2 - Venho hoje demonstrar, com factos, que nem sempre pregamos no deserto e, por vezes, o sermão ecoa nas dunas do seco areal que nos rodeia. Há coisas, ao nível local, que, trazidas à luz da imprensa ou das redes sociais, não podem deixar de ser alvo de discussão e decisão política por parte do Executivo Municipal, sob pena do mesmo não exercer, nem cumprir as obrigações para que foi eleito. E uma delas é a preservação do nosso património histórico, material e imaterial.
3 - Pois bem, lembram-se dos meus escritos sobre a FONTE DA LAVANDEIRA, da FONTE DE NOSSA SENHORA e da COLUNA DE GRANITO, esta sita na colina da Sobreira, ali, ao lado do antigo caminho dos Braços, que foi deslocada do topo do outeiro para servir de apoio a um telheiro, recentemente levantado, a cobrir um Cruzeiro de Alminhas, obra que, intencionalmente ou não, conduzia à ideia clara da desvalorização histórica da peça mais antiga e, consequentemente, à valorização da mais moderna?
4 - Pois é verdade. A Câmara Municipal, justiça pública lhe seja feita, face ao meu veemente protesto, lavrado em privado e em público, vistos os vídeos e as crónicas que sobre isso eu já tinha publicado no Youtube, no meu site e no jornal local, apressou-se a remediar o melhor possível os danos causados, através do vereador do Pelouro da Cultura, Dr. Rui Braguês, em resultado do que a coluna deixou de ser a muleta arquitectónica do telheiro e voltou, ela própria, a ser o "monumento" que sempre foi, carregado de patine natural e simbolismo lendário que bem pode emprestar significado histórico ao cruzamento onde, há séculos, foi implantada e, à qual, seguramente, em tempos posteriores, se juntou o Cruzeiro das Alminhas, já que é historicamente conhecido o poder da igreja absorver e chamar a si todos os lugares onde se praticavam cultos pagãos, apagando ou substituindo os respectivos símbolos. Desta vez não levou a melhor!
A isto chama-se respeito pelo nosso património MATERIAL E IMATERIAL e, por isso, eu, que tenho passado anos a investigá-lo e a divulgá-lo, não podia deixar de fazer este registo e louvar publicamente o Executivo Municipal, pela decisão tomada e, desse modo, transmitir aos vindouros os elementos de uma narrativa que falam da nossa terra e das nossas gentes. Ali, no velho caminho por onde transitavam, obrigatoriamente, todos os habitantes da corda do Paiva que, passando pelo medieval Mosteiro da Ermida (livro de história e de símbolos, escrito em pedra) se deslocavam a Castro Daire e vice-versa, conhecedores da lenda do "sino-saimão", do "sino sem mãos", do "santomião", do "signum salomonis", do "selo de Salomão", da estrela, pentalfa ou hexagrama que tinham de desenhar no chão e saltarem para dento dela, para assim se defenderem das "forças invisíveis" que, por vezes, ali atacavam os transeuntes, tal como escrevi e deixei em vídeo, antes de ser dado à estampa, pelo Circulo dos Leitores, o livro "Forças Invisíveis, Imaginário Medieval" do historiador José Matoso, que acabo de adquirir.
6 - Digamos que, sobre a FONTE DA LAVANDEIRA e da FONTE DA NOSSA SENHORA, as coisas, segundo o que me foi dito, estão mais atrasadas, mas serão resolvidas igualmente com respeito pela história e defesa do interesse público, não deixando que algum particular se aproprie desse nosso BEM COMUM que é a ÁGUA, um produto cada vez mais precioso. Aguardemos, portanto.