Trilhos Serranos

Está em... Início História CHAIMITE =GUERRA COLONIAL
domingo, 25 agosto 2019 21:12

CHAIMITE =GUERRA COLONIAL

Escrito por 

CAHIMITE=SALGUEIRO MAIA

Na minha crónica anterior, sob o título em epígrafe, a propósito da colocação de uma viatura CHAIMITE à entrada da vila de Castro Daire, junto ao Intermarchê, discorri sobre o nome da viatura e os episódios históricos para onde este nome remetia, e bem assim para as personagens envolvidas, um encontro entre Mouzinho de Albuquerque e Gungunhana, em 1895, em CHAIMITE.

 

chaimite-1Falei do fim do IMPÉRIO VÁTUA com a prisão de Gungunhana, feita ali por Mouzinho de Albuquerque e aludi ao 25 de abril e ao fim do IMPÉRIO PORTUGUÊS. Quer dizer, deixei claro o fim de DOIS IMPÉRIOS.

Li as razões apresentadas pelos nossos políticos locais, fotografei a legenda posta na placa alusiva ao evento: HOMENAGEM AOS EX-MILITARES E MILITARES DO CONCELHO DE CASTRO DAIRE - AGRADECIMENTO PELOS SERVIÇOS PRESTADOS À PÁTRIA”.

Já não era sem tempo. Até que enfim esses homens que deram o corpo ao manifesto, lá pelas tórridas terras de África, terras de “carreirismo militar, político, administrativo” mas também de malária, de paludismo, de morte, de estropiados de guerra, e sequelas mentais pós-traumáticas, se podem rever, ali, na viatura mais icónica da GUERRA COLONIAL, onde consumiram alguns anos das suas vidas.

Diz a legenda que isso de deveu a um PROTOCOLO assinado com o EXÉRCITO PORTUGUÊS. Andaram bem as partes que protocolaram o evento. É que se aquela viatura, atendendo aos fins a que se destinava, foi batizada com o nome CHAIMITE e, como tal, levava consigo, desde a nascença, o ânimo e a bandeira da vitória - semelhantemente ao encontro entre Mouzinho  de Albuquerque e Gungunhana - o decorrer da guerra e o desfecho dela colar-lhe-iam o símbolo contrário, o símbolo da derrota.

chaimite-legenda-4Mas eis que um militar, de seu nome SALGUEIRO MAIA, lhe devolveu a dignidade do nome com que foi batizada. Postado frente ao Quartel do Carmo, megafone em punho, metrelhadora apontada ao PODER POLÍTICO ali encurralado, aquele que levou o ESTADO “ao estado a que chegámos” lhe pede a rendição, sob pena de metralhar o edifício.

E a viatura CHAIMITE, concebida para a guerra, viatura que rodou por estradas africanas de matope, orladas de capim, que ouviu tiros, viu mortes e estropiados, agora, de pneus limpos, lavados e a rodar pelas ruas da civilizada Lisboa, só não mudou de nome para SALGUEIRO MAIA devido à crosta histórica que o tempo lhe colou na pele, desde o nascimento. E se CHAIMITE era, CHAIMITE ficou.

Mas o historiador, conjugando os acontecimentos e as personagens a que essa viatura está associada, às motivações que levaram os ORGANIZADORES a que tal PEÇA DE GUERRA fosse ali colocada em TEMPO DE PAZ, está em crer que se lhe colassem no lombo o nome desse militar - SALGUEIRO MAIA - associado ao 25 de abril e ao fim da Ditadura, , a sua exibição pública, ali, tendo de um lado uma escola, onde se busca o alimento do espírito, e do outro o Intermarchê, onde se busca o alimento do corpo, ele teria uma leitura simbólica e histórica muito mais alargada e consubstanciada, v.g. mais FORMATIVA.chaimite-3

E se calhar numa relação empática muito mais de harmonia com o pensar sentir profundamente democráticos dos responsáveis pela iniciativa (civis e militares), eles que jamais deixaram de festejar, institucionalmente, o 25 de abril e a queda da Ditadura, na Assembleia Municipal todos os anos subsequentes aos factos. E já lá vão muitos. O historiador que não dispensa os documentos para fazer HISTÓRIA, agradece que lhe forneçam os vigorosos e entusiasmados discursos que proferiram na efeméride. No plural. É que “um povo sem memória, é um povo sem história”. E os «discursos» publicados na imprensa regional e nacional durante todos estes anos, não bastam, não abundam, nem abonam.

Ler 1432 vezes
Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.