Perguntam o que faço aqui
E mil respostas logo dão
Mas nenhuma ainda eu vi
Sobre o custoso trabalhão
Que fiz por todo o lado
Cavando leiras de cabo a rabo
Naquele obrigatório labor
Que era do cavador
De regar com suor o chão.
Reduzida que fui a sucata
Depois da batalha a cavar
Campos e campos sem parar
P'ra milho, batata e cebolo
Restou apenas este meu olho
Que meteram nesta parede
A intrigar a gente que passa.
Perguntas que chegam à rede
Da internet, no Facebook
Espaço de muito saber e truque
Disso estou eu bem segura.
Dizem que prendo burro e burra
Mas quero afirmar com ternura
Mesmo que seja pela última vez
Que neste meu fim inglório
Sou um documento histórico
Basta saber olhar e ler
Tudo o que tenho para dizer
Sobre o honrado camponês.
Celestino Pereira O seu poema, Dr Abílio,
Deu nova vida à enxada
Que foi feita por outro Abíiio,
Em ferro e aço moldada.
A cavar leiras rompeu a pá, em vida lenta,,
Movida a suor que escorria pelo cabo.
Ficou o olho, a que outro destino foi dado:
Prender burro e jumenta.
Agora, ali permanece, olho aberto,
A lembrar a quem passa por perto
O que foi como ferramenta,
E a semear memórias por todo o lado,
o quanto a saudade aguenta.
Amigo poeta Abílio, obrigado.
Abílio Pereira de Carvalho
Pois, amigo Celestino
Valeu a pena a escrita
Em torno da velha enxada
Metida numa parede
Trazida a esta rede
Numa foto bem tirada.
Temos o mesmo destino
Se calhar a mesma desdita
De ambos estarmos no exílio
Propensos à versalhada.
Mas digo
Amigo:
Se um Abilio
Fez o verso
Outro Abílio fez a enxada.
Seio-o agora, por si dito
Verdade em que acredito
Vinda de longe ou de perto.
O certo
É que ela, enxada,
Fruto da arte, suor e trabalho
Moldada
Que foi em Cujó
Entre a safra e o malho
Chegado que foi o seu fim
(A vida é assim)
Digo-o com muita ternura
E nisto não estou só
Ela é um livro bem aberto
Mesmo a prender burro ou burra.
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Abílio Pereira de Carvalho Pois, amigo Celestino
Valeu a pena a escrita
Em torno da velha enxada
Metida numa parede
Trazida a esta rede
Numa foto bem tirada.
Temos o mesmo destino
Se calhar a mesma desdita
De ambos estarmos no exílio
Propensos à versalhada.
Mas digo
Amigo:
Se um Abilio
Fez o verso
Outro Abílio fez a enxada.
Seio-o agora, por si dito
Verdade em que acredito
Vinda de longe ou de perto.
O certo
É que ela, enxada,
Fruto da arte, suor e trabalho
Moldada
Que foi em Cujó
Entre a safra e o malho
Chegado que foi o seu fim
(A vida é assim)
Digo-o com muita ternura
E nisto não estou só
Ela é um livro bem aberto
Mesmo a prender burro ou burra.
Abílio/abril/2016