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quinta, 23 fevereiro 2017 14:25

ÁLVARES, Joaquim José, De Soldado a General - 7

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HISTÓRIA VIVA

 NO DEGREDO EM MOÇAMBIQUE

E Joaquim José Álvares, militar de carreira, pele curtida na Guerra Peninsular, não dorme em serviço. A maré política estava a seu favor e logo em 4 de Agosto desse ano, apresentou um requerimento aos «Senhores do Governo Provisório» a quem se queixa dos prejuízos causados pelo «degredo» em Quelimane, para onde  «despoticamente» o governo o havia transferido. Vê-se que queria ajustar contas com o ilustre Presidente «deste» Governo, por ele ter feito parte do «anterior» e, por conseguinte, dever ser ele a explicar as razões de tal procedimento. Ora veja-se:

Protesto contra a sua ida para Quelimane - Cópia«Diz Joaquim José Álvares, tenente de Caçadores do Exército de Portugal que tendo sido o seu degredo, por tempo de cinco anos, para esta capital, o transato Governo, despoticamente, alterando esta sentença o mandara para Quelimane como se vê do documento que por cópia junta ao mesmo seu requerimento, onde o suplicante, com a estada de dezoito meses, sofreu gravíssimos prejuízos e inconvenientes e que para bem de sua justiça precisa muito que o Ilustre Presidente deste Governo (por também o ter sido no governo pretérito) haja o favor de informar e declarar neste mesmo requerimento o motivo porque assim se praticou. E que o mesmo cumpra Francisco Henriques Ferrão, membro que também foi do dito transato Governo.

Moçambique, 4 de Agosto  de 1834

Pede a Vossas Senhorias a graça de assim o mandarem. E.R.M.

Joaquim J. Álvares

 Ten. de C. do Ex. de Portugal» (Dossier General, ms. nº )

O requerimento tem no cabeçalho os seguintes dizeres: «Declarem querendo, Palácio do Governo Provisório de Moçambique, 6 de Agosto de 1834» com a assinatura de «A. Almeida Magalhães Nobre Abranches e a rubrica de A. Maia, presidente».

E neste ponto convém colar aqui o nome dos membros do governo à sua chegada a Moçambique e que já vimos mais acima: eram eles:

 O «prelado frei António José Maia, que administrava a prelazia; o ouvidor geral Joaquim Xavier Dinis da Costa e coronel de milícias de Manica. Francisco Henriques Ferrão», o tal «governo provisório» que esteve à frente dos destinos da colónia, desde «29 de Janeiro de 1832 a 13 de Março  de 1834».

Não sei que resposta lhe foi dada, já que tal não chegou até mim entre os papéis que ‘herdei’ dos seus  arquivos a pessoais (salvos do Aterro do Planalto Beirão) e estou seguindo de perto, seguro da sua raridade, senão únicos existentes relativos à saga deste Português das Sete Partidas. Sei que estes documentos não existem Arquivo Histórico Militar.  E fica claro que, se os originais ficaram em Moçambique, ele se fez acompanhar das respetivas cópias e, graças a elas, podemos referir os factos e os protagonistas neles envolvidos, nomeadamente aqueles que o recambiaram para Quelimane, após a «malograda revolta» que ele intentou na Ilha a favor da Rainha.

E nem só isso. Requerimento após requerimento, reivindicação após reivindicação, ele  nem sequer deixa em descanso as autoridades liberais que nessas terras do Índico tinham o poder de decisão e representavam Sua Majestade Real. Veja-se o documento seguinte:

Exposição-1 - Cópia«Os Ilmos. Senhores do Governo Provisório desta Capitania, tendo em consideração as anteriores representações que Vª Sª  fez subir a sua presença, e não menor o estado de Finanças a que se acha reduzido o Cofre Público, ordenam que Sª Sª se prontifique solicitando o seu passaporte para se retirar, sem falência, no brigue denominado Nossa Senhora do Socorro, que deste porto há de sair para o do Norte, e tendo-o, sejam passadas as convenientes  ordens para o Capitão do referido Brigue, que receberá VªSª, pois que a demora que tem tido o Brigue Santo António talvez o impossibilite de ir a Goa este ano. O que de ordem do mesmo Governo tenho a honra  de comunicar a Vª Sª para sua inteligência.

Deus guarde V. Sª .

Quartel do Governo Provisório 5 de Setembro de 1834.

José Amante de Lemos,

 Major às ordens e semana». (Dossier General, ms. nº ....) 


E vai ser essa a via pela qual as autordades de Moçambique se vão ver livres do tenente Joaquim José Álvares (sem os apeldidos que agora lhe querem colar) Proximamente veremos o seu «PASSAPORTE».

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.