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domingo, 26 maio 2013 20:29

OS SAPATEIROS 1680

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Uma «revisita», como agora se diz, aos ficheiros que preservo, religiosamente, sobre a investigação que levei a cabo em Castro Verde, quando fui professor naquela vila alentejana, avivou-me a memória e, para além da postura dos pardais (4 velhos ou 6 novos) que os moradores da vila e termo, légua a dentro,  eram obrigados a apresentar anualmente. Estávamos no ano de 1680.

 

1-SAPATEIROSOra, dada a globalização que hoje vivemos, com  produtos no mercado vindos das mais diversas fábricas e lugares e mais variados preços, não se me afigura descabido publicar aqui a "postura" municipal que, nesse mesmo ano,  em Castro Verde, tabelava o preço do calçado e a sua qualidade.


Para todos aqueles que se interessem pela HISTÓRIA, que queiram entender melhor o PRESENTE olhando o PASSADO (não para ressuscitá-lo, mas para entendê-lotêm aqui uma pérola que mostra como se faziam as cousas e a relação que havia entre governantes e governados.

2-SAPATEIROS«Em 8.5.1680 na presença dos oficiais da Câmara, João Gonçalves e  Estêvão da Costa, moradores na vila, sobre os Santos Evangelhos, fizeram a «taxa» dos sapateiros na forma que todos os anos se faz e é obrigação fazer-"se cada coisa por seu preço justo para que não fossem os moradores e nem os oficiais de sapateiros lesos nem enganados (…).  Por parte do povo [louvaram] o dito João Gonçalves e por parte os oficiais dos sapateiros o dito Estêvão da Costa",  [concluindo]:

«Levarão os (…) oficiais de sapateiros por uns sapatos de vaca preta ou branca sobressolados de novo , com suas palmilhas de vaca e sobressolas do rijo e entressolas de espaldar e virões e revirões de vaca – 600 reis. E por cada par de sapatos de  vaca, sobressolados, cm palmilhas de vaca e solas do rijo, viras e revirões de vaca  quinhentos 3-SAPATEIROSreis = 500r; e por cada par de sapatos que sobressolar, sendo as empenhas do dono, com palmilhas de vaca e solas do rijo, 280 reis; e os mesmos sapatos levando de mais do acima dito entressolas do espaldar, levarão 350 reis; e de deitarem umas solas por cima, sendo suas dos sapateiros e do rijo levarão delas e de suas mãos 180 r; e de deitarem umas solas por cima, sendo as solas do dono dos sapatos levarão $040 r; e por cada tomba, quer seja de vaca ou de cordovão, levarão $005r; e por cada par desapatos novos de vaca que eles fizerem para mulher, pondo eles as empenhas e palmilhas de carneira e solas de espaldar com suas viras de carneira, 280 reis; e se sobressolarem uns sapatos para mulher, dando ela as empenhas com palmilhas de carneira e solas de espaldar e viras e das suas mãos levarão 150r; e de uns sapatos que fizerem para moço que não passe de catorze anos levarão pondo eles tudo o 4-SAPATEIROSnecessário e de suas mãos 280r; e por cada par de solas do rijo que venderem na mão, sendo de Beja,  120r; sendo as solas de Tavira e do rijo 140 reis; e por cada par de solas de espaldar, sendo de Beja, levarão $060r; e sendo de Tavira levarão, $080r; [e assim] os louvados fizeram a dita taxa para por ela o sapateiros se regerem e governarem este presente ano na forma dela e lei do Reino e que nenhum oficial do dito ofício pudesse alterar nem levar maiores preços que os aqui taxados [sendo] obrigados a tirar suas taxas e não alegarem ignorância e não as tirando se procederia outrossim contra os sobreditos na forma das posturas deste senado (…)
Oficiais da Câmara:
Juiz Presidente: Belchior Afonso
Vereador: Martins Afonso
Procurador do Concelho: Manuel Gomes"

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.