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segunda, 15 abril 2019 12:03

TETE - A CANHONEIRA DO ZAMBEZE

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In “PICADAS DE TETE” em 13-04-2015

Que me lembre, todos os anos uma CANHONEIRA movida por uma máquina a vapor, força motriz transmitida à rodas munidas de palas a servir de hélices, metade dessas rodas mergulhada na água e outra metade fora dela (numas embarcações, colocadas lateralmente, noutras à ré) semelhantemente aquelas que se vêem nos filmes americanos a subir ou a descer o Mississipi, que me lembre, dizia eu, a cidade de TETE descia anualmente junto ao rio Zambeze a ver passar ou atracar a CANHONEIRA. 

Prometi contar uma "estória" ocorrida durante um evento desses e ela aqui fica, já. Nessa circunstância acorria ali toda a gente, incluindo um moço um pouco lerdo no entendimento.

Ora, quem conhece bem a cidade, quem tem presente a sua localização a beijar o rio, sabe que na outra margem, fica o Matundo. Hoje esses agregados humanos estão ligados pela ponte sobre o rio, o que permitiu o desenvolvimento que nos mostra a foto panorâmica aqui recentemente postada e comentada.

E a "estória" é que nessa altura, quem estivesse em TETE e olhasse para o Matundo, a única coisa que sobressaía na linha do horizonte, era uma torre metálica que suportava uma ventoinha cujo movimento giratório trazia à superfície da terra a água potável que abastecia o lugarejo.

E foi essa torre e essa ventoinha que prendeu o olhar e as interrogações desse rapaz lerdo de entendimento. Perguntou o que era aquilo, ali no ar, sempre a girar, sempre à roda, à maneira da ventoinha que tinha em casa.

A resposta foi-lhe dada por um dos meus companheiros, um daqueles que se divertia com todo o tipo de patifarias: "então não sabes? Aquela ventoinha é para refrescar as redondezas, é ela que amaina o calor do Matundo e de Tete. Graças àquela ventoinha é que nós podemos suportar estas temperaturas". Resposta do puto: "então devem pôr mais, pois ainda há aqui muito calor".

Lerdo no entendimento, lá no fundo, aquele rapazola, mostrou o desejo do desenvolvimento técnico e humano que permitisse uma melhor qualidade de vida às populações que ali habitavam.

Nunca me esqueci disso e quando um professor universitário, durante as aulas, disse que muitas vezes a "ciência avança apoiada em disparates", é desse disparate que me lembro ao ver agora TETE e arredores. Não puseram mais "ventoinhas" mas puseram outras coisas. Quem diria? Que será feito desse moço? E do "Bolinhas" com quem me deixai fotografar, mais o engenheiro Serejo, num momento de convívio?

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NOTA: Foto importda da Internet com uma atracagem.Esta tinha o nome «Tete».

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.