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sábado, 27 junho 2020 18:35

AS PALAVRAS NA ARQUEOLOGIA

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CRUZADOS, PATACOS E REIS

Iniciado nos estudos da ARQUEOLOGIA pelo Professor António Cavaleiro Paixão, na Faculdade de Letras de Lourenço Marques, durante as exploração que fizemos numa estação PALEOTÍTICA no sítio do MASSINGIR, que ficaria submerso logo que enchesse a barragem que então ali se estava a construir, ficaram-me na memória as técnicas dessa “ciência” e os artefactos que enriquecem o espólio pré-histórico daquela Universidade. E também os quilómetros de estrada que separam aquele sítio de Lourenço Marques, percorridos destemidamente sozinho, durante a noite, metido no meu carro IZUZU BELET.  Zona de fauna selvagem e estradas de terra batida, ao ponto do carro ter mudado de cor ao fim do percurso. Os quilómetros andados, deixo-os para os curiosos e aventureiros que se metam a corrê-los nos mapas da Internet. Isto para memória dos meus filhos e netos, quando um dia, puserem os olhos naquele território e poderem dizer: “o meu avô esteve e passou por aqui”.

1Nunca mais soube deste Professor, da esposa e demais colegas de estudo que participaram nessa tarefa universitária. Mas guardo fotografias do grupo com aquela saudade dos tempos, das amizades e da consciência de ter dado o meu contributo ao avanço neste ramo de conhecimento.

Por analogia, em muitas das minhas crónicas recorro ao conceito de “CAMPO ARQUEOLÓGICO”, não no sentido físico como era ali, naquelas escavações, mas no sentido psicológico, como deixo claro, sempre que me refiro ao CAMPO ARQUEOLÓGICO DO PENSAMENTO, em estudo dirigido, ou quando, ocasionalemtne, me deparo com “artefactos” de comunicação verbal ou escrita, hoje esquecidos, mas que eram frequentes na minha juventude, entre pessoas idosas. 

2Já me referi abundantemente, em crónicas anteriores alojadas neste meu site, às expressão “três vinténs” e à sua conotação corrente.

Hoje, joeirado que foi o material recolhido, nesse “CAMPO ARQUEOLÓGICO” ficou-me na joeira (na peneira) uma moeda antiga designada por PATACO.

Moeda fora de uso no meu tempo de criança, digamos que morta com o advento da República, o “pataco”, o “cruzado” e os “reis” permaneceram vivos na linguagem corrente dos negócios. Os “DEZ ESCUDOS REPUBLICANOS” equivaliam aos “DEZ MIL REIS” monárquicos. E até que os “reis” desaparecem do léxico corrente, passou muita água por baixo das pontes.

DEZ ESCUDOS=DEZ MIL REIS. VINTE ESCUDOS=VINTE MIL REIS. CINQUENTA ESCUDOS=CINQUENTA MIL REIS, etc. etc. 

patacoE se, num qualquer negócio, se queria desvalorizar o produto à venda, logo o comprador dizia: “isso não vale um PATACO”. Se o emigrante retornava à Pátria com sinais evidentes de riqueza, tinha encontrado lá fora “a árvore das patacas”. Se os produtos de consumo não eram caros, tinhamos “o vinho a tostão e o bacalhau a pataco”. E se uma pessoa, num golpe de sorte, comprou bens de raiz e os viu valorizados posteriormente, ou se os negócios da vida lhe correram a favor, logo vinha a expressão: “hoje é rico, mas começou com dois patacos”.

O melhor, contudo,  é ouvir o meu pai, Salvador de Carvalho (n.1906 e f.1996) numa conversa que, em 1991, teve com o meu irmão António, filmado em Cujó por Firmino Costa:

 https://youtu.be/YXUE-cO5QEk




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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.