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sexta, 08 novembro 2019 17:46

CASTRO DAIRE - RETALHOS DE HISTÓRIA

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PASSADO VIVO

Quem navega nos suportes de escrita analógicos, que não só os trazidos pelas novas tecnologias (das quais faço uso, com muito proveito) cirandando pelas ruas e ruelas da nossa vila ou pelas suas povoações aninhadas na serra, tem sempre que contar, que divulgar e que aprender. Falo de livros e de jornais. 

 

rua das hortas - Cópia1 - NOME DE RUA

Recentemente, ilustrado com o recorte de uma notícia inserta no jornal “A Voz do Paiva” de 1950, repus, neste espaço, parte do curriculum académico do Dr. Albano Pereira Júnior, natural de Santa Margarida, cidadão que, no exercício da sua profissão e ciência a que se dedicou, lá por Lisboa, não esqueceu o nome da sua terra natal, divulgando por todas as boticas e farmácias do país inteiro o nome “DAIRE” incluído na marca dos fármacos que se manipulavam e saíam do seu laboratório, sito na capital (cf. Biografia).

Hoje coloco aqui outro recorte do mesmo jornal, notícia que se reporta a um MELHORAMENTO LOCAL, nada menos do que a abertura e saneamento da rua que vai da capela de S. Sebastião à estrada número 7, provisoriamente designada “RUA DAS HORTAS”.

O terreno foi cedido “gratuitamente” pelo senhor ANTÓNIO MONTEIRO MARQUES, mas, se o jornal não fizesse disso notícia, ninguém saberia hoje esse nome, nem a atitude pessoal que tonou, cedendo algo de seu, em BENEFÍCIO PÚBLICO.

O nome da “RUA DA HORTAS” foi logo questionado pelos edis da altura, nomeadamente pelo Presidente da Câmara, Dr. Luís Azeredo Pereira e redatores do jornal, pois “RUA DAS HORTAS” era lá nome que se desse a uma via urbana?

Então, se no pensamento dos edis e redatores do jornal, tal nome desonraria a toponímia urbana castrense, mais honrados teriam sido eles se lhe dessem o nome do proprietário do terreno que, em BENEFÍCIO PÚBLICO, cedeu “grátis” algo de seu. E não fazendo isso, bem andariam também os edis e comentadores se, em alternativa, se tivessem lembrado do Dr. Albano Pereira Júnior, que desde 1944 era professor “assistente na Faculdade de Farmácia” em Lisboa, honrando e divulgando o nome da terra que o viu nascer.

Mas não. Sendo os dois castrenses e, comprovadamente, amigos da sua terra, ao que parece nenhum deles “cantava o fado”. E no critério do HISTORIADOR ambos são “GENTE MORTA” que merece ser lembrada.

Mendicidade

 

 

2 - SAUDOSISMO E MENDICIDADE

Repudiando clara e abertamente o SAUDOSISMO que se vai respirando nas redes sociais, querendo-me fazer crer que “antigamente é que era bom”, havendo mesmo quem cante loas ao deputado que tomou assento na ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA que encarna ideologicamente esse tão elogiado tempo passado, nada melhor do que avivar a MEMÓRIA dessas pessoas com documentos do tempo, v.g. com o retalho de “A Voz do Paiva” de 1950, jornal que só saía para as bancas com o carimbo “VISADO PELA COMISSÃO DE CENSURA”.

Desta vez a notícia é sobre os PEDINTES que, aos sábados, enxameavam as ruas da vila.

Isto, em Castro Daire. Mas em Castro Verde, onde lecionei alguns anos e fiz algumas pesquisas escritas e ouvi pessoas, também aos sábados, os “sem terra” batiam porta a porta esmolando. E os “proprietários” caridosos tinham o cuidado de, na véspera, desfazer NOTAS em MOEDAS para darem “UM ESCUDO” a cada natural que lhe batesse à porta.

A mim, esses músicos não me dão música..esses tais que entoam tais hinos.

 

 

 

3 – CORONEL SERRADO

 

Serrado - CópiaE o periódico cá do sítio nunca esquecia o nome do benfeitor «Serrado», sempre que ele se deslocava a Portugal e deixava o seu rasto benemérito. Atente-se nota «local» deixada em letra de forma, relativa à CANTINA ESCOLAR e às refeições que os alunos carenciados saborearam na altura.. Talvez ainda haja por aí gente que se lembre e grata ficou eternamente à pessoa. Mas outros ingratos serão, pois de tudo há na vida. E quem negar a miséria desse tempo, tem de ler o que ficou escrito.

Foi graças a esta família Serrado, António Serrado, que se construiu a SEGUNDA ESCOLA PRIMÁRIA nesta vila. E também as doações em dinheiro que permitiram, muitas das nossas crianças em idade escolar, ir ver o mar. Mas isso conto eu em pormenor no meu livro «Castro Daire, os Nossos Bombeiros, a Nossa Música», que parece desgostar alguns castrenses. Eles lá terão as suas razões. Só que a HISTÓRIA não perdoa. As boas e más ações ficam com quem as pratica. E se hoje se escondem, amanhã vêm à superfície, como o azeite.

 

 

barraca dos bombeiros4 - A BARRACA DOS BOMBEIROS

No meu livro “Castro Daire, os Nossos Bombeiros, a Nossa Música”, editado em 1995, pela Câmara Municipal, relato a iniciativa que vemos no recorte de jornal que hoje aqui reproduzo.

E, nesse livro, acrescentei informação que a notícia do jornal omite. O animador e “locutor” de serviço, aquele de punha música e falava, isto é, que era verdadeiramente a “VOZ DA BARRACA”, era o senhor Carlos Alexandre Pinto, o mais novo da família castrense com esse apelido.

Convivi com dois desses familiares e escrevi uma extensa crónica sobre o irmão que foi militar integrado no Corpo Expedicionário Português para a Índia. Servi-me da correspondência que me foi cedida pelo irmão Júlio. É só pesquisar neste meu site TRILHOS SERRANOS escrevendo o nome de Aurélio Alexandre Pinto, ou AMOR EM TEMPO DE GUERRA.

lobos Mosteirô - Cópia

 

 

5 - LOBOS QU’É DELES? – 1950

Nestes tempos que correm, não são os lobos, mas sim os javalis. Em 2014 publiquei o RETALHO tirado da imprensa local e hoje repito, mas desta vez - ano de 1950 - para mostrar que eles, os lobos, entravam ali por MOSTEIRÔ adentro, freguesia de PEPIM.E lá por Alva também era terra de gente, gado e lobos.

Quem quiser saber algo sobre a NATUREZA e poder comparar tempos IDOS com os tempos ATUAIS terá de pesquisar, ler, publicar e concluir. Ora então digam lá os amigos ”caçadores” de notícias e de “feras” o que pensam sobre isto.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.