HISTÓRIA VIVA
Como sabem, não fui ouvido nem achado (nem tinha que ser) acerca do projeto de requalificação executado na EIRA DA FRAGA, levado a cabo, em parceria, pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal. Mas dado que foi requalificada assim, fazendo dela um espaço multiusos com bancada e tudo, por forma a ser palco de eventos culturais, como foi a recente representação do «JULGAMENTO DA ENTRADA AOS SERÕES», entendo que esse espaço poderá ser melhorado e enriquecido, tornando-o, semanticamente, representativo das mais EIRAS que, certamente, não serão requalificadas.
Eu explico melhor: nas eiras se faziam as malhadas de centeio, primeiro com manguais, depois com malhadeiras. Nas eiras se limpava o centeio com as «erguedeiras» e nelas se sentia a picada das «preganas» expulsas pelos crivos dançarinos. Nas eiras e quintãs se desfolhava o milho. Nas eiras se estendia o milho a secar, depois de debulhado. Nas eiras se estendia o linho depois de mergulhado umas semanas no rio. Nas eiras se estendia o linho para secar. Nas eiras se tascava o linho. Enfim, nas eiras a pessoas COMUNICAVAM, falavam e dançavam. Era nas EIRAS, ou, ao lado delas, que se desenrolavam os bailes ao toque das concertinas e realejos. Quer dizer, as EIRAS como espaço de trabalho que eram, eram igualmente espaços de COMUNICAÇÃO ORAL, via pela qual, de geração em geração, se transmitiam os usos, costumes, tradições, técnicas e formas de vida da aldeia e não só.
Ora, como aos meus 78 anos de idade, ainda vou tendo ideias e desejo o melhor para a minha terra natal, aqui deixo mais uma SUGESTÃO atinente a toda a FUNÇÃO e SEMÂNTICA ligadas às EIRAS, por forma a que este espaço multiusos - a EIRA DA FRAGA - seja, ele próprio palco de ARTEFACTOS tradicionais ligados às malhas, a saber: OS MANGUAIS. Eles, colocados onde sugiro (e como destaco na oval da fotomontagem na fotografia) não prejudicam, em nada, as novas funções do espaço. Antes enriquecem todo o cenário e atividade cultural que tenha ali lugar. São FERRAMENTAS que passaram à HISTÓRIA e se tornaram peças de museu.
Nestes meus desenhos de SUGESTÃO (postos em fotomontagem) só falta o ORÇAMENTO. Só faltam as medidas e a escala. Mas, vejam bem, não esqueci o material de que podem ser feitos os MANGUAIS. Por exemplo: tanto o "cabo" como o "pírtigo" e as "correias" que prendem estas duas peças podem se feitos em metal durável, tipo TUBOS inox, do género de postaletes que se veem por praças e jardins. O "plinto" lavrado em pedra, não falta quem o faça a primor, em Cujó. Estou a pensar no Pedro Costa, mas não falei com ele, nem com ninguém. O meu juízo assenta simplesmente no MÉRITO que lhe reconheço e dado que se dedica à indústria da pedra. Só isso.
E, repito, é uma SUGESTÃO. Mas se não for aceite (como não foi a que fiz em 2013) eu continuarei a ser Abílio Pereira de Carvalho e Cujó continuará a ser a minha terra natal. Se for aceite e melhorada, tanto melhor. Costuma dizer-se: «manda quem pode», mas eu acrescento, sem qualquer presunção, porque é verdade: nem sempre «quem pode e manda», sabe.