Prende-se essa lenda ao PENEDO DA PÚCARA, existente num monte sobranceiro ao povoado. Semelhantemente a outras lendas espalhadas na serra, nomeadamente na Relva, freguesia de Monteiras, o penedo terá chegado ali à cabeça de uma MOURA que, no trajeto, com o filho sentado em cima dele, ainda fiava na sua roca.
Mas, diferentemente da lenda da Relva, este penedo tem no seu interior algo de muito bom e de muito mau. Nada menos do que duas ARCAS, uma cheia de OURO e outra cheia de PESTE. Duas coisas que podem arrasar a povoação, caso se rebente com o penedo. Se for aberta a ARCA DO OURO, uma felicidade. Se for a ARCA DA PESTE, o contrário.
Mais palavra menos palavra, foi assim que me foi contada, mesmo ao seu lado. Só que nenhum dos narradores, ambos naturais de BUSTELO, se deu conta que eu estava a ver ali, na curva do penedo, o «ROSTO» do GUARDIÃO DO TESOURO. Aquele que, seguramente para surpresa dos residentes, aqui destaco na fotografia que ilustra este apontamento. Antes porém uma palavrinha sobre o nome. PENEDO DA PÚCARA ,que o mesmo é dizer, da ARCA DO TESOURO, já que era em ARCAS, em TALHAS, PANELAS E PÚCARAS que se escondiam os TESOUROS nos tempos conturbados das guerras e invasões.
COISAS SOBRE LENDAS (2)
No post anterior, aludi ao GUARDIÃO DO TESOURO, aquele “ROSTO” que, disfarçadamente, aflora na superfície do PENEDO DA PÚCARA, alcandorado no monte sobranceiro à povoação de BUSTELO. Um rosto disfarçado que escapou, até hoje, ao “mais pintado” dos pastores naturais daquela aldeia que por ali andaram a guardar gados e a cortar matos.
Mas a um observador atento, habituado à leitura de documentos, esccitos, humanos e naturais, líticos que sejam, ali verá, mesmo sem lupa, um MOURO de barbas e bigode fartos, com o alfange escondido, prestes a utilizar e a enfrentar o CRISTÃO que se atreva a rebentar o penedo. No meu livro “Lendas de Cá, Coisas do Além”, relato a lenda do PENEDO DO GUEIDÃO, que existiu nas proximidades do Mosteiro (Castro Daire) que foi rebentado por um jovem pastor. E ao fazê-lo, não só pôde usufruir do tesouro, mas também da MOURA que, ENCANTADA, dentro dele morava.
Mas o post que hoje trago a público, mostra dois elemento líticos , uma CABEÇA DE SAPO situada nas proximidades do PENEDO DA PÚCARA, cujo nome lhe está perfeitamente adequado, pois assim se designavam as vasilhas (pote, panela, talha, arca, púcara) muito usadas para esconder tesouros de gente em fuga, nos tempos da CONQUISTA DOS MOUROS e consequente RECONQUISTA CRISTÃ na Península Ibérica.
O post de hoje, dizia, a CABEÇA DE SAPO, à semelhança desse ROSTO, também tem escapado aos olhos dos naturais de Bustelo que por aqueles montes fizeram vida. Foi isso, pelo menos o que me disseram o senhor Manuel Matias e o seu cunhado José Carvalho que por ali andaram comigo no dia 24 de julho deste ano de 2018.
Não me escapou, porém, a mim, que pela primeira vez pisei aqueles montes. E mais. Se repararem bem, ao lado esquerdo da CABEÇA DE SAPO, existe um outro PENEDO que termina em forma de BOCA DE GOLFINHO, assim a modos que a querer dar um BEIJO. Não fosse o golfinho o animal mais beijoqueiro que se conhece nos nossos aquários de entretenimento, cultura e diversão.
Ora como muito bem sabe toda a gente de mediana informação e cultura não falta literatura em cujas narrativas existem PRÍNCIPES ou PRINCESAS disfarçadas de SAPOS.
Temos aqui, pois, mais uma dessas narrativas que nunca foi contada. Nem escrita, nem falada. Passa a sê-lo a partir de hoje, neste meu espaço, pela minha mão e sob a minha responsabilidade. Numa versão adequada aos tempos que passam, isto é, em vez de ser o SAPO a beijar a PRINCESA, gesto que pode ser considerado “uma agressão sexual”, foi uma PASTORINHA de tempos idos que, fixando o SAPO, e julgando estar ali um PRÍNCIPE ENCANTADO, lhe ferrou um libidinoso beijo naquela BOCARRA, em forma de foice sem cabo.. Só que, acto contínuo, não sendo a pessoa certa, em vez de desencantar o PRÍNCIPE, pelas artes mágicas que envolve todo o imaginário contido nas lendas, a PASTORINHA e o BEIJO foram transformados no GOLFINHO petrificado. E foi assim que SAPO e GOLFINHO ali ficaram feitos pedra, ao lado um do outro, qual SUPLÍCIO DA TÂNTALO, para dissuasão das demais PASTORINHAS aventureiras.
Pena foi eu ter descoberto só agora estes elementos. Se tivesse sido em 2004, eles constariam do meu livro “Lendas de Cá, Coisas do Além”, uma parte deste PORTUGAL LENDÁRIO, serrano e profundo, em cujos serões a LITERATURA ORAL era rainha, sempre recheada de lendas sobre bruxas, lobisomens e mouras encantadas.