quarta, 16 março 2016 14:03
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
O HOMEM DA NAVE, DEVOTO DE DIANA - 4
DEVOTO DE DIANA (4)
Na linha do que deixei escrito no primeiro texto, onde aludi a questão da REGIONALIZAÇÃO e ao pecado secular da CENTRALIZAÇÃO que despovoa grande parte do território português, na esperança de que os meus amigos facebokianos se interessem pelo assunto e pelo LIVRO aqui reitero que urge educar, descentralizar, regionalizar, defender a coesão territorial e social. É preciso que cada um de nós ajude a manter de pé este Portugal periférico. É tempo de esvaziar o sentido a expressão queirosiana: "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem". Eu faço a minha parte.
E contrariar o despovoamento do interior passa também por estimular as empresas locais, aquelas que aqui pagam os
Numa árvore assim que, generosamente, durante séculos, ignorando, em absoluto, as obras de misericórdia, matou a fome a gerações e gerações de pessoas e de bichos, desde ao senhor seu dono até ao itinerante caçador furtivo, desde o peregrino passageiro com destino longínquo impelido pela fé, ao javali residente que, solitário ou em vara, sem varejo, noite alta, porca e sossegadamente roía uma arroba de castanhas enquanto o diabo esfregava um olho, sempre pródiga, uma bisarma dessas, cuja certidão de idade remontaria aos primórdios da nacionalidade portuguesa, que fora testemunha ocular de infindas batalhas de homens e bestas, de confrontos e de fugas entre cristãos e mouros, entre mouros e mouros, entre cristãos e cristãos, último monumento vivo de um secular souto morto em território conquistado e habitado, cultivado, árvore lorcada pela idade, morrendo de pé, oca, só casca, era, a bem dizer, um prodígio da natureza, um resistente ao contínuo despovoamento da zona, um caixão aberto a preceito e, tudo o indicava, a si destinado. De rosto enrugado, casco de galeão das Índias
Publicado em
Ficção

Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.