Trilhos Serranos

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quinta, 05 setembro 2013 08:18

AUTÁRQUICAS DE 2009

Escrito por 

A COERÊNCIA

Dos vários textos (cinco ao todo) que escrevi e publique, no meu velho site,  há quatro anos, falando da campanha eleitoral e das obras de propaganda política então levadas a cabo, entendi ser oportuno transcrever,  para este meu novo site, neste ano de 2013, outro ano de novas eleições autárquicas, aquele que se segue, muito a propósito da Serra do Montemuro, tal como as Termas do Carvalhal, mais uma vez servir bandeira turística levantada pelos partidos concorrentes às cadeiras do Poder Local. Assim, tal e qual:

" No longínquo ano de 1990, no mês de Agosto, publiquei na imprensa regional e na WWW uma crónica sobre o «Acampamento de Verão» levado a cabo pela Quercus em terras do Montemuro, a saber:  a Gralheira, Cotelo, Rossão e Campo Benfeito.
É isso. Há quanto tempo ando eu em bolandas com a história, com a cultura e com as gentes do Montemuro? Há quanto tempo refiro as potencialidades turísticas da serra, só recentemente descobertas pelos nossos autarcas e pretendentes a sê-lo? Não. Não me lembro das terras e das gentes do Montemuro somente de 4 em 4 anos. Da crónica acima referida, de 1990, respigo o seguinte excerto:


Feira«A serra, pelo panorama paisagístico que proporciona, pela diversidade de cores e traços que oferece, pelo dobrado do relevo que se galga de carro, a pé ou com a vista até onde o olhar alcança, as suas aldeias incrustadas na dobra mais inesperada, rodeadas de lameiros de feno, terras de centeio ou de milho, as suas gentes, pastoreando os seus gados com olho atento aos lobos que aparecem de rompante, dispostos a filar a rês ou o cão-de-guarda, vindos de qualquer giestal ou detrás de qualquer penedo exótico, escultura granítica gigante, cinzelada por escultor fantástico, desconhecido nos anais da arte, as suas gentes, dizia eu, transportando uma cultura secular muito própria, recheada de tradições e valores comunitários, bem merecem ser mais estudadas, conhecidas, respeitadas e visitadas.
A simpatia e o bom acolhimento dados pelos naturais destas aldeias aos visitantes, a franqueza e abertura que manifestavam ao ser-lhes solicitada qualquer informação, mesmo as crianças, fossem informações de âmbito geográfico, fauna, flora, usos, costumes e tradições, são a prova de que começam a estar abertos ao mundo e a tomar consciência do valor turístico e de estudo que têm as terras que pisam, que trabalham e lhes dão o pão».(fim de citação).

De seguida falei dos Miradouros e dos monóculos de grande alcance colocados serra fora para servirem um pretenso projecto turístico. Falei dos "ringues" plantados nos sítios mais descabidos, em obediência clara à campanha eleitoral, e demorei-me naquele que foi implantado ao lado da capela do Fojo, entre Campo Benfeito e  Gosende, dizendo: no ano de 1990 ainda os rebanhos da serra da Estrela faziam transumância para a serra do Montemuro, por alturas do S. João. Ainda havia lobos, cães, gados e pastores por esta serra fora. Hoje é diferente. Nem gados, nem lobos, nem pastores. E estando o ringue fora das povoações, Campo Benfeito é a mais próxima, e existindo  nesta aldeia  um grupo de teatro de reconhecido mérito e espírito criador, (Teatro do Montemuro) não me admiraria ver glosado nas suas peças originais e locais, à maneira vicentina,  o aparecimento destes eventos e funções que desempenham, agora, antes de ficarem às moscas» como o campo da bola. Não me admiraria que os elementos do grupo, dando asas à sua imaginação, transportassem para o ringue uma equipa de «predadores» e de «presas», isto é, de Lobos e de ovelhas, de Raposas e de galinhas. Matéria de fábula e de lição.

TemploA equipa dos Lobos seria delirantemente apoiada pelo "rebanho", essas mil ovelhas espalhadas pela serra, esse animal lãzudo, de focinho sempre no chão, olhos postos no pasto, seguidistas,  interessados em comerem e em seguirem, domesticadmente,  o seu dono, o seu pastor. Para onde ele for vão também. Aplaudem, batem patas, cantam loas ao predador sem se darem conta de que, no reino em que habitam, são a presa e o predador, sorrindo, mostrando os dentes, quer apenas enganá-los e «comê-los». 

Do lado das "raposas"  pelas mesmas e inocentes razões animalescas, são as galinhas, a plateia de apoio. A cada avanço da raposada, a cada resposta embrulhada em sete manhas, é um cacarejar nunca ouvido, um bater de asas estrondoso nunca visto. Agarradas ao seu poleiro, ninguém quer perder o lugar e, por isso, estão presentes no desafio e apoiam, convenientemente, de olhos fechados. E lá vem o adágio: «porque é que o galo canta de olhos fechados? Porque sabe a música de cor». E a raposa também. 

Um ringue. Um redil serrano, onde as ovelhas balem, os galináceos cacarejam e os lobos uivam. Um ringue. Um teatro, uma comédia, ao lado da Ermida da Nª SRª do Fojo, onde até os anjinhos de talha dourada, recolhidos na velha e solitária capelinha, onde dormiram, durante séculos, o sono dos justos, dizem de si para si: «só o diabo podia lembrar-se de fazer uma coisa destas aqui,  junto de um monumento histórico, junto desta nossa morada.». 

Pois é. Foi na campanha de 2009. Mas Em tampos de campanha eleitoral, neste ano de 2013, cabe aos candidatos que têm as Serra do Montemuro como bandeira turística, visitar estes equipamentos, apreciar o seu estado, a sua funcionalidade e questionar o investimento dos dinheiros públicos neles aplicados. É que a TROIKA não entrou pela porta do cavalo, alguém lhe abriu a porta principal do País e eu, aposentado, que toda a vida me esforcei por ter uma velhice sossegada, estou s sofrer na pele, os efeitos de decisões destas: dinheiros públicos deitados simplesmente porta fora, digo, inutilmente serra fora.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.