Trilhos Serranos

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quinta, 12 setembro 2019 04:43

LITERATURA ORAL - ALENTEJO

Escrito por 

RECOLHA FEITA PELOS ALUNOS EM BEJA

No último apontamento com o título em epígrafe reportei-me a uma recolha feita pelos meus alunos na Escola Preparatória Mário Beirão, em Beja, nos anos letivos de 1981/1982.

 

Ana Sofia - CópiaReferi e mostrei o rosto da revista “A ESPIGA” edição escolar policopiada, onde dei conta dos alunos participantes e respetivos professores.

Publiquei as OPINIÕES de cada TURMA veiculadas pelos respetivos “delegados” em texto manuscrito. E fiz eco dos versos elaborados pela Ana Sofia Goinhas (cuja ficha escolar aqui deixo preenchida pelo seu próprio punho, princípio por mim adotado, a fim de fazer  a primeira apreciação dos alunos através da escrita ) dedicados a todos os professores da turma no ano anterior, seja em 1981. Neste ano foi minha aluna na disciplina de ESTUDOS SOCIAIS e no ano seguinte (2º) na disciplina de Portugês..eis o que escreveu em 1981:  

VERSOS DEDICADOS AOS PROFESSORES DA FURMA 1º F

Compositora: Ana Sofia Ferreira Goinhas

À Professora de Ciências5-rosto

Lá vem a professora Ofélia

Apressada e bem disposta

Com o livro de ponto e a chave

Que abre a porta.

Simples e bonita com um

Sorriso intenso

Sabendo que todos os alunos

A adoram imenso.

À professora de matemática

Lentamente desce a ladeira

Com ar de imperatriz!

Vai pensando nos alunos

Que tanto gostam de si.

Ao professor de T. Manuais

O senhor professor é um homem

Impaciente que diz:

“Não saem da aula enquanto não
Estiver tudo limpinho!”
Não se irrite! Não se irrite!

Não se irrite que fica velho

E verá o seu bigode todo empessado

Ao espelho!

Ao professor de Inglês

My teacher of  English

He  is a good man, and

He  is always happy

Some times he is angris

Withe the pepels

But  you don’t  mind

Because he’s a very nice a

...nice teacher

À professora de T. Manuais

Que barulho, que zaraga!

Mas a professora é calma

E não perde a paciéncia!

Nunca vi nada no Mundo!

Ela não se impacienta por

Por causa de um aluno.

À professora e de E. Visual

Oh! Senhora professora!

Que elegante e bem penteada

E por vezes na aula um

Pouco excitada!

Se é por nossa causa

Desculpe-nos a todos

E não nos assuste dizendo

Para o ano podem
Ter a certeza que não fico
Com esta turma hororosa
!”

À Professora de Português5-verso

Oh Senhora professora!

Até parece que tem uma

Cassete que está sempre a trabalhar

E a dizer:

“Ai! Ai! Vamos lá a calar!

Duma senhora tão bonita e com

Os olhos de safira

Até parece mentira!

Ao professor de religião

Ó senhor professor, o

Senhor andou na tropa?

Se não andou parece,

Anda sempre tão direito

E tão janota!

Ao professor de estudos sociais

Lá vai o professor Abílio

Na sua Diane todo lampeiro

Por acaso até é um professor porreiro!

Fim”

Diane - Cópia

"Porreiro”.

Ana Sofia não podia escolher um melhor adjetivo para definir o meu “perfil”, a minha maneira de ser, dentro e fora da escola.

“Porreiro” com dois “rr” de fonia áspera, raspante, rústica, rude. E que melhor podia encontrar nos arquivos um professor aos 80 anos de vida senão ver-se retratado por uma criança, sua aluna, como sendo um “professor porreiro”? Fonia rústica, rude, camponesa. Foi isso. Ligado ao campo, rude,  rústico e camponês sempre fui. Passei parte da vida a recolha da literatura oral e a queimar as pestanas sobre os manuscritos, jornais e documentos mais, investigando e divulgando a HISTÓRIA LOCAL“Porreiro”. Isso mesmo.

E como se enganam os adultos que ignoram a perspicácia das crianças. Mas “porreiro, porreiro” seria eu saber agora onde pára a Ana Sofia e dizer-lhe que, naquela sua idade infantil, ela me conhecia melhor que muitos adultos. Então e agora.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.