HISTÓRIA VIVA
NO DEGREDO EM MOÇAMBIQUE
De facto, em princípios de 1834, foi nomeado para governador da colónia o capitão-de-mar-e-guerra, José Gregório Pegado, que só chegou a Moçambique em Outubro «encontrando a colónia a debater-se numa pavorosa anarquia governamental e administrativa».
Com efeito, nos «primeiros dias de Março deste ano de 1834, chegou à colónia de Moçambique a notícia da aclamação de Sua Majestade D. Maria II e os políticos locais não perderam tempo. No dia 13 amotinaram o povo, demitiram o «oitavo» governo provisório e nomearam o «nono» assim constituído: «Frei António José Maia, Major João Alexandre de Almeida, Adolfo João Pinto de Magalhães, Teodorico José de Abranches, Francisco da Costa Xavier Ferreira Nobre, que servia de secretário». (1) Governo este que só esteve ao serviço de 13 de Março a 27 de Outubro desse ano.
Face a tais mudanças não tardou que o revolucionário transmontano regressasse de Quelimane à Ilha Moçambique, levando na sua bagagem a «ordem de liberdade», com data de 30 de Maio de 1834, assinada por «Manuel Correia da Conceição, Governador das Capitanias de Quelimane e Rios de Sena», que não o trata já por «soldado», mas por «Exmº- Senhor Joaquim José Álvares, tenente de Caçadores do Exército de Portugal». Assim:
«Em cumprimento às ordens do Governo Provisório de Moçambique sobre a plena liberdade em que mandam ficar todos os degredados (que anteriormente se chamavam crimes políticos) e sendo Vª Sª um deste número, goza por consequência, da referida liberdade, da qual já verbalmente lhe fiz ciente. E como Vª Sª me fez ver que pretendia regressar à capital de Moçambique, por isso se aprontará para embarcar a bordo da Sumaca Inhambane que brevemente deste Porto para o da referida capital há-de sair. Ao Feitor da Fazenda Nacional e Real e ao Comandante da companhia desta guarnição a que Vª Sª pertencia na qualidade de Soldado, ordenei que lhe passasse as competentes guias de quem Vª Sª as receberá; e ao Capitão Tenente, Comandante da Expedição, também lhe fiz aviso para o receber a sue bordo. Deus Guarde a Vª Sª, Quartel da Residência em a vila de Quelimane, 30 de Maio de 1834.
Manuel Correia da Conceição
Govdºr. das Captªs de Quelimane e Rios de Sena» (Dossier General, ms. nº )
Já na Ilha de Moçambique, havia que pôr as coisas em dia. É nessa linha que se insere o conteúdo do seguinte documento:
«O Governo Provisório desta Capitania, atendendo ao que Vª Sª lhe representou, foi servido ordenar que fique sem efeito o ofício que pelo expediente militar lhe foi dirigido, em data de 2 do corrente e que pela competente estação lhe sejam pagos os soldos de sua patente desde o dia 13 de Março em diante, ficando Vª Sª certo de que na qualidade de avulso fará todo o serviço que por este Quartel do Governo lhe for determinado. Deus Guarde a Vª Sª. Quartel do Governo em Moçambique, 9 de Julho de 1834.
José Amante de Lemos, Major às ordens e semana». (Dossier General, ms. nº)
Nota: cf. no canto inferior esquerdo o nome do Exmo. Senhor «Joaquim José Álvares», sem os apelidos que agora lhe querem colar, errada e abusivamente.