Trilhos Serranos

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sábado, 23 abril 2016 10:05

A ENXADA

Escrito por 


Fui nova e cortante enxada

Desbravei e cavei o chão

Sou sucata abandonada

Metida assim neste paredão.

Nas tendas de Cujó fui forjada,

Nas tendas dos Camelos e Ramalhos

Todos hábeis a manejar
Ferro, martelos e malhos
Invernos seguidos sem parar.


Perguntam o que faço aqui
E mil respostas logo dão
Mas nenhuma ainda eu vi
Sobre o custoso trabalhão
Que fiz por todo o lado
Cavando leiras de cabo a rabo
Naquele obrigatório labor
Que era do cavador
De regar com suor o chão.


Reduzida que fui a sucata
Depois da batalha a cavar 
Campos e campos sem parar
P'ra milho, batata e cebolo
Restou apenas este meu  olho
Que meteram nesta parede
A intrigar a gente que passa.
Perguntas que chegam à rede
Da internet, no Facebook
Espaço de muito saber e truque
Disso estou eu bem segura.
Dizem que prendo burro e burra
Mas quero afirmar com ternura
Mesmo que seja pela última vez
Que neste meu fim inglório
Sou um documento histórico
Basta saber olhar e ler
Tudo o que tenho para dizer
Sobre o honrado camponês.



Celestino Pereira O seu poema, Dr Abílio,
Deu nova vida à enxada
Que foi feita por outro Abíiio,
Em ferro e aço moldada.
A cavar leiras rompeu a pá, em vida lenta,,
Movida a suor que escorria pelo cabo.
Ficou o olho, a que outro destino foi dado:
Prender burro e jumenta.
Agora, ali permanece, olho aberto,
A lembrar a quem passa por perto
O que foi como ferramenta,
E a semear memórias por todo o lado,
o quanto a saudade aguenta.
Amigo poeta Abílio, obrigado.




Abílio Pereira de Carvalho 

Pois, amigo Celestino
Valeu a pena a escrita
Em torno da velha enxada
Metida numa parede
Trazida a esta rede
Numa foto bem tirada.

Temos o mesmo destino
Se calhar a mesma desdita
De ambos estarmos no exílio
Propensos à versalhada.
Mas digo
Amigo:
Se um Abilio
Fez o verso
Outro Abílio fez a enxada. 
Seio-o agora, por si dito
Verdade em que acredito
Vinda de longe ou de perto.
O certo 
É que ela, enxada,
Fruto da arte, suor e trabalho
Moldada 
Que foi em Cujó
Entre a safra e o malho
Chegado que foi o seu fim
(A vida é assim) 
Digo-o com muita ternura
E nisto não estou só
Ela é um livro bem aberto
Mesmo a prender burro ou burra.





















Abílio Pereira de Carvalho



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Abílio Pereira de Carvalho



Abílio Pereira de Carvalho Pois, amigo Celestino
Valeu a pena a escrita
Em torno da velha enxada
Metida numa parede
Trazida a esta rede
Numa foto bem tirada.

Temos o mesmo destino
Se calhar a mesma desdita
De ambos estarmos no exílio
Propensos à versalhada.
Mas digo
Amigo:
Se um Abilio
Fez o verso
Outro Abílio fez a enxada. 
Seio-o agora, por si dito
Verdade em que acredito
Vinda de longe ou de perto.
O certo 
É que ela, enxada,
Fruto da arte, suor e trabalho
Moldada 
Que foi em Cujó
Entre a safra e o malho
Chegado que foi o seu fim
(A vida é assim) 
Digo-o com muita ternura
E nisto não estou só
Ela é um livro bem aberto
Mesmo a prender burro ou burra.















Abílio/abril/2016


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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.