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terça, 03 setembro 2019 07:16

CASTRO VERDE - QUADROS DA IGREJA DOS REMÉDIOS 3

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OS DOCUMENTOS E A HISTÓRIA

Entre essas transcrições dos muitos documentos que consultei nos arquivos de Castro Verde (Alentejo),enquanto ali fui professor na Escola Preparatória daquela vila, estão aquelas que se referem aos contratos de «arrematação» das pinturas dos quadros da Igreja da Sª dos Remédios.

 

IORDEM DE ATAQUEAs recentes solicitações, presenciais e/ou por via telefone, que o actual proprietário da herdade do Mourão, senhor engenheiro Manuel Joaquim Palma e o Dr. Paul Rudé me fizeram para esclarecer alguns pontos do meu livro «História de Uma Confraria ? 1677-1855», editado pela Câmara Municipal, em 1989, devido a um empreendimento que pretendem levar a efeito no sítio da «Fonte Santa», levaram-me a reler a obra e a consultar de novo as fichas, apontamentos e transcrições que mantenho em arquivo, sobre os muitos documentos manuscritos que  consultei enquanto estive, como professor, na Escola Preparatória de Castro Verde.

            Entre essas transcrições estão aquelas que se referem aos contratos de «arrematação» das pinturas dos quadros da Igreja da Sª dos Remédios. Já sobre o assunto me debrucei no «Campaniço» em devido tempo. Mas, na altura, ainda que tenha transcrito parte do primeiro contrato feito com Diogo Magina, em 1763, e tenha aludido a outro que os «vereadores» Câmara fizeram no ano seguinte, creio ser de todo o interesse «digitalizar» esse contrato na íntegra publicá-lo no «Campaniço». Será que o livro onde ele foi exarado ainda existe? Dessa forma, sempre se preservará por mais tempo e se proporcionará aos seus leitores mais esta ferramenta de reflexão sobre obras de decoração, de arte e a identificação do autor que por essa via ainda não morreu. Ora veja-se:

«Termo de contrato e ajuste que com aprovação do Doutor Provedor fizeram os oficiais da Câmara com o Mestre e Pintor Diogo Magina» inserto no «Livro das Arrematações da Igreja da Nossa Senhora dos Remédios de 1747-1837», fls. 32v-34v

 Ano do nascimento de Nossos Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e quatro, sendo aos trinta dias do mês de maio nesta vila de Castro Verde e aposentadorias do Doutor José Xavier Machado Monteiro, Ouvidor e provedor em esta Comarca, sendo ali presente com o Juiz ordinário, o Doutor João Guerreiro de Santiago e os vereadores e procurador do concelho abaixo assinados, ali por eles foi dito terem ajustado e arrematado por um auto de arrematação atrás neste livro escrito, com o mestre pintor Diogo Magina, que também presente estava, pela quantia de setecentos mil reis a obra da Igreja da Nossa Senhora dos Remédios que constava da arquitectura do tecto e da factura e pintura de vários quadros e azulejos nas paredes pelos apontamentos expendidos no mesmo auto em que se declarava que os dez quadros das paredes dos lados haviam-de ficar separados da cimalha e entre esta e os lados deles guarnecidas as mesmas paredes de azulejos, mas porque, por conselho de homens inteligentes e muito zelosos do culto de Deus estavam certificados de que a obra ficaria muito mais perfeita sendo postos os quadros em talha de madeira por toda a roda do corpo da Igreja, sem ficar entre eles azulejo algum e só deles para baixo até ao pavimento, tudo pelo estilo e forma como estava a capela-mor. E porque outrossim já o dito Mestre tinha completa a arquitectura do tecto e pintado na capela-mor alguns quadros, tudo com tal admiração e perfeição que não só indicava ser um dos melhores artífices, mas que finda a obra por aquele estilo ficaria aquele templo por dentro não só o melhor desta Comarca, mas dos melhores da Província,  assentaram e determinaram se continuasse pelo modo acima referido, ficando o dito Mestre, além das obrigações do primeiro contrato mais com as seguintes: de que além de dez quadros do primeiro contrato havia- de fazer dois mais, cada um sobre o altar colateral.

            ERMITÃO-SINOQue aqueles dez haviam-de ser maiores de que a medida dos do primeiro contrato, desde a cimalha até à verga do púlpito e da largura que pudesse o vão da parede. Que todos eles deviam levar duas cantoneiras feitas pelo modo e forma dos quadros da capela-mor os quais o mesmo Mestre seria obrigado a dourar e também os filetes dos mesmos quadros e a pintar de pedra a lápis lazúli as molduras e não de preto como se declarava no primeiro contrato, porém que a madeira e escultura das ditas cantoneiras não serão da sua obrigação, mas sim por conta dos oficiais da Câmara e somente seria da sua obrigação na forma do primeiro contrato a madeira e factura das molduras.

            Que as tarjes que se haviam-de fazer entre os quadros e lado deles e os frisos e filetes à roda, também enquanto à madeira e à  escultura não seria da sua obrigação, mas sim por conta deles oficiais da Câmara, nem o douramento e  pintura daqueles e destes que de novo se ajuntaria depois de fabricados de madeira.

Que seria mais obrigado a pintar em novo pano comprado à sua custa os quatro quadros que estão de um e de outro lado do arco cruzeiro.

Que mais seria obrigado a pintar os frisos e filetes de toda a cimalha a roda e tarjes de estuque que de novo se lhe acrescentam de prata dourada com tal segurança que ficasse segura e pertetuada.

E que todos estes acrescentamentos se obrigava pela quantia de cento e cinquenta mil reis em que com ele convieram e se ajustaram os ditos oficiais da Câmara com aprovação dele Doutor Provedor em cuja quantia entrariam os acrescentos que já por ordem de todos tinha feito uma imagem no tecto, digo, feito na imagem do tecto e na mudança da cor das colunas da arquitectura do mesmo e o custo do pano da capela-mor que lhe deviam por não entrar no primeiro contrato, pelo que também se não haveria respeito a diminuição do azulejo com que ficava que era pouco e toda a dita quantia além de setecentos mil reis do primeiro contrato.

E pela referida forma estariam ajustados neste contrato que reciprocamente se obrigavam a cumprir e guardar como nele se contem ficando em tudo o mais em seu vigor o primeiro no que aqui não vai reformado e declarado».

 Creio não ser despicienda a publicação deste segundo contrato feito com Diogo Magina, sobre os «Quadros da Igreja dos Remédios». Dele destaco as referências feitas à «perfeição e admiração» da sua obra que  «não só indicava ser um dos melhores artífices, mas que, finda a obra por aquele estilo, ficaria aquele templo por dentro não só o melhor desta Comarca, mas dos melhores da Província»

 NOTA: migrado hoje mesmo do meu velho site para este novo.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.