Eu bem me lembro daquela erva daninha também chamada grama, que em maio ou setembro, asinha, em tempo de sementeira, matreira, só largava a subterrânea cama à força do arado ou do fio da enxada.
Como se fosse gente, inteligente, às vezes essa erva, serva da terra, lá escapava ao lavrador inexperiente, descuidado que não distinguia o trigo do joio, que não distinguia a semente que semeava da erva daninha que a semente lhe comia e com ela se regalava.
Que felicidade a minha ter sido lavrador, cavador de enxada e bem distinguir essa erva daninha, serva da terra, também chamada grama, sobrevivente do passado e do porvir, certo dela, danada, atravessar tempos, campos e vidas. É a força da natureza. E, às vistas ou às escondidas, ela só prova a sua existência e a sua identidade: seu nome é escalracho, grama, continha a continha, erva daninha de sábia ciência, que, disfarçada, só engana quem da lavoura não tem experiência, quem do campo não sabe nada.
Abílio/abril/2016