Trilhos Serranos

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quarta, 04 setembro 2013 12:20

MULHERES DO MONTEMURO

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A BELEZA DELAS

No tempo em que eu já explorava as «potencialidades» da Internet e não as muitas «banalidades» que se vão vendo por aí, agora, no Facebook, escrevi o texto que se segue no meu site «www-trilhos-serranos.com» (há quantos anos, senhores?) de onde o transcrevo, agora, para este meu novo site, com o mesmo título e ilustração. Assim, tal qual:

«Voando na máquina do tempo, conduzida por Frei Bernardo de Brito, «cronista geral e religioso da Ordem de S. Bernardo, Professo no Real Mosteiro de Alcobaça» aterro com ele no topo da Serra do Montemuro, no ano de 1597. Piloto encartado, habituado a navegar sobre o passado e a imprimir para o futuro as marcas do presente vivido, eis o que ele nos diz:

mulheres montemuro-2«Quase junto com esta serra [Besteiros ou Alcoba] fica logo a que vulgarmente se chama Monte de Muro e os antigos com pouca diferença o chamam Maurus. Toma grande distância de terra e seus altos são asperíssimos. Habita-se alguma parte dele, com trabalho dos moradores, porque a terra dá muito pouca cevada e quase nenhum trigo e o mais que tem é centeio, de que vivem miseravelmente. Não se cria em todo ele vinho, nem fruta que possa trazer recreação aos moradores. A gente é grosseira e rústica em seu trato, veste pobremente e o vestido vulgar é burel grosseiríssimo.


As mulheres são pouco para cobiçar, porque além da pobreza que costuma dar pouco lustre, têm elas de si tão pouco nas feições naturais que entre mil se não achará uma que tenha mortas cores de formosa. São robustas, trabalhadeiras e amigas de granjear sua vida, castas pela maior parte e desamoráveis para os estrangeiros.
Os homens são robustos, sofredores de trabalho e se tivessem exercício nas armas faziam grande efeito na guerra. Criam-se neste monte muitas vacas bravas de pequenos corpos, mas muito fortes para trabalhar e para comer de gosto singularíssimo. Tiram delas manteiga que ordinariamente lhes serve de azeite.
Faz menção deste monte nosso Laimundo no terceiro livro e Resende no primeiro».

MONTEMURO-AzevinhoTerra pobre, de gente grosseira e mulheres pouco atraentes, Frei Bernardo de Brito remete para Laimundo e Resende as fontes onde, por certo, bebeu tais informações. E se no que respeita à pobreza da serra, à produção dominante do centeio, à criação de vacas pequenas, possantes, de carne saborosíssima, tem o meu acordo, não posso concordar com ele no que respeita à beleza das mulheres, mesmo que vestidas de burel.

A foto que ilustra este texto, retiradas, com a devida vénia, da net «capuchinhas.blogspot.com», é bem a prova de que a beleza da mulher montemurana de antanho, vestida que foi de burel, mais tarde de chita, e posteriormente de cetim, outros tecidos da moda e, novamente, de burel trabalhado nas «Capuchinhas», não fica nada a dever à das outras mulheres portuguesas, habitem elas no Gerês, Besteiros, Estrela, Lisboa ou Porto, seja emigrada em Paris, Londres ou Rio de Janeiro.

Tenho dito e repito, aqui agora, a par da descentralização político-administativa do País, é bem necessária a «descentralização cultural» e, por todos os meios, diluir as barreiras que, ao longo da História, a «intelligentia» nacional criou entre regiões, gentes e lugares.

 Abílio Pereira de Carvalho

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.