HISTÓRIA VIVA
Ontem recebi o "CAMPANIÇO", isto é, o BOLETIM MUNICIPAL da Câmara de Castro Verde, Alentejo.
Deixei aquele concelho no ano letivo de 1983/84, mas, por razões de estima e consideração, os funcionários daquele Município não viram na minha pessoa matéria descartável e (há quantos anos, senhores!) fazem-me chegar à caixa do correio, número após número, esta edição. Talvez porque, além de docente que fui na Escola Preparatória, António Francisco Colaço, tenha sido deputado da Assembleia Municipal, eleito nas listas do Partido Socialista, de cuja concelhia era Presidente.
Deve-se este apontamento ao facto de nesse boletim ter lido, na primeira página, a notícia sobre a PATINAGEM ARTISTICA, paixão da menina Cristina Rakasi, cuja foto, anexo. (Ver foto ao lado).
Isto para dizer que uma das grandes desilusões dos meus filhos, na idade da Escola Primária, quando chegaram a Castro Daire, vindos de Castro Verde, foi não encontrarem cá um ringue de PATINAGEM, tal qual havia lá, na vila que deixámos. Um espaço multiusos.
Um desconsolo. Uma desilusão. Já em Castro Verde se deslizava em patins e em Castro Daire ... só de tamancos. Passados tantos anos, podemos ver no BOLETIM MUNICIPAL daquele concelho alentejano esta GLÓRIA, esta menina, de patinagem artística, por sinal "GLÓRIA" era a marca dos patins que os meus filhos usavam. (Ver foto abaixo)
Claro que numa terra sem infraestruturas desportivas, recreativas e culturais, capazes de fixar a juventude que aspira algo mais do que o "jogo do ping-pong" e o "jogo da sueca", aqueles torneios nos quais as nossas Associações Recreativas e Culturais gastam os subsídios municipais, não me foi difícil entender que, mais cedo ou mais tarde, os meus filhos não precisariam de patins para deslizarem daqui para fora, o mais rápido possível. E deslizaram.
Não é de estranhar, portanto, que eu me tenha batido, desde há muito publicamente, pela regionalização, desconcentração, descentralização política, administrativa e cultural do país, por forma a inverter o sentido de marcha. Por forma a "dar a volta a isto" como bradei recentemente no vídeo que fiz sobre a vinda do Senhor Presidente da República a Tondela, disponível no YouTube. (VÍDEO: https://youtu.be/KKIoWvvs_5g)
Eles, os políticos, face à tragédia dos fogos do verão passado, acordaram para este Portugal periférico, abandonado, desertificado, mas há muito que, por escrito e por imagem, eu pus nisso o meu enfoque de estudo e de crítica.
Lembro, o meu trabalho de "investigação aplicada" levado a cabo em 1994/1995, durante a minha licença sabática, editado pela Câmara Municipal, com o título "Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura", objeto de laudatórias opiniões provindas de políticos, académicos e pessoas ligadas à imprensa local/regional (cf. Curriculum Vitae o "www.trilhos-serranos.pt", outra coisa não visava senão oferecer conteúdos ao poder local por forma a ele criar focos de atração e desenvolvimento, contrários os focos de repulsa tradicionais e históricos. Livro muito consultado, muito lido, mas na prática...nada.
Muitos anos depois começaram por aí a surgir, como cogumelos, instituições viradas para o DESENVOLVIMENTO LOCAL, com enfoque no TURISMO. Os seus responsáveis, lidando com fundos comunitários, encheram a boca com a potencialidades da serra do Montemuro e do rio Paiva. Apareceram as MONTANHAS MÁGICAS e um sem número de TRILHOS, disto e daquilo. Só visto. Denunciei (e mais uma vez aqui o faço) o dinheiro mal gasto nos monóculos de longo alcance, espetados como estacas de feijoeiro, por essa serra fora. Um, na encosta da Vitoreira, a mirar Castro Daire; outro no topo do monte Cimal (ambos roubados em menos de um ano); outro, no monte sobranceiro à povoação de Cetos (inutilizado por embaciamento); outro nas "Portas do Montemuro" e outro junto à Capela de Santa Helena, a ver Almofala. Sobre tais e importantes e apelativos objetos, mostrando o absurdo e o ridículo da sua implantação, fiz o vídeo com o título "CASTRO DAIRE DIÁLOGO ENTRE LENTES" alojado no Youtube (VÍDEO: https://youtu.be/lZrNJIqLQEI). Por essas e por outras é que os meus trabalhos se tornam incómodos para as luminárias que promovem programas desses. É que as portas da TROIKA tiveram lestos porteiros a abri-las, na certeza de que o «zé pagante» seria chamado a pagar os caprichos daqueles que desses programas tiravam benefícios.
Não quero desenvolver, por agora, as FESTANÇAS promovidas pelo anterior EXECUTIVO MUNICIPAL, já que, com a rede rodoviária numa lástima, não faltava "festança" onde não estivesse a tia "constança". E enganado está quem pensa que o desenvolvimento regional/local se faz com o "turismo de garrafão e sardinha assada" e com o turismo de "romarias e feiras de montanha". Mesmo assim também aqui peço meças. Mostrem-me qual o CARTAZ TURÍSTICO de Castro Daire, disponível no Youtube, mais visto do que o meu vídeo com o título "MONTEIRAS-OUVIDA".
É isso. Enquanto não atar as botas, sem patins, continuarei por cá, de chancas, de tamancos. Gostem ou não. E já nem me irritam os analfabetos que estão à frente de certas associações com provas dadas de nem uma carta saberem ler. Estão ao nível dos meus alunos do Ciclo Preparatório, no estádio de aprendizagem de quando eu falava de alhos, eles me respondiam com bugalhos.
E assim vai Castro Daire.