Pois assim seja! Assim a onteceu hoje, como um relâmpago no escuro (como explicas isso Damásio, que estás da neurociência seguro? Tu, António, que tudo sabes sobre cada neurónio?)) de retorno a Castro Verde, regresso de Beja, onde faço o estágio de professor, paro a Dyane, penetro seara dentro, olho em redor, absorvo o ar abafado de tudo o que mexe e foge. O trigal, em qualquer direcção da herdade, é terra viva, um mar de pão que, de onda em onda, dá a ilusão de fugir dali, querer deixar o chão, mas no chão fica, sem piedade. Acompanha-me a minha mulher, Mafalda, e no doirado da palha vemos e colhemos uma papoila vermelha. E chega-nos à orelha o canto de uma codorniz, dita nas Beiras, "quercolher". Quem havia de dizer? Quantos anos já lá vão! Na memória nada se perde. E, foi assim que, sem pedir, nem pensar, hoje, de regresso a Castro Verde, eu me vi o Alentejo, assim, tão real, como naquele dia que parei a Dyane e me meti no trigal.
Abílio/fevereiro/2016