, a fazê-las, ainda que tardiamente,  têm todo o sentido e as resposras nos ajudam a entender o nosso semelhante, os SERES HUMANOS que somos nesta teia de relações que travamos nos trilhos da vida. 

 Faifa-povoaçãoReflito hoje sobre os “ARCOS DE VALDEVEZ”, terra minhota, e “FAIFA”, na serra do MONTEMURO

A primeira - ARCOS DE VALDEVEZ - com Afonso Henriques na liça,  a figurar nos compêndios da HISTÓRIA DE PORTUGAL devido ao TORNEIO que ali teve lugar, em 1140, logo após a Batalha de Ourique e pouco antes do TRATADO DE ZAMORA, em 1143. 

Assim era ensinado a todos os meninos que frequentaram a QUARTA CLASSE nos anos 40/50 do século XX. Meninas? muito poucas. Em algumas escolas, nenhumas.

Da segunda - FAIFA - sita na serra do MONTEMURO, nem rasto, nem rosto. Nem uma linha escrita nos mesmos compêndios. O seu nome não entrava nas escolas do concelho de Castro Daire. Não estava ligada a qualquer episódio histórico relevante ou simplesmente não existia, lugarejo que fosse. 

Era o mais certo, pois só em 1258, tal topónimo aparece nas “Inquirições de D. Afonso III”, que diziam morar ali um casal a trabalhar a SEARA, terras pertencentes ao Cabido de Lamego.

Não estando, pois, estas terras ligadas uma à outra pela História nos primórdios da nossa nacionalidade, o que me leva a ligá-las e a referi-las neste apontamento? 

AMORIM-2012-1Tão só porque conheci e tive por amigo, MANUEL GONÇALVES DE AMORIM, homem de caráter, de sólidos amores e amizades, que tendo vindo ao mundo nos ARCOS, do mundo se despediu ligado a FAIFA por casamento, e nessa aldeia fez questão de ser sepultado junto à esposa pela qual se apaixonou, em Lisboa, por ali se terem cruzado nas andanças da vida.

Regionalista confesso,  incansável colaborador do jornal “Notícias de Castro Daire”, nunca o nome de FAIFA e suas gentes foram tão badaladas na imprensa. De relações sociais fáceis, apaixonado pelo ASSOCIATIVISMO, fazia-o por amor à aldeia, ao aoncelho que adoptou. Foi fundador não só da CASA DO CONCELHO EM LISBOA, mas também da COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO DE FAIFA.

A falta de vista veio a tolher-lhe todo o seu dinamismo e a amputação das pernas travaram-lhe todos os movimentos. Já sem vista, mas ainda com pernas, fiz-lhe uma entrevista, na sua casa, em FAIFA. É o vídeo cujo link anexo. E bem sentimos, na conversa dele e da família, quão ingratos foram para com ele os naturais da terra que ele tanto amou. E sou testemunha de que nunca ninguém a deu a conhecer ao mundo, tal qual ele fez. As terras, mesmo as mais ignotas, têm história e têm gente. Ouçamos e façamos justiça conforme a nossa consciência.

 https://youtu.be/1XMZBk9t7q8





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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.