Em voz alta, fala sempre das peripécias vividas, umas bem sucedidas, outras falhadas - muitas, poucas ou nadas - mas fala desinibidamente. Penso ter só amigos pela maneira como se dirige às pessoas e como elas se dirigem a ele.
É o senhor ANTÓNIO FERREIRA OLIVEIRA, do Custilhão.
O ano passado, de câmara de filmar em punho, “pesquei-o” no rio Paivó, no sítio das Canelas, a montante das Poldras do Godinho, e fiz um vídeo, cuja entrevista alojei no Youtube. Bem se esforçou ele a lançar a linha, mas as “pintadinhas” não havia maneira de picarem. Nem picaram. Foi um desgosto. Dei a entrevista por terminada, despedindo-me com a conhecida frase galhofeira dita entre amigos: então o senhor António pertence ao “CLUBE DOS CAÇADORES, PESCADORES E OUTROS MENTIROSOS?» E ele, sem eu esperar, fitou-me nos olhos e acrescentou “E DOS POLÍTICOS”.
Não esperava esse acrescento. Mas ficou registado em vídeo e áudio. Vim-me embora. Deixei-o agarrado à cana, a subir o Paivó, disposto a deixar o pego das Canelas e dar às canelas rio fora à busca de melhor sorte. E facto é que noutro encontro posterior que tivemos no Café, ele disse-me que, se não deu no pego das Canelas, deu logo mais acima. Foi pena não estar lá para filmar.
E passou-se o tempo. Mas hoje mesmo, dia OITO de junho de 2019, como que esperando que eu chegasse ao Café, com a humildade, franqueza e desinibição que o caracteriza, dirigiu-se a mim, puxou de uma fotografia e disse-me: “ó senhor professor, olhe que desta vez, valia a pena que estivesse lá, ora veja”:
Uma bela truta. (ver primeira foto).Pescou-a a jusante do Poço dos Molgos, no rio Paiva. E como as coisas boas, nossas, muito nossas, merecem divulgação, aqui vai para o mundo a mais afortunada pescaria do senhor António Ferreira Oliveira, do Custilhão, dos últimos tempos, à qual juntei alguns fotogramas do vídeo que com ele fiz no rio Paivó.
Mas matutei no dito «CLUBE DE CAÇADORES, PESCADORES E OUTROS MENTIROSOS» legenda a que ele, tão simplesmente, acrescentou «E DOS POLÍTICOS».
E nesse maturar dei por mim a pensar no que já escrevi algures sobre a raridade das espécies que outrora povoavam as nossas serras e os nossos rios. Dei por mim na serra da Nave, em tempos que por lá caçava. Dei por mim no fim do dia e cinto vazio. Ao quarto domingo de caça, cinto vazio. A serra da Nave, no que toca à perdiz vermelha, foi chão que deu uvas. Estávamos em 2007. E, a este respeito, ouço o que Aquilino Ribeiro, profeticamente, escreveu em 1954, precisamente no seu livro «O Homem da Nave»:
«Nos batizados a caça fornecia o prato de resistência. Hoje é comer de ricos e há de acabar por ser iguaria de lordes e de grã-duques, como o caviar».
Está visto. Rareando a caça e com rios e ribeiros do concelho desertos de trutas, exibir um trofeu destes, em 2019, é obra.
Cá por mim já arrumei a espingarda e, na companhia de um cajado, ando por aí a usufruir as belezas das serras da Nave e do Montemuro, aquelas belezas que são eternas, aquelas que todos os anos morrem e renascem sem intervenção do homem. Procurar um sargaçal onde possa encontrar pútegas.
E faço-o no convencimento de que o clube de «CAÇADORES, PESCADORES E OUTROS MENTIROSOS» vai apear a legenda do frontespício, pois vai deixar de ter associados.
Não. Não vai. Vão ficar somente os «POLÍTICOS» como tão oportunamente lembrou o senhor António Ferreira Oliveira, do Custilhão. Diferentemente de CAÇADORES E PESCADORES, cada vez menos por falta de espécimes desportivas, eles, os POLÍTICOS, são cada vez mais a povoarem o Reino, são fauna a empestar serras, aldeias, vilas e cidades. E não se envergonham daquilo que são: MENTIROSOS E ESQUECIDOS.