TRANSUMÂNCIA
Esta coisa de escrever e fazer vídeos sobre “TERRA, ANIMAIS E GENTE” não foi maleita que me deu recentemente, só porque, nos tempos que correm, anda por aí muita gente a “BERRAR” em defesa dos quadrúpedes, sejam eles domésticos ou selvagens. Pelo andar da carruagem não tarda estarei sentado com um deles à mesa da refeição, sem tugir nem mugir, sob pena de, aos olhos da comunidade, ser considerado um “australopitecos”.
Ora, como costumo estar atento aos “VALORES PERMANENTES” (nada há de permanente) e às “MODAS PASSAGEIRAS” (tudo é passageiro), mais atreito a seguir aqueles do que levar a sério estas, vem mesmo a talhe de foice trazer à luz dos dias que correm, um texto que publiquei, em 2009, no meu velho site “TRILHOS-SERRANOS”, texto que transcrevi para o novo site em 2014, donde o repesco agora para aqui, tal qual se segue.
Falo de AGRICULTURA e de PASTORÍCIA, cadeiras nucleares obrigatórias nesse curso de CAMPONÊS que nos montes ou de regresso a casa transportei, ao colo, com carinho e vaidade, os cordeirinhos e cabritinhos logo, após o seu nascimento, limpos da placenta comida pela mãe. Gostar de animais não é o mesmo que falar deles. Ser “moiral” uma vez por ano, em dia de FESTA, e deixar os restantes dias do ano por conta daqueles que, na serra e nos montes, sabem do ofício e “saboreiam” os prazeres e desprazeres da profissão. Falo dos tempos em que não havia SUBSÍDIOS ESTATAIS (E MUNICIPAIS), nem o calçado e as vestimentas impermeáveis que hoje há em cada esquina. E isto faz-me parafrasear um ditado popular, aplicando-o à PASTORÍCIA: “não há moiral que sempre dure, nem rebadão que nunca acabe”.
E facto de tanto se badalar, por cá, a TRANSUMÂNCIA, vem mesmo a talhe de foice repescar para aqui o parágrafo que figura no texto abaixo, como que um apelo à sua leitura. Pois é. Neste tempo em que se manifesta tanto interesse e cuidado com a TRANSUMÂNCIA EXTERNA, isto é, a passagem por Castro Daire, dos rebanhos oriundos das bandas da Serra da Estrela, portanto rebanhos que não eram nossos e nas nossas terras se alimentava sazonalmente, as pessoas que isso fazem, ignoram, seguramente, a TRANSUMÂNCIA INTERNA, isto é, aquela que se fazia dentro das terras concelhias, fossem os animais acompanhados dos seus pastores, ou fossem eles sozinhos, sabedores que eram dos tempos e dos pastos. Ora leiam e releiam:
“(...) Eu não tinha lido ainda o trabalho de Rui Fernandes, «tratador de lonas e bordates» de Lamego, que, no século XVI, falando das gentes e animais do Montemuro, diz que de Maio a Setembro as vacas pastam na serra e de Setembro a Maio pastam na Gândara, junto do mar, entre Aveiro e Coimbra, sendo certo que, se os donos as não acompanham «elas são já tão sentidas no tempo que se o tempo é quente muitas se vêm por si e se o tempo é frio, por si se vão”.