2 - No dia 14 de janeiro do corrente ano escrevi e publiquei neste espaço uma crónica em que falei do Dr. Jorge Ferreira Pinto, médico de Castro Daire, como sendo um dos últimos «João Semana» que consumiu a vida a calcorrear a serra, ainda nos tempo de carroças, burros e cavalos e bem assim do Dr. Sertório Dias que, deixando «o BEM BOM alcatifado dos grandes meios urbanos se fixaram nos MEIOS RURAIS, ajudando a manter de pé este pedaço de PORTUGAL PERIFÉRICO».
3 - Aludi ao início de carreira deste último médico que «fazendo a PERIFERIA» (1981-1982) por cá ficou, vindo, por sorte minha, a tornar-se o meu MÉDICO DE FAMÍLIA, até ao presente, sem qualquer razão de queixa da minha parte.
4 - Já lá vão muitos anos de conhecimento, de afetos e de relação entre MÉDICO/DOENTE. Escuso, de propósito, o termo UTENTE. Foi, portanto, com grande surpresa minha que, hoje mesmo, dia 12 de maio de 2017, recebi uma carta timbrada do SNS de Viseu (cujo «fac-simile» se anexa) assinada pelo senhor «Diretor Executivo, Dr. Luís Botelho» a informar-me de que «por impossibilidade do Sr. Dr. Sertório Dias dar resposta às solicitações inerentes a um ficheiro com um número tão elevado de utentes inscritos, poderá recorrer ao atendimento da UCSP de Castro Daire, com a garantia da prestação de cuidados de saúde por um novo profissional de Medicina Geral e Familiar».
5 - Assim mesmo. Este senhor «Diretor Executivo», de seu nome Luís Botelho (ou seus subordinados) pegou no ficheiro do Dr. Sertório Dias, viu NÚMEROS de utentes a mais e, como se esses números não indicassem PESSOAS, riscou-me da lista e recambiou-me, sem mais nem menos, para um «NOVO PROFISSIONAL DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR», com a «garantia de prestação de cuidados de saúde», agradecendo-me, cordialmente, a minha «compreensão». Não. Não a tem.
6 - Na crónica que escrevi em janeiro, disponível ainda neste espaço, aludi à batalha que tenho travado na imprensa e nos livros sobre a REGIONALIZAÇÃO E A DESCENTRALIZAÇÃO, hoje tão correntes nas bocas dos governantes. Estava, então, muito longe de supor que tais conceitos, ao nível dos SNS, Dão Lafões, excluíam as PESSOAS, pondo o seu enfoque racional apenas nos NÚMEROS.
7 - Entrei em contacto com o Dr. Sertório Dias, mostrando-lhe a minha estranheza, e por ele fiquei a saber que jamais, em tempo algum, ele se queixara do excesso de doentes e que, por uma questão de reorganização dos serviços, a ter de alienar alguns dos seus doentes, seriam sempre os de inscrição mais recente e nunca aqueles que ele acompanha há longos anos.
8 - Face ao que, riscado oficialmente da lista do Dr. Sertório Dias, poderei não ter quem me passe as receitas das mazelas crónicas próprias da idade e as análises necessárias, mas não sem deixar aqui escrito o meu veemente PROTESTO, enquanto PESSOA e CIDADÃO que, num ESTADO DE DIREITO, se recusa a ser simplesmente um NÚMERO a mais ou a menos.
Arriscaria dizer que, para quem assim administra o SNS, tendo a sua frente uma folha Exel cheia de quadradinhos e números, preferível é menos um do que um a mais. Pelo que, caso eu venha ser menos um, caído numa valeta por falta de medicação, a responsabilidade não morrerá solteira: aqui fica dito o nome de quem me retirou o MÉDICO DE FAMÍLIA sem qualquer queixa minha e desatenção ou falha dele.
É pois legítima a pergunta: que critério presidiu ao «varrimento» dos doentes que deixaram de integrar a lista do Dr. Sertório?
9 - Não. Não é por essa REGIONALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS que me tenho batido na vida desde que optei, tal como fizeram os médicos acima referidos, por nos fixarmos no interior e, dessa forma, ajudarmos a manter de pé este pedacinho de Portugal Periférico. Assunto que fica à consideração de quem de direito.
NOTA: A fim de constar publicamente, informo que este texto foi remetido para o seguintes endereços eletrónicos do SN de SAÚDE:
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(Viseu) e
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(Coimbra).
Nenhum dos seus responsáveis pode alegar ignorância deste PROTESTO assinado por um cidadão que, tendo os seus impostos em dia, exige do seu MÉDICO DE FAMÍLIA e dos SERVIÇOS que ele serve, o respeito que ele merece como PESSOA e não como um simples NÚMERO que se escreve ou se apaga conforme as conveniências desses mesmos SERVIÇOS.