Trilhos Serranos

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domingo, 15 março 2020 17:22

MUNDO DOENTE (1)

Escrito por 

CORONAVIRUS

No dia 11 de março p.p. publiquei no meu mural do Facebook um texto alusivo ao assunto que, de momento, é uma preocupação MUNDIAL. Assim:

 

“VENI, VIDI, VICI

Ele chegou. Chegou por mal. Atravessou o Rubicão a comandar uma legião de malfeitores. CHEGOU, VIU E VENCEU. Invisível, espalhou-se pelo planeta e fez parar o mundo. Fechou casas de espetáculos, campos de futebol e tolheu a circulação de combóios e aviões. Fechou escolas e universidades. Mudou hábitos sociais de cumprimentos e de convívio. Abalou a economia mundial e travou os negócios que afogam a SOCIEDADE DE CONSUMO em que chafurdamos. Sozinho, mais do que toda a parafernália existente dos meios de comunicação - jornais, revistas, TVs - tornou visível a GLOBALIZAÇÃO REAL e a dispersão pelo mundo inteiro de nacionais idos ou vindos de qualquer ponto do globo. O pânico começa a instalar-se com reflexos na restauração, nos eventos sociais, na oferta e procura de bens de primeira necessidade. O mundo mascardo é mesmo obrigado a usar máscara.

Ele chegou. E chegou por mal. Sem espalhafato, sem gestos nem berros, chegou por mal. CHEGOU. VIU. VENCEU. Até ver! Há que combatê-lo, contrariá-lo, eliminá-lo. Chegou como desafio à CIÊNCIA e acordou as adormecidas correntes milenaristas, doutros tempos e de eras mortas. Há dúvidas sobre o resultado da luta.

Quem vai ganhar? É David ou é Golias?”

Face ao bom acolhimento dado a este meu texto por parte de alguns amigos meus, e na presença das medidas governamentais, mais radicais, tomadas posteriormente, obrigando o encerramento dos bares, espaços de diversão nocturna e tudo o mais propício ao ajuntamento invulgar de pessoas, volto ao tema e deixo-me voar, no disco da memória, até à costa oriental da África, nos meados do século XX, para lembrar que, nesse tempo, na bonita cidade das acácias, de planta urbana axadrezada, a “RÁDIO CLUBE DE LOURENÇO MARQUES”, como já escrevevi em 2016, numa crónica alojada no meu site, com porta aberta no mural facebookiano das “PICADAS DE TETE”, “terminava as suas emissões diárias com o TOQUE DE SILÊNCIO à meia noite em ponto, tornando assim Moçambique inteiro num autêntico quartel do Rovuma ao Maputo”. Estávamos em tempo de GUERRA COLONIAL.

Por ser assim, nós, os trabalhadores-estudantes, afastados dos campos de batalha, cumpridores das leis, éramos forçados a correr para o café-restaurante SAFARI, na Av. 24 de Julho, único estabelecimemto que se mantinha aberto até às duas da manhã. Os outros estabelecimentos similares obedeciam ao “toque de silêncio” difundido pela RÁDIO e, do mesmo modo, a vida nocturna citadina só execepcionalmente se prolongava nos bares da rua Araújo, com “portas vai-e-vem” (à maneira do Texas) onde se divertiam os marujos, prostitutas e todos os outros que, com estudos feitos ou sem eles, se interessavam mais no lazer da “boa vai ela” do que em atafulhar a cachimónia com as grandes correntes do pensamento, da LITERATURA, FILOSOFIA, CIÊNCIA, HISTÓRIA e os nomes das figuras autênticas e/ou lendárias que nesses ramos de saber e de acção se destacaram no fio do tempo.

Fui um dos que - sorte a minha - frequentando, embora, esporadicamente, esses espaços por impulsos da idade, do conhecimento e entretenimentos conexos, assisti, na banca de estudo, nas bibliotecas e arquivos, ao filme humano das diversões, batalhas, fomes, pestes e guerras. Conquistas de territórios, formação e queda de impérios. Roubos, saques, violações, escravatura dos vencidos. Impostos, rendas e foros obrigatórios. Imposição e submissão. Fortunas feitas com mercadoria humana. Desumanidade praticada por inimigos visíveis e invisíveis.

E impressionante foi ver, em tudo isso, ao longo do tempo, o papel do cavalo e armas dos cavaleiros fabricadas para matar ou derrotar os adversários. Quadrúpedes domesticados de carne e osso não passavam de cavalos pelos homens montados. Galopavam sobre montes e vales, caminhos, carreiros e atalhos. Venciam quilómetros em constante galopada. E tal foi a sua importância nessa caminhada de galope que, chegada a civilização industrial, em “cavalos” se passou a medir a potência dos motores de combustão, aqueles que, actualmente, se escondem sob o capô nos carros de alta e baixa cilindrada que rodam por tudo quanto é estrada e chão. E tambem no ar, em motores de avião. E também no mar em barcos de recreio e cruzeiro. Esses mesmos, sempre a boiar, sempre a rodar, são a “praga” moderna responsável pela emissão de gases prejudiciais ao planeta, aqueles que dão o seu quinhão ao “aquecimento global” e aos fenómenos dele resultantes, ditos “alterações climáticas”.

