HISTÓRIA VIVA
Na última semana do mês de abril vivi um acontecimento digno de registo ligado à EDUCAÇÃO revelada por um jovem que eu desconhecia pessoalmente.
Deu-se o caso de, involuntariamente, ele ser o responsável pelo choque dos nossos automóveis, no qual se revelou de uma EDUCAÇÃO tal que, trocadas as primeiras palavras e dada a minha irritação momentânea, eu me senti na obrigação de pedir desculpa ao jovem culpado.
Eu explico: já fiz eco público da situação depressiva em que fico nos dias que antecedem e sucedem as FESTAS ANUAIS que apelam à reunião da Família. Vem esse comportamento e sentimento de tempos antigos, para os quais nunca encontrei explicação. Creio que faz parte da minha natureza desde o desmembramento voluntário ou forçado da tribo pré-histórica.
Ora, estando eu nesse estádio de ressaca, ligada à PÁSCOA, regressava a casa, depois do almoço. A rotina diária. Pois. Só que o diabo tece-as. Subindo eu a Rua Francisco Sá Carneiro, perto da CASA DAS EIRAS, saiu da Rua Cândido dos Reis (mais conhecida pela rua do BAR ALKUNHAS) um jovem condutor que atentamente olhou para a esquerda e, descurando a direita, só deu conta de mim quando já era tarde demais. TRAMP! Bateu-me no lado esquerdo da frente, amachucou-me o para-choques, o farolim de nevoeiro dianteiro ficou a olhar de esguelha e o vidro da ótica esquerda da frente foi à vida.
Com os anos que tenho em cima, a viver o stress pós PÁSCOA, face a todas as chatices que resultam dos acidentes deste género, preenchimento de papeis, oficina, deslocações, justificações, etc. etc. saí do carro furioso e, exorbitantemente irritado, perguntei a que se devia tal desatenção, num jovem daquela idade.
O moço (ao que soube depois, casado e pai de três filhos, com o histórico nome de Nuno Gonçalves) face aos sinais evidentes da minha irritação, dirigiu-se a mim e com a maior calma do mundo, com uma EDUCAÇÃO inesperada (direi mesmo invulgar nos tempos que correm) pôs-me a mão ombro e disse-me: «tenha calma, eu sou o culpado, vamos preencher os papeis do seguro e o seu carro vai ficar consertado, novinho em folha, sem quaisquer custos para si».
Disse-me onde trabalhava e, seguro da sua palavra, não preenchemos papeis nem metemos SEGURO. Para não interrompermos a via, a meu pedido, dirigimo-nos ao seu local de trabalho e, ali chegados, apressei-me a reiterar as minhas desculpas pela irritação demonstrada anteriormente. Ele, olhar complacente, com a mesma calma e educação, assumiu mais uma vez a sua culpa, perguntou-me se eu conhecia a oficina JOSÉ CARDOSO DE OLIVEIRA, na Ouvida. Eu, complicómetro desligado, em vez de exigir que a reparação fosse feita nas oficinas da marca, e porque sim e porque torna, respondi logo afirmativamente e que confiava plenamente nos seus serviços.
Após o meu assentimento ele pegou no telemóvel e fez uma ligação para o dono e gerente dessa firma, dizendo-lhe que tinha batido no meu carro e pedia-lhe o especial favor para ele resolver o caso com urgência, pois o proprietário necessitava da viatura. Era favor atender-me logo que pudesse. Que sim senhor. Que fosse lá às 14 horas para observar os estragos e logo depois se combinaria o dia da reparação.
E assim foi. O gerente e dono da oficina, José Cardoso de Oliveira, também era um jovem, relativamente à minha idade. Recebeu-me com a educação e calma semelhantes à do seu amigo. Anotou os estragos feitos e perguntou-me se havia SEGURO metido no acidente, pois os custos eram assinaláveis. Respondi-lhe que não sabia, pois quem me bateu tinha assumido as culpas. E, face à minha resposta negativa, ele telefonou imediatamente para o seu amigo a inteirar-se da situação. A conversa foi entre eles. Depois disso, o jovem gerente pediu à sua esposa, ali presente, para anotar o que era preciso, a fim de fazer a encomenda das peças à firma da marca e modelo do meu carro. E, depois de endireitar os plásticos amassados e fixar o farolim de nevoeiro, com o carro capaz de poder voltar à estrada os dias que fossem necessários, informou-me de que, logo que as peças chegassem, entraria em contacto comigo para procedermos à reparação final. Tudo dentro dos parâmetros de uma EDUCAÇÃO e ATENÇÃO que vão sendo muito raros nos tempos que correm. Por isso, sensibilizado, faço este registo. Neste mundo cão, ainda há gente SÉRIA, gente EDUCADA e gente GENTE DE BEM. Nova e velha.
Chegadas as peças, marcado o dia da reparação, assisti a toda a operação que consistiu em retirar as peças danificadas e colocar das novas. No seguimento da pintura (que ficou perfeita) foi preciso desenroscar muitos parafusos e não menos encaixes, aqui e ali, até ficar tudo no sítio. Apreciei o trabalho feito no seu todo e, sobretudo, a experiência do senhor Fernando Ramos, de Lamego, encarregado de toda aquela difícil tarefa. Constatei que ele não andava às apalpadelas no que fazia. Sabia por onde começar e como acabar. Finalizada a reparação, satisfeito com o trabalho realizado, não fiz mais do que a minha obrigação que foi "avaliar" positivamente o desempenho do operário e do gerente, profissionais que, apesar de tudo, dispenso de ver, por longo tempo, em iguais circunstâncias.