Com a imagem dos pobres que, de canudo a tiracolo, corriam as aldeias de Castro Daire na minha meninice, a pedir esmola (vejam a quantos quilómetros de distância!) juntei um molho de versos com o título "O MENDIGO e concorri. Ganhei uma MENÇÃO HONROSA e dei por ela agora com a tinta do carimbo e a assinatura do presidente do júri quase apagadas. Era um militar graduado, mas cuja patente ignoro. Eis essa "obra-prima" e respectiva compensação.
O MENDIGO
Procurando algo que não tem
Lá se vai o mendigo rua fora
Ninguém sabe d'onde é que ele vem.
Ninguém sabe onde é que ele mora.
Passando por este ele pede esmola
Passando por aquele pede também
Àquele outro abre a rota sacola
Mais a dez, vinte, cinquenta, cem.
Fogem dele as crianças em corrida
Porque as mães p'ra sopa verem comida:
- Olha o pobre! - lhes dizem, em meninos.
Pelo pó dos seus lázaros caminhos
E palheiros que ele tem por guarida
Vai ele arrastando a miserável vida!
Abílio/Milange/1965