INDÚSTRIA ARTESANAL
Um ditado antigo diz-nos que «não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe», e, semelhantemente, por conveniência da narrativa, eu associo hoje esse ditado aquele outro que nos diz «não há fome que não dê em fartura». Explicando:
Nos anos 50 do século XX, quando eu e outros meninos da minha igualha, fazíamos baloiço nos maços do pisão do rio Mau, pum catrapum, às escondidas do meu primo pisoeiro, Abel Dimas, enquanto ele estendia as teias pisoadas pelo lameiro dos meus pais abaixo, não havia a parafernália de objetos que hoje existem ligados à fotografia. Atualmente é rara a criança que não dispõe de um telemóvel e basta virá-lo para o alvo pretendido, fazer um clic e já está. O objeto fotografado, em menos de nada, corre o mundo inteiro, através da Internet e Facebook.
Como não era assim nos meus anos de infância, outro remédio não tive senão socorrer-me dos estudos e da MEMÓRIA para elaborar o desenho do mecanismo que publiquei no meu livro «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura», bem como no meu site «trilhos-serranos.com» e aqui se publica também.
Em 1975, posicionado na encosta do Medroso, isto é, na margem esquerda do Rio Mau, tirei a foto que já publiquei nesta página, mostrando o estado desse complexo industrial artesanal, seja o de moagem, seja o de tecidos. De pé, e prontos a laborarem ainda, estavam os moinhos, mas em ruínas já estava o pisão. Os seus maços deixaram de se ouvir na década de 60.
Seguro de ser um equipamento que passaria à história sem memória, ligado aos meus avós, pai, tios e primos, pedi ao meu cunhado João Duarte Bernardo que, com um seu companheiro de ofício, fizessem a réplica que hoje existe no Museu Municipal, como já dei nota em crónica anterior.
Não satisfeito com isso e porque a esse complexo «industrial» me ligam os laços afetivos de família e de infância, servindo-me da fotografia que tirei em 1975, resolvi fazer a «RECONSTITUIÇÃO» possível desse engenho, sempre apoiado nos estudos e na MEMÓRIA, com vista a fazer perdurar no tempo o equipamento donde saiu o BUREL com que se vestia a grande maioria dos camponeses da redondeza. E bem me lembro das minhas calças de burel, colete de burel e casaco de burel, tudo de burel e, em tempo de frio e de chuva, a histórica capucha, cuja serventia - multiusos - tão bem explicou em vídeo, a minha cunhada Isabel. É só navegar no YOUTUBE.
São as imagens que ilustram este meu registo, mais um, sobre a minha terra natal, os seus valores e as suas gentes.