terça, 19 dezembro 2017 17:03
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
CONTO DE NATAL - 2017
NATAL - 2017
Foi há dois mil anos (mais dezassete) com os históricos enganos de quem se mete a saber quando Jesus veio ao mundo para o mundo mudar, para no mundo fazer jus.
Nascido numa manjedoura envolvido em palhinhas (coitadinho!) aquecido com o bafo das vaquinhas e do burrinho (uns amores!), como se não houvesse pastorinhas nos arredores, não viu Jesus uma só pastora no meio de tantos pastores.
Mal nasceu, no seu natal, logo vira um mundo desigual: reis agasalhados com mantos brocados, em seus camelos montados, carregados de ouro incenso e mirra: sinais de riqueza. E, ao lado, pastores de peles, lã e de linho vestidos, nas mãos os cajados, rotos esfarrapados: sinais de pobreza!
Não podia continuar assim o mundo. E era tempo de lhe pôr fim. Mas como fazê-lo sem guerra, se ele não era nenhum Mandela, nem nenhum Gandi, esses pacifistas do porvir? Cresceu a ouvir profetas, sábios sem letras, hábeis em enigmas, ilusionismo, magia e petas, eloquentes, a malsinar a injustiça que na terra pisavam e a bem dizer do céu estelar inatingível e justo. Sem grande custo, lição aprendida, a lidar com o compasso e o esquadro de carpintaria (aprendiz de carpinteiro era) na vida, dia após dia, fez da palavra goiva, formão ou espada e, munido de tais ferramentas e armas, concebeu um reino seu, que deste mundo não era. E por parábolas, como os profetas anteriores, dizia tudo, dizia nada, fazia sermões de montanha em montanha, de vale em vale, fazia milagres em cabanas, magia de povo em povo que ficava abismado. Com verdade, arte e manha arranjou seguidores, fez doutrina. Pôs os vendilhões fora do templo, mas de que lhe serviu o exemplo? Maldita sina. Passados dois mil anos, os vendilhões voltaram p'ra dentro e na rua (quem não vê isto?) ficaram sem abrigo esses pobres de Cristo (vejam bem o que digo) à espera das sobras que caem da mesa dos ricos que aliviam a consciência com esmolas. O mundo não mudou de rumo. E tudo quanto pregou, de pouco ou nada serviu. Muitas luzes, muitas estrelinhas, muitas cruzes, tudo, do melhor e do pior, se vende e compra nesta sociedade de consumo. E, face à realidade passada e presente, Senhor,
Publicado em
Crónicas

Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.