Trilhos Serranos

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quinta, 06 setembro 2018 07:48

TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO

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PEQUENO MUNDO

Em 2003, em extensa crónica ilustrada, no "Notícias de Castro Daire" e no meu primeiro site Trilhos Serranos (antigo “.com”) reportei a chegada dos chineses a Castro Daire. Referi a morte do jesuíta Sebastião Vieira no Japão, depois de ter sido expulso do território e lá ter regressado, subornando com "metal sonante" os barqueiros que o levavam dali para fora.

 

Mais recentemente, reportei, nas "Picadas de Tete" a morte de Gonçalo da Silveira, no Monomotapa, vindo da Goa, para converter os pagãos africanos, mas também, dizia, por "haver ali muito ouro". Isto apesar de haver na India tantas almas a converter. Na mesma página reportei, nos Rios de Sena, a razia da povoação moura ribeirinha de Inhaparapalo, em 1571, "passada à espada " por Francisco Barreto, vingando a morte de Gonçalo da Silveira. De caminho aludi aos PRAZOS do Zambeze e às DONAS deles, mulheres tão influentes na política vigente, quanto vulneráveis eram nas mãos dos venais interesses dos políticos e governantes.
Ultimamente, continuando a navegar no Índico, levado num dos barcos do capitão-de-mar-e-terra, Alexandre Lobato, com vista a "recordar caminhos andados" e lembrar os afectos e os conhecimentos de "amigos perdidos", reportei as figuras de Fernão Veloso e Gaspar Veloso, ambos protagonistas da nossa saga marítima. O primeiro, cantado por Camões, devido às suas "bazófias" de valentia contra os indígenas. O segundo, alcaide que foi da capitania de Moçambique, posto a ferros pelo capitão-mor, devido aos negócios de contrabando que fazia com os mouros estabelecidos na ilha e rasgavam o Índico metidos nos seus zambucos.
Hoje trago aos olhos dos meus amigos a CARTA do XARIFE Mahomed Elaui, enviada a D. Manuel, em 1517, pedindo-lhe autorização para navegar livremente naquele oceano e mercadejar nele como fazia antes da chegada dos Portugueses, "num navio seu, com toda a segurança, sem que alguém o violente e lhe faça dano algum". O conteúdo desta carta, lido à luz dos tempos que correm, assume um significado especial. Vivemos os tempos da GLOBALIZAÇÃO, de MIGRAÇÕES e de REFUGIADOS que rumam em sentido inverso aos Portugueses e demais povos europeus de QUINHENTOS nos alvores dos Impérios Coloniais.
Dessa carta sublinho apenas as ideias expressas pelo Xarife, acerca de D. Manuel: "Senhor do Universo desde Ocidente até Oriente (...) Soberano do nosso tempo, quem a ele se chega terá proveito (...) seus obedientes agradecem e louvam, seus desobedientes exasperam e perdem, ao qual Deus enche de glória".

Os amigos não estranhem a grafia. A escrita mudou muito desde 1517 até agora e vai continuar a mudar. É tão certo como eu ter o nome que tenho.

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NOTA: publicado no Facebook no dia 06/09/2015, migrado para aqui hoje mesmo.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.