PRIMEIRA PARTE
(CAPELA DA CRUZ DO ROSSÃO)
No largo do CRUZAMENTO, acima referido, levanta-se, vetusta e segura, de planta quadrangular e construída em granito, cobertura em pirâmide, a CAPELA DA CRUZ DO ROSSÃO. Na padieira da porta, virada a nascente, está inscrita uma data, cujos dois primeiros números foram recentemente avivados a ponteiro, mas os restantes ficaram intatos um pouco “delidos”. Mas, sem esforço consegui ler 1807, sendo que o último número está quase apagado.
Não longe da capela, junto à estrada, metida no solo verdejante do lameiro, existe uma pedra de forma aproximadamente cúbica, com sinais evidentes de ter sido o plinto da CRUZ que deu o nome ao sítio. Na parte superior tem a recrava vazia da cruz desaparecida e numa das quatro faces, presumivelmente a frontal, outra recrava de “alminhas” sem elas. Em toda esta face, em redor da abertura para as “ALMINHAS” está inscrita uma legenda indecifrável rematada, no fundo, com data 1742, sendo que o 4 está inclinado, como vi noutras datas, uma delas em Cujó, dificultando a sua leitura.
Deixando, por isso, que os especialistas em EPIGRAFIA decifrem o que resta da mensagem ali inscrita, dado o estado em que se encontra, antes que os dentes da erosão mastiguem todas as letras, manda-me o dever, colocar aqui, lado a lado, as duas fotos que tirei na minha visita. A primeira, tal qual foi capturada pela câmara, e a segunda com as letras que julgo ver destacadas a encarnado.
E, para além da data, ao fundo, - 1742 - parece-me ver ao lado da abertura destinada às ALMINHAS o nome de “CRISTOVA (M)...”
Ora, sendo aquele templo conhecido por “CAPELA DA CRUZ DO ROSSÃO” à semelhança do que acontece na designada “IGREJA DA ERMIDA DO PAIVA”, mesmo sem datas, claro fica que, cronologicamente, a CRUZ precedeu a CAPELA, tal como, nas margens do Paiva, sem datas indicadoras, a ERMIDA precedeu a IGREJA, como defendi no livro «MOSTEIRO DA ERMIDA», editado em 2001 (esgotado).
Nas comunidades cristãs, a implantação de cruzes nos cruzamentos deviam-se a várias razões. Uma delas era para sinalizar morte de homem assaltado por bandoleiro que à pergunta de a “bolsa ou a vida”, respondeu com a vida em vez da bolsa. Outra por ser lugar de passagem frequente de muita gente e, como tal, propício a sugerir aos vivos o padre-nosso ou a ave-maria para sufrágio das “almas do purgatório. Outra, para afugentar as bruxas que, nos cruzamentos e sítios descampados como aquele, tinham por companhia os ventos que com elas bailavam e no seu sopro levavam os satânicos e maléficos feitiços que faziam contra o mundo.
Sítio arejado e de largos horizontes, no topo das linhas de água que, em sentidos opostos, correm na vertente do Rossão e da Carvalhosa, lugar de encontro de gados e pastores, ali se faz uma feira anual no primeiro domingo de julho, recomeçada em data incerta, depois de muito tempo paradas. Nela o gado bovino espelha no momento da "chega de bois” a relação do homem com a natureza e com os animais.
E, semelhantemente a todas as feiras e romarias antigas de montanha, não raro era ali o tempo e o lugar para “ajuste de contas” de lavradores e comerciantes que ruminavam rixas o ano inteiro e dali saíam aliviados, às vezes ensanguentados, depois de descarregaram no casado do adversário os motivos que os levara a travarem-se de razões. Ainda que à vezes acontecesse, raramente recorriam aos tribunais, pois, com tal “ajuste de contas” ambas as partes desavindas se davam por satisfeitas e dirimidas ficavam ali as ofensas.
SEGUNDA PARTE
(CAMPAS ANTROPOMÓRFICAS)
Deixado o cruzamento e a CAPELA DA CRUZ DO ROSSÃO, a caminho da Gralheira, cerca de 300 metros depois, deriva, à esquerda, bem visível, um caminho carreteiro que leva às tapadas e lameiros existentes na vertente nascente da serra. No topo do primeiro outeiro, junto ao muro que separa a tapada do velho caminho que derivou do primeiro e mais puído, estão duas CAMPAS ANTOPOMÓRFICAS.
O meu amigo da Carvalhosa, Amândio Esteves, a residir na área da Grande Lisboa, que assiduamente acompanha as minhas publicações (escritas e em vídeo) depois de ver o vídeo em que falei das CAMPAS, apressou-se a informar-me, via telefone, que elas ficam no sítio designado por «URZES» e as atuais tapadas (que já foram lameiros) são propriedade da sua prima, Maria das Neves Esteves, vindas do seu antepassado Avelino Esteves.
Não é a primeira vez que visito estes monumentos. A penúltima foi em 2012 acompanhado da minha sobrinha Elda Maria, médica de profissão, e da sua filhota Leonor, então estudante, que se prestou a deixar-se fotografar numa delas, tal qual aqui vemos. Foi um belo passeio de família pela serra.
Escavadas na rocha, inclinadas, com furo vazadouro na extremidade fundeira, existe na Internet e fora dela, informação bastante sobre estas obras humanas, mas nem toda ela concordante no que respeita à sua cronologia.
A mais antiga remete para o século VII da nossa ERA, portanto antes da chegada dos mouros que só aportaram na P. Ibérica no século VIII. Proto-cristãs para uns, cristãs para outros, o certo que sabemos é que serviam para inumar os mortos. Dispersas pelos montes e tapadas, ora isoladas, ora aos pares, ora agrupadas, muito há ainda que estudar e que explicar sobre elas. Já fiz crónicas escritas e vídeos daquelas que visitei no concelho de Castro Daire, nomeadamente, nas cercanias de Soutelo, Vila Boa e da Moita, pondo as minhas reservas nestas últimas quanto à sua função de sepulturas. Vi-as mais como sendo lugares de sacrifício – humano ou animal - do que de sepultura de gente.
E, já fora do nosso concelho, também fiz vídeo sobre a NECRÓPOLE DO CARVALHAL, às portas VILA NOVA DE PAIVA, alojado no Youtube.