INGRATIDÃO HUMANA
Quando se chega à minha idade e nos damos ao cuidado de desbobinar a fita cronológica onde está inscrita a nossa vida e a das pessoas que foram nossas amigas, surgem perguntas nunca feitas que, a fazê-las, ainda que tardiamente, têm todo o sentido e as resposras nos ajudam a entender o nosso semelhante, os SERES HUMANOS que somos nesta teia de relações que travamos nos trilhos da vida.
Reflito hoje sobre os “ARCOS DE VALDEVEZ”, terra minhota, e “FAIFA”, na serra do MONTEMURO.
A primeira - ARCOS DE VALDEVEZ - com Afonso Henriques na liça, a figurar nos compêndios da HISTÓRIA DE PORTUGAL devido ao TORNEIO que ali teve lugar, em 1140, logo após a Batalha de Ourique e pouco antes do TRATADO DE ZAMORA, em 1143.
Assim era ensinado a todos os meninos que frequentaram a QUARTA CLASSE nos anos 40/50 do século XX. Meninas? muito poucas. Em algumas escolas, nenhumas.
Da segunda - FAIFA - sita na serra do MONTEMURO, nem rasto, nem rosto. Nem uma linha escrita nos mesmos compêndios. O seu nome não entrava nas escolas do concelho de Castro Daire. Não estava ligada a qualquer episódio histórico relevante ou simplesmente não existia, lugarejo que fosse.
Era o mais certo, pois só em 1258, tal topónimo aparece nas “Inquirições de D. Afonso III”, que diziam morar ali um casal a trabalhar a SEARA, terras pertencentes ao Cabido de Lamego.
Não estando, pois, estas terras ligadas uma à outra pela História nos primórdios da nossa nacionalidade, o que me leva a ligá-las e a referi-las neste apontamento?
Tão só porque conheci e tive por amigo, MANUEL GONÇALVES DE AMORIM, homem de caráter, de sólidos amores e amizades, que tendo vindo ao mundo nos ARCOS, do mundo se despediu ligado a FAIFA por casamento, e nessa aldeia fez questão de ser sepultado junto à esposa pela qual se apaixonou, em Lisboa, por ali se terem cruzado nas andanças da vida.
Regionalista confesso, incansável colaborador do jornal “Notícias de Castro Daire”, nunca o nome de FAIFA e suas gentes foram tão badaladas na imprensa. De relações sociais fáceis, apaixonado pelo ASSOCIATIVISMO, fazia-o por amor à aldeia, ao aoncelho que adoptou. Foi fundador não só da CASA DO CONCELHO EM LISBOA, mas também da COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO DE FAIFA.
A falta de vista veio a tolher-lhe todo o seu dinamismo e a amputação das pernas travaram-lhe todos os movimentos. Já sem vista, mas ainda com pernas, fiz-lhe uma entrevista, na sua casa, em FAIFA. É o vídeo cujo link anexo. E bem sentimos, na conversa dele e da família, quão ingratos foram para com ele os naturais da terra que ele tanto amou. E sou testemunha de que nunca ninguém a deu a conhecer ao mundo, tal qual ele fez. As terras, mesmo as mais ignotas, têm história e têm gente. Ouçamos e façamos justiça conforme a nossa consciência.
https://youtu.be/1XMZBk9t7q8