domingo, 30 dezembro 2018 18:29
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
GRAVURAS DO CÔA (1)
CASTRO DAIRE - PONTOS DE VISTA: AS GRAVURAS DO CÔA |
30-07-2010 12:55:35 |
Passados 15 anos depois de tanto alarido sobre as gravuras do Côa, aí temos prontinho, inaugurado, hoje, dia 30 de Julho de 2010, o «Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa». |
Como me lembro das acesas conversas travadas nas mesas dos cafés, nas tavernas, passeios públicos e nas escolas, em torno da preservação das gravuras e/ou do afundamento delas nas águas da barragem.
... E nós estivemos lá ...e fotografámo-las....
Património paleolítico, arte dos nossos avoengos que por ali caçaram, pastorearam e gravaram na pedra as bestas selvagens e/ou domesticadas do seu tempo, recordo as bestiais conversas de alguns amigos (amigos e colegas, alguns deles) desafiando-me a descobrir nas margens do Paiva, aqui, nos arredores de Castro Daire, património semelhante, pois não faltavam painéis xistosos ao longo do seu curso.
Ignorantes e cegos perante o valor insofismável do achado, seguros de que tudo aquilo não passava de «política» contra a «barragem», adiantavam-me conhecerem algumas pessoas oriundas de Foz Côa que, vivendo em pleno século XX, quando por ali andavam a pastorear o gado, rabiscaram também naqueles painéis de xisto os seus bonecos de entretenimento.
Foram vozes que se perderam no deserto. António Guterres, primeiro-ministro de então, teve a coragem de não afundar as gravuras, esse património da humanidade. E esse legado dos nossos antepassados paleolíticos, ali está, agora, para ser visto, apreciado e estudado pelas gerações presentes e pelas gerações vindouras.
A Mafalda, mãe dos meus filhos, parou, olhou, viu e sentiu. A morte prematura não lhe deu a oportunidade de parar, olhar, ver e sentir a obra que os homens cultos de hoje construiram em homenagem aos seus primitivos avoengos paleolíticos.
Como bem mostram as fotos que ilustram este artigo e fazem parte do meu Álbum de Família, tive o privilégio de ver de perto esse património, antes de me submeter as todas as formalidades que, por negra, se tornam indispensáveis e necessárias quando se quer proceder à preservação, explicação e conhecimento do tempo, dos protagonistas e do contexto histórico que as produziram.
Digamos que, passado todo este tempo, tomando as coisas o rumo que tomaram, aconselhava esses amigos e colegas que de mim discordavam, ironizando com o valor daqueles «rabiscos» a irem lá fazer uma visita e, após ela, retomarmos a conversa que há 15 anos atrás interrompemos. E ao conhecimento que então tinham e alardeavam, dando-me nota de conhecerem pastores do século XX que reivindicavam serem autores de tais gravuras, contrapor a obra ali feita e a lerem o pequeno texto extraído da Internet, relativo à inauguração do Museu, que aqui deixo:
«Mais do que um museu dedicado às gravuras rupestres do vale do Côa, o espaço mostra a sua importância de entre os outros núcleos mundiais desta arte. Com cerca de 800 metros quadrados de área de exposição, é inaugurado amanhã ao meio-dia pela ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, deixando para trás muita polémica e um movimento da sociedade civil e académica, que teve como «slogan» «as gravuras não sabem nadar».
O «amanhã» referido no texto, é hoje, 30 de Julho de 2010
NOTA: Publicado no velho site em 30-07-2010 migrou home mesmo para este novo site com as mesmas ilustrações.
Publicado em
História
Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.