Não pertenço a nenhuma das "alas dos namorados" que, agarradas às suas armaduras, elmos e espadas eruditas, lutam contra ou a favor do ACORDO ORTOGRÁFICO em vigor.
Mas disse que alguns encaram a nossa Língua como um "artefato fossilizado" em vez de a encararem em "constante movimento", como nos ensina a "Pedra Filosofal" de António Gedeão. Inferindo-se, claramente, desta minha postura que admito com naturalidade a sua EVOLUÇÃO e não penso que ela se tenha tornado uma "vaca sagrada", nem atingido o grau máximo de perfeição, ponto final, parágrafo.
Afigura-se, pois, estéril, a discussão em torno de uma "COISA" que, seguramente, hoje é diferente do que foi ontem e amanhã será diferente do que é hoje, contra todos os ventos e marés trazidas pelos tempos e pelo labor de todos os BEM PENSANTES sobre a matéria. Lembro-me de ter lido algures, em livros da especialidade, que a guerra entre LINGUISTAS e GRAMÁTICOS é uma guerra sem fim. Os últimos a querê-la morta, cristalizada e os primeiros a querê-la viva, sempre a mexer.
Pois, nem de propósito, acabo de ler o artigo de "opinião" de José Ribeiro e Castro, no Publico on-lin, e dele transcrevo o excerto que se segue, sublinhando que antes da LINGUA ser NORMALIZADA pelos eruditos, REIS que sejam, ela é um instrumento usada pelo POVO e o POVO, por estas bandas, dizia QUIJÓ e CRASTO, antes das palavras, serem mudadas, para CUJÓ e CASTRO, mesmo que eu saiba que a grafia destes dois nomes, em documentos diferentes e no mesmo documento, alternaram ao longo dos tempos. Ora vejam o excerto de Ribeiro e Castro:
"Apesar de ser rei e soberano absoluto, D. Afonso II, em 27 de Junho de 1214, escreveu um texto que não é um Decreto. Ele obviamente não disse: “Decreto hoje fazer esta língua. E fica feita.” Não, D. Afonso II escreveu apenas o seu testamento; limitou-se a usar uma língua que obviamente já existia e já era usada pelo seu povo, antes de ele a usar também. O simbolismo deste momento e desse marco é que é a primeira vez que isso foi feito. Nunca antes dele, um Rei, um Estado, um soberano usara a nossa língua, escrevera oficialmente a nossa língua".
Abílio/junho/2014
NOTA: publicado no FACEBOOK na data referida e transposto hoje para aqui, por ter vindo ao capítulo MEMÓRIAS.