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quarta, 06 fevereiro 2019 09:44

“CASTELO” DE SÃO LOURENÇO

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«CASTELO» DE SÃO LOURENÇO

Há dias estive no MONTE DE SÃO LOURENÇO, onde foi implantado um PARQUE EÓLICO. Fiz dois vídeos sobre esse equipamento produtor de energia limpa e aludi ao “reduto amuralhado” que ali existe, dizendo que já lá tinha estado em 2004 e 2008.

De 2004 é o texto que se segue, tal qual foi publicado no “Notícias de Castro Daire” e no meu velho site “trilhos serranos”, onde o fui buscar hoje mesmo, para este meu novo espaço online.

IMG 1284Na parte sul do concelho de Castro Daire, levanta-se o Monte de S. Lourenço. Em todo o cimo, o afloramento rochoso que da terra sai, crispado, laminado, cortante, lembra as barbatanas dorsais de um monstro adormedico e petrificado, há séculos, nas margens do rio Paiva. Em cima de uma dessas barbatanas, a rematar a cota 929, está um marco geodésico. 

Miradouro natural, olhando à distância e seguindo o movimento dos ponteiros de um relógio, desde o norte ao poente, temos a serra do Montemuro, a serra de  Santa Helena, da Nave, da Lapa, da Estrela, do Caramulo e da Gralheira.

Mas, S. Lourenço não é só um deslumbrante miradouro natural. Bem no cocuruto, é, também, um poço de interrogações acerca os povos que, em tempos idos, aqui habitaram ou fizeram ponto estratégico de vigilância, atentos aos invasores e conquistadores.

A contornar a crista do monte, são ainda hoje bem visíveis os restos de um recinto amuralhado, cujo perímetro é perfeitamente delineado pelas paredes esborralhadas, de dois ou mais metros de largura.

IMG 1286 1Em 1758, o Abade de Moledo, no inquérito a que respondeu, refere-se a este sítio nos seguintes termos:

 «Esta terra não é murada, nem nunca o foi. Mas para a parte do nascente fica um monte alto a que chamam o outeiro de S. Lourenço e principia de levantar-se logo deste lugar de Moledo e até ao mais alto deste monte é meia légua e no ponto mais alto é quase de figura a donde se descobrem e acham umas pedras que mostram serem ruínas de algum edifício, e é tradição que fora ali Castelo de Mouros e correndo o tempo esteve ali  também uma capela de S. Lourenço /donde se supõe que o outeiro tomou o nome/ e esta  capela mudaram os moradores do lugar dos Casais para dentro do povo  por lhe ficar em melhor comodidade para a fabricarem e tratarem dela por ser sua e terem essa obrigação».

De posse desta informação fui indagar junto dos habitantes de Casais do Monte. O que se saberiam eles, hoje - século XXI -  sobre as muralhas e a sobre a capela?

Trilhos-25-09-2004Que sim! Lá em cima, diz-se ter existido um castelo, obra de Mouros.


-         Andei ali muitos anos com cabras e ovelhas, mais de 100!

-         Anos?

-         Não, ovelhas.

 -         Suas?

-         Algumas, outras eram de guarda!

É assim que me informa o senhor Manuel Soares, de 95 anos de idade em 2004, também conhecido pelo apelido “Modas”. Fui até ele por me terem dito ser o homem que mais sabia sobre as antiguidades da povoação e arredores.

Soalheira-Fonte-2007-  O Santo foi primeiramente levado pelos habitantes de Covelo de Paiva, mas ele fugia de lá e voltava ao cimo da serra. Depois foram lá buscá-lo os dos Casais e ele ficou aqui, não fugiu mais!

Ao castelo de S. Lourenço se refere também o arqueólogo Inês Vaz no livro «Castro Daire», editado pela Câmara Municipal de1986. Apoiando-se nas Memórias Paroquiais da freguesia de Moledo e citando os «Diálogos» de Botelho Pereira, diz que «este outeiro foi murado ao redor com pedra tosca de quinze palmos de largo, há lugares cheios ainda e arrasados de terra; tinha barbacã e o castelo mais alto em uma rocha donde se descobrem muitos lugares mui distantes, ou sinais donde eles estão».

Assim é, de facto. Não sei se Botelho Pereira esteve aqui para fazer a descrição que fez do lugar. Mas quem não esteve cá foi, seguramente, o arqueólogo Inês Vaz. Ele, por onde passa, quando não faz escavações, deixa a fotografia como pegada. Dele, aqui, nem pegada, nem fotografia. E que falta nos fazem elas! É que  só com escavações arqueológicas, tal como sugeri que se fizesse  no recinto amuralhado das «Portas do Cópia de S.Lourenço-mota1 - CópiaMontemuro», nos artigos publicados na «Gazeta da Beira» de 17-07-2003 e 16-10-2003, se poderá fazer mais luz sobre o «castelo» de S. Lourenço, aquele que, coroando o miradouro que é a cabeça do concelho todo, será passagem obrigatória para quem, no património histórico e natural, encontra fontes inesgotáveis de saber e de vida.

Não é para já. Quem quiser usufruir deste desejado miradouro, quem quiser visitar o que resta do velho castelo de S. Lourenço, terá de esperar que chegue, primeiro, a pegada da autarquia; que chegue, primeiro, o acesso fácil e respectiva sinalização; que chegue, primeiro, a pegada dos arqueólogos. Antes disso tudo, a não ser que ali tome assento um parque eólico, como aconteceu no dorso da serra do Montemuro, facilitando o acesso ao lugar, só de jeep, de mota, de bicicleta, de cavalo, de burro ou a pé, neste ano de 2004.

 

 



NOTA: escrito e publicado no meu velho site, em 2004, migrou hoje mesmo para este novo. E bem andei eu quando disse que o acesso fácil chegaria se ali tomasse assento o PARQUE EÓLICO, à semelhança da serra do Montemuro. Chegou e dele fiz vídeo nesnte ano de 2019.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.