Não são palavras erráticas. Vem isto a propósito do momento que atravessamos, neste ano de 2020, aquele que deu início a esta minha reflexão escrita, aludindo, em primeiro lugar, à figura de César, uma figura histórica, um estratega militar ligado, imprescindivelmente, ao Império Romano, a par, naturalmente, de outros estrategas históricos. As guerras e as batalhas, perdidas ou ganhadas, nunca dispensaram estrategas. E, nesta linha de entendimento, ainda que deixe em descanso o Átila, o huno, essa “Praga de Deus”, esse “Flagelo de Deus”, assim designado por certos historiadores, não posso esquecer (e vem mesmo a calhar lembrar) a figura de Gengis Kan, cujo nascimento está “cercado de lendas sobre a vinda de um lobo cinzento que devorava toda a Terra”. Líder de mongóis, povo de exímios e temíveis cavaleiros, mesmo que a “terra devorada” sob a sua liderança fosse apenas uma parte do mundo, nesse mundo ficou a Grande Muralha da China , feito grandioso que ainda hoje espanta o estudioso, construída para suster as suas conquistas e o domínio territorial, lá para esse lado oriental.

Pois. Da China. E assim chegamos ao berçário. E não falo dessas muralhas, nem de Gengiscão, do histórico ou lendário, por via da lenda associada ao seu nascimento. Falo antes do nascimento daquele “bichinho” invisível, originário de uma populosa cidade chinesa ignorada nos mapas ocidentais. Aquele que se dispersou pelo planeta e, se não “devorou toda a Terra”, tudo alterou nela, depois de ter nascido. Semelhante não registou a HISTÓRIA em tempos idos. Nem censurados, nem lidos. Por força de tal “bichinho” até as missas foram suspensas nos templos. E até os lugares ditos santos (e são tantos), apelativos e propícios a cura de doenças por milagre são desaconselhados. Não vale apena serem procurados. Os milagres foram suspensos por decreto divino desse “bichinho” e contra ele  - o tal canalha - não há santo ou santa que valha. Estratega como César, Átila, Gengiscão, Alexandre Magno e outros que tais, aproveitou a ocasião, o mundo de feição para iniciar a batalha malfazeja de conquista, numa guerra nunca vista, nem perdida, nem ganhada.

Mundo GLOBALIZADO e sem fronteiras, por toda a gente pisado, era agora ou nunca. Saído do berçário, fugido, sabe-se lá, à vigilância de um qualquer cientista otário, sem engano e de tal sorte, pensou que todo o ser animal e humano era o correio ideal de transporte. Bastava, para tanto, entrar na bagagem de cada passageiro em viagem de negócio. E não hesitou. Sem ócio, e à sua maneira, assentou arraiais nos locais de mercado, de moda e de feira. Muita gente junta, tudo isso conveniente. Sorrateiramente, invisível, não desperdiçou tais ocasiões e aninhando-se nos pulmões de cada feirante e gente de negócios, num só instante fez pelo planeta o que não fizeram protestos e manisfestações ecologistas contra a POLUIÇÃO. Os satélites, vigilantes no espaço, longe do chão, assim o mostraram. Agiu como interruptor que desliga o motor do mundo. Adeus discotecas, adeus ginásios, adeus bares, adeus ajuntamentos de batizados e casamentos. É o retorno dos deuses Lares de antigamente. Aos deuses romanos. Cada qual no seu canto, cuidado com os beijos, as carícias e tudo o mais, que tanto é natural entre gente e animais.

Chegou, viu e venceu. Em Portugal, vindo de Milão, viajou de avião e aterrou em Felgueiras, terra de muitos Ferraris e sapatos de marca e de exportação. Instalado, não escolhe idade, nem cor, nem religião. Nem região. Espalha-se por todo o lado onde haja conversa e respiração. Onde haja resfolgar de gente. Onde calha. E tem levado a melhor neste princípio de batalha. Um virus. Um ser invisível a olho nu, veio tratar por tu SUA EXCELÊNCIA a CIÊNCIA que não encontra armas para o combater e derrotar. Assim, até ver.

Diz a sabedoria popular que “há males que vêm por bem”. Pois que seja este um deles. Que, mau grado as vidas que já ceifou, dores que causou, rotinas que alterou, afetos que obstaculizou, tenha vindo para apurar o faro dos nossos cientistas e acabar com o regabofe de HÁBITOS humanos (o hábito é a segunda natureza do homem) que, numa sociedade consumista e global têm delapidado a beleza e a riqueza da Natureza, há muitos anos. Tantos que o meu filho Valter, em idade de ESCOLA PRIMÁRIA (há quantos anos, senhores) imaginou e escreveu um texto a que deu o título “LENDA DO PLANETA TERRA”. O nosso planeta tinha sucumbido à POLUIÇÃO e a sua morte tinha virado lenda viva a vaguear pelas escolas de outros planetas do sistema solar. Dá que pensar, senhores. Dá que pensar.

E no momento que termino este apontamento (o que disse já não coisa pouca) acabo como comecei, à laia de pescadinha de rabo na boca:

Quem vai vencer: é David ou é Golias?


PROFECIA CIENT?FICA:



 https://youtu.be/6Af6b_wyiwI






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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